domingo, 13 de novembro de 2022

DEPRESSÃO E CURA NO INFERNO GLOBAL

                                                                                


         Tomo por mote deste nosso encontro de Domingo o alucinante pré-aviso do Secretário Geral das Nações Unidas na COP27, recentemente realizada  no Egipto: “Estamos a avançar, com o pé no acelerador, na auto-estrada que dá para o inferno”. Logo soam as irenes, todos atiram-se espavoridos à procura de um abrigo que não existe, do outro lado do mundo o atarracado coreano saca do bojo o exclusivo “pib” industrial da nação (leia-se “pirotecnia irresponsável bombista”. As multidões protestam, enfurecem-se os jovens transidos de pavor perante o futuro que os espera.

         Alguém agarra o LIVRO, abre-o, como quem devora a sede de uma esperança verde, mas depressa cai perdido em depressão, porque encontra um outro – o mesmo catastrófico – estertor  nas palavras do Mestre a amedrontar o povo seu da Galileia com ameaças de guerras, tumultos, terramotos, prisões a eito, assassinas violências familiares. Enfim, o FIM !!!

         Aqui consulta-se, em directo, o relato do Mestre, na versão do evangelista Lucas, capítulo 21, 5-19 . É um cenário recorrente na literatura bíblica, a que se junta a visão do Armagedon, em Apocalipse, capítulo 16.

Esta antecipação visionária, a que os teólogos chamam de escatológica, é uma[MV1]  proposta feita aos crentes, todos os  anos, nesta estação final do percurso litúrgico. É o fim do mundo! Tem contornos terríficos, destinados a criar uma espécie de atonia ascética tendente à conversão das consciências. Mas os biblistas encarregam-se de serenar os ânimos, informando-nos que grande parte da narrativa profética referia-se aos trágicos acontecimentos ocorridos aquando da destruição de Jerusalém no ano 70  d.C., pelo exército romano de Tito, sob o imperador Vespasiano.

 Para debelar, porém, todos os traumas com que as religiões costumam manietar a fé dos fracos crentes, adianta-se, hoje. Domingo, Paulo de Tarso numa Carta aos habitantes de Tessalónica, cujo teor é de um pragmatismo a toda a prova, quando insiste que é através do trabalho que se come o pão com tranquila dignidade – o trabalho como exigência e como prémio – estatuindo por normativo ‘constitucional’ o seguinte princípio: Quem não quer trabalhar, não tem direito a comer. (II Tess. 3,7-12).

É, sem dúvida, um decisivo antídoto contra todas as patologias religiosas, narcisistas ou classistas: a acção, o empenho decidido, numa palavra, o trabalho, na tríplice dimensão a que alude Paulo de Tarso: como direito ao salário, poder de compra de uma vida digna, saudável; como construção de uma sociedade global justa; e, finalmente, como afirmação pessoal, ao declarar publicamente que não quer ser “pesado” a ninguém, no exercício da sua missão apostólica: “Trabalho afadigadamente noite e dia com as minhas próprias mãos”. Uma confissão séria e robusta que remete para uma grande questão dos tempos de hoje: Será necessária a profissionalização do clero, dos anunciadores da ‘Boa Nova’, fomentadora do carreirismo eclesiástico e de ambições hierárquicas ?!...

Cabem ainda neste programa paulino as conferências mundiais da COP27, no Egipto, do G20, na Indonésia e sobretudo as manifestações, em todo o mundo, dos jovens contra as alterações climáticas.

Excelente Domingo este, em que, a par da depressão decorrente do desconcerto actual, é-nos oferecida a cura da acção e da resiliência promissoras de um optimismo crescente que está nas nossas mãos.

 

13.Nov.22

Martins Júnior  


 [MV1]A profética

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