quarta-feira, 23 de novembro de 2022

A QUEM AJUDOU A CONSTRUIR 84 SOCALCOS CONTADOS

 


Saudações, homenagens, panegíricos – em dialecto universal, parabéns – são pedras de fino jaspe que se dirigem ao vértice da pirâmide e aí ficam emoldurando a ara onde brilha o homenageado. Ou, se nos voltarmos para o rio que percorre todas as vidas, o somatório das felicitações é igual aos meandros que desaguam no oceano multicolor dos talentos, virtudes e prestígio do destinatário.

         Mas há um volume cantante de emoções e congratulações – os tais, vulgarmente ditos, parabéns – que seguem um ritmo inteiramente oposto: não desaguam na foz nem se diluem no mar, antes dirigem-se directa e ansiosamente para a montanha do Tempo  até encontrar a nascente e nela fundir-se num abraço comovente e sem termo. Estes são os parabéns, saudações e homenagens dos aniversários natalícios.

Rigorosamente, biologicamente, historicamente, embora se dirijam ao aniversariante, não se esgotam nele. Bem pelo contrário, ultrapassam-no, atravessam vales e  planícies, tantas quantas as anuidades vividas e vão prestar a grande homenagem aos progenitores do aniversariante, prioritariamente. Na travessia do rio, o volumoso cantar de parabéns cruza-se, subsidiariamente, com todos os momentos, circunstâncias e intervenientes do curso da vida do homenageado.

         Nesta breve alegoria introdutória, proponho-me cumprir o dever e o prazer de deixar nesta página a minha enorme gratidão a todas amigas e a todos os amigos que tiveram a gentileza de saudar-me nas 84 estações do meu trem existencial. Prioritariamente, ao meu Pai e à minha Mãe e, neles, a toda a árvore genealógica a que pertenço, Não fiz nada para nascer. Tão só, devo-o ao amor daquele José e daquela Maria que produziram este Júnior e, por isso mesmo, são eles os destinatários primeiros de todos os parabéns.

         Impossível citar todos quantos me ajudaram a erguer, pedra-a-pedra, os socalcos por onde circulam os meus passos. Mas guardo-os com muito afecto, entre os quais, mais de perto, todos vós que me endereçastes suplementos anímicos tão gostosos no décimo-sexto dia do mês décimo-primeiro.

Nesta tribuna de eleitos meus, não posso deixar de assinalar três presenças monumentais na Mesa Comunitária da Igreja da Ribeira Seca: o Professor Padre Anselmo Borges, vindo propositadamente de Portugal Continental, para estar connosco e dirigir-nos a sua palavra de teólogo, filósofo e amigo que, em tempos adversos, nunca abandonou o Povo de Deus, residente nesta localidade periférica. No mesmo plano de coragem e autenticidade, agradeço o contributo presencial do Padre José Luís Rodrigues, o mais lídimo exemplar da verdadeira Igreja de Cristo na Madeira, homem de causas, sem medo, solidário com a comunidade da Ribeira Seca, sempre, mas particularmente nas horas difíceis das perseguições do poder diocesano e do poder político da Ilha.

O terceiro monumento vivo, a quem devo a maior gratidão, é aquele que a lei da morte não permitiu estar fisicamente presente (bem impressiva esteve a sua efígie junto ao altar) mas garanto que enquanto houver Ribeira Seca, o seu nome e a sua personalidade serão sempre lembrados e louvados, por ter sido o primeiro – herói pioneiro – na defesa e na promoção da ruralidade local, a todos os níveis, sócio-cultural e religioso.   O meu grande amigo padre, Mário Figueira Tavares.                                      


As mais belas e sentidas palavras queria guardá-las para estas gentes da Ribeira Seca, originariamente exploradas e pobres, mas estruturalmente ricas e nobres nas suas convicções, na sua psicologia, nas suas lutas e nas suas vitórias. Não teria sentido algum celebrar 84 anos sem a sua presença e a sua alegria, decorrido que foi mais de meio século de companheirismo nas horas boas e nas horas más. Às gerações que já partiram, às de hoje, aos jovens e às crianças – o melhor que a vida tem – aos que mais se empenharam neste 16 de Novembro, aos que prestaram depoimentos, por vídeo e redes sociais,  aos grupos locais que desfilaram no palco os nossos bailados e canções, aos que ofereceram os concertos dos ‘conjuntos’, aos que prepararam as merendas abundantemente servidas a toda a multidão presente,  o meu MUITO MUITO OBRIGADO !

Em tempo: Quem passa o “Paralelo 80 do Equador”, já as festas não comovem nem se esperam. Só se as aceitam porque proporcionam a toda a comunidade episódios de saúde social, amizade vicinal, alegria global. Foi o caso, foi a festa.

 

23.Nov.22

Martins Júnior

 

             


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