Saudações,
homenagens, panegíricos – em dialecto universal, parabéns – são pedras de fino
jaspe que se dirigem ao vértice da pirâmide e aí ficam emoldurando a ara onde
brilha o homenageado. Ou, se nos voltarmos para o rio que percorre todas as
vidas, o somatório das felicitações é igual aos meandros que desaguam no oceano
multicolor dos talentos, virtudes e prestígio do destinatário.
Mas há um volume cantante de emoções e
congratulações – os tais, vulgarmente ditos, parabéns – que seguem um ritmo
inteiramente oposto: não desaguam na foz nem se diluem no mar, antes dirigem-se
directa e ansiosamente para a montanha do Tempo
até encontrar a nascente e nela fundir-se num abraço comovente e sem termo.
Estes são os parabéns, saudações e homenagens dos aniversários natalícios.
Rigorosamente,
biologicamente, historicamente, embora se dirijam ao aniversariante, não se
esgotam nele. Bem pelo contrário, ultrapassam-no, atravessam vales e planícies, tantas quantas as anuidades
vividas e vão prestar a grande homenagem aos progenitores do aniversariante,
prioritariamente. Na travessia do rio, o volumoso cantar de parabéns cruza-se,
subsidiariamente, com todos os momentos, circunstâncias e intervenientes do
curso da vida do homenageado.
Nesta breve alegoria introdutória,
proponho-me cumprir o dever e o prazer de deixar nesta página a minha enorme
gratidão a todas amigas e a todos os amigos que tiveram a gentileza de
saudar-me nas 84 estações do meu trem existencial. Prioritariamente, ao meu Pai
e à minha Mãe e, neles, a toda a árvore genealógica a que pertenço, Não fiz
nada para nascer. Tão só, devo-o ao amor daquele José e daquela Maria que
produziram este Júnior e, por isso mesmo, são eles os destinatários primeiros
de todos os parabéns.
Impossível citar todos quantos me
ajudaram a erguer, pedra-a-pedra, os socalcos por onde circulam os meus passos.
Mas guardo-os com muito afecto, entre os quais, mais de perto, todos vós que me
endereçastes suplementos anímicos tão gostosos no décimo-sexto dia do mês
décimo-primeiro.
Nesta
tribuna de eleitos meus, não posso deixar de assinalar três presenças monumentais
na Mesa Comunitária da Igreja da Ribeira Seca: o Professor Padre Anselmo
Borges, vindo propositadamente de Portugal Continental, para estar connosco e
dirigir-nos a sua palavra de teólogo, filósofo e amigo que, em tempos adversos,
nunca abandonou o Povo de Deus, residente nesta localidade periférica. No mesmo
plano de coragem e autenticidade, agradeço o contributo presencial do Padre
José Luís Rodrigues, o mais lídimo exemplar da verdadeira Igreja de Cristo na
Madeira, homem de causas, sem medo, solidário com a comunidade da Ribeira Seca,
sempre, mas particularmente nas horas difíceis das perseguições do poder
diocesano e do poder político da Ilha.
O terceiro monumento vivo, a quem devo a maior gratidão, é aquele que a lei da morte não permitiu estar fisicamente presente (bem impressiva esteve a sua efígie junto ao altar) mas garanto que enquanto houver Ribeira Seca, o seu nome e a sua personalidade serão sempre lembrados e louvados, por ter sido o primeiro – herói pioneiro – na defesa e na promoção da ruralidade local, a todos os níveis, sócio-cultural e religioso. O meu grande amigo padre, Mário Figueira Tavares.
As
mais belas e sentidas palavras queria guardá-las para estas gentes da Ribeira
Seca, originariamente exploradas e pobres, mas estruturalmente ricas e nobres
nas suas convicções, na sua psicologia, nas suas lutas e nas suas vitórias. Não
teria sentido algum celebrar 84 anos sem a sua presença e a sua alegria,
decorrido que foi mais de meio século de companheirismo nas horas boas e nas
horas más. Às gerações que já partiram, às de hoje, aos jovens e às crianças –
o melhor que a vida tem – aos que mais se empenharam neste 16 de Novembro, aos
que prestaram depoimentos, por vídeo e redes sociais, aos grupos locais que desfilaram no palco os
nossos bailados e canções, aos que ofereceram os concertos dos ‘conjuntos’, aos
que prepararam as merendas abundantemente servidas a toda a multidão presente, o meu MUITO MUITO OBRIGADO !
Em tempo:
Quem passa o “Paralelo 80 do Equador”, já as festas não comovem nem se esperam.
Só se as aceitam porque proporcionam a toda a comunidade episódios de saúde
social, amizade vicinal, alegria global. Foi o caso, foi a festa.
23.Nov.22
Martins Júnior
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