sábado, 19 de novembro de 2022

O TRONO REAL versus CRUZ SACRIFICIAL

                                                                           


Embora antiquado e em vias de extinção – ou talvez por isso – o título de Rei a Igreja quis mantê-lo e até entronizou-o todos os anos, dedicando-lhe um Dia, esse sim, Ímpar, o vértice de todo o ano litúrgico, o último Domingo do Calendário Canónico.

            É hoje, o encomiástico “Domingo do Cristo-Rei”. Os templos ornamentam-se de engalanados ouropéis, os eclesiásticos revestem-se de alfaias bordadas a ponto de ouro e prata, os olorosos incensos orientais rodopiam inebriantes sobre a cabeça dos participantes presenciais ao culto dominical.

            Das reminiscências inspiradoras da Magna Festa do “Cristo-Rei” e dos monumentos espalhados pelo mundo não vou debruçar-me; apenas lembrar a pujante tradição hebraica de atribuir- ao líder do povo hebreu a tríplice prerrogativa de “Sacerdote, Profeta e Rei” E, a partir do século III da nossa era, por decreto imperial de Constantino Magno, o estatuto monárquico outorgado à Igreja, até então proscrita e perseguida pelo Império de Roma.

            De entre  todas as reflexões feitas em cada ano, desta vez vou monitorizar os dois ‘picos altos’ do devocionário oficial da instituição eclesiástica, os dois ícones que mis cativam a sensibilidade dos crentes. Um é a predominância do símbolo do sofrimento, a Cruz. O outro é a magnificência da Realeza e, mais que Realeza, autêntico Império, atribuído ao Rei-Cristo e o movimento, depois instituição que ele fundou. Não deixam de aparentar os dois títulos ou devoções uma certa contrariedade terminológica e vivencial.  Parece não coincidirem relativamente aos seus destinatários: para uns, a Cruz, o Crucificado, para outros o prestígio, o trono real.

E assim é, na realidade. Ao arvorar-se a Cruz, como caminho de salvação, propõe-se aos desfavorecidos da vida a aceitação do sacrifício, da pobreza, da resignação. Ao pregar-se, porém, o Reinado de Cristo, a sua configuração aproximativa aos reis e respectivos tronos, o destinatário é outro: a hierarquia, o poder, a supremacia dos titulares desse poder.

E por aqui me fico, deixando ao livre curso interpretativo de cada um o desenvolvimento das duas premissas mencionadas. Para ajudar, talvez convenha consultar o LIVRO, nos dois excertos propostos para este fim-de-semana: II de Samuel, 5, 1-3 e Lucas, 23, 35-43.

Aceitarão os donos do Reino a Cruzc como seu trono preferencial?..

 

19.Nov.22

Martins Júnior.

    

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