Tomo por mote deste nosso encontro de
Domingo o alucinante pré-aviso do Secretário Geral das Nações Unidas na COP27,
recentemente realizada no Egipto:
“Estamos a avançar, com o pé no acelerador, na auto-estrada que dá para o
inferno”. Logo soam as irenes, todos atiram-se espavoridos à procura de um
abrigo que não existe, do outro lado do mundo o atarracado coreano saca do bojo
o exclusivo “pib” industrial da nação (leia-se “pirotecnia irresponsável
bombista”. As multidões protestam, enfurecem-se os jovens transidos de pavor
perante o futuro que os espera.
Alguém agarra o LIVRO, abre-o, como
quem devora a sede de uma esperança verde, mas depressa cai perdido em
depressão, porque encontra um outro – o mesmo catastrófico – estertor nas palavras do Mestre a amedrontar o povo seu
da Galileia com ameaças de guerras, tumultos, terramotos, prisões a eito,
assassinas violências familiares. Enfim, o FIM !!!
Aqui consulta-se, em directo, o relato
do Mestre, na versão do evangelista Lucas, capítulo 21, 5-19 . É um cenário
recorrente na literatura bíblica, a que se junta a visão do Armagedon, em
Apocalipse, capítulo 16.
Esta
antecipação visionária, a que os teólogos chamam de escatológica, é uma[MV1]
proposta feita aos crentes, todos os
anos, nesta estação final do percurso litúrgico. É o fim do mundo! Tem
contornos terríficos, destinados a criar uma espécie de atonia ascética
tendente à conversão das consciências. Mas os biblistas encarregam-se de serenar
os ânimos, informando-nos que grande parte da narrativa profética referia-se
aos trágicos acontecimentos ocorridos aquando da destruição de Jerusalém no ano
70 d.C.,
pelo exército romano de Tito, sob o imperador Vespasiano.
Para debelar, porém, todos os traumas com que
as religiões costumam manietar a fé dos fracos crentes, adianta-se, hoje.
Domingo, Paulo de Tarso numa Carta aos habitantes de Tessalónica, cujo teor é
de um pragmatismo a toda a prova, quando insiste que é através do trabalho que
se come o pão com tranquila dignidade – o trabalho como exigência e como prémio
– estatuindo por normativo ‘constitucional’ o seguinte princípio: Quem não quer trabalhar, não tem direito a
comer. (II Tess. 3,7-12).
É,
sem dúvida, um decisivo antídoto contra todas as patologias religiosas, narcisistas
ou classistas: a acção, o empenho decidido, numa palavra, o trabalho, na
tríplice dimensão a que alude Paulo de Tarso: como direito ao salário, poder de
compra de uma vida digna, saudável; como construção de uma sociedade global
justa; e, finalmente, como afirmação pessoal, ao declarar publicamente que não
quer ser “pesado” a ninguém, no exercício da sua missão apostólica: “Trabalho
afadigadamente noite e dia com as minhas próprias mãos”. Uma confissão séria e
robusta que remete para uma grande questão dos tempos de hoje: Será necessária
a profissionalização do clero, dos anunciadores da ‘Boa Nova’, fomentadora do
carreirismo eclesiástico e de ambições hierárquicas ?!...
Cabem
ainda neste programa paulino as conferências mundiais da COP27, no Egipto, do G20, na Indonésia e sobretudo as manifestações, em todo o mundo, dos jovens
contra as alterações climáticas.
Excelente
Domingo este, em que, a par da depressão decorrente do desconcerto actual,
é-nos oferecida a cura da acção e da resiliência promissoras de um optimismo
crescente que está nas nossas mãos.
13.Nov.22
Martins Júnior
[MV1]A
profética
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