domingo, 18 de junho de 2023

NO OBSERVATÓRIO DE FIM-PRINCÍPIO DE SEMANA!

                                                                               


                A falta que me tem feito o regresso àquela hebdomadária, indefinida e indefinível estação que dá pelo repetido título de fim-de-semana! E princípio de outra. Tão estreita e tão longa, que umas vezes é oásis e remanso, outras é abismo e agitado oceano, outras ainda é voo vertical ao incógnito mundo estelar.

            Pois, é hoje que volto pela mão do, outrora, publicano, cobrador de impostos, transformado depois em comunicador fidedigno e testemunha ocular do quotidiano do seu Mestre pelos caminhos da Galileia. Digo ‘comunicador fidedigno’ porque limita-se à reportagem nua dos factos, como narrador directo, sem a preocupação de adjetivar a evidência nem sobredourar as circunstâncias.

            Convido-vos a abrir o seu LIVRO, no capítulo IX, 36-X,8.

            Jesus chama os seus Doze colaboradores, cada um por seu nome. Não consta que lhes presenteasse com um protocolo ministerial nem mesmo com os odores e unguentos dos óleos rituais inerentes ao cerimonial judaico do sacerdócio real.  Trago aqui, neste instante, as judiciosas conclusões do grande teólogo-filósofo Anselmo Borges, quando defende que Jesus, ao chamar os Doze, não lhes conferiu nem sombra daquilo que hoje se empolou sob a sacro-esotérica designação de ‘Ordenação Sacerdotal’. Chamou-os - pura e simplesmente - e apresentou-lhes ao que vinha, o seu programa, pelo qual deu a própria vida.

            Duas linhas paralelas, indissociáveis, que na letra e no espírito ganham todo o vigor das linhas vermelhas, incontornáveis:

1.     Acção social, humanitária, libertadora de inúteis traumas psíquicos, as neuroses (‘os espíritos impuros’) e das invasivas perturbações orgânicas (‘doenças, lepra, paralisia, morte’).

2.     Gratuitidade absoluta. Como que adivinhando eventuais objecções por parte dos Doze (servir gratuitamente?...) o Mestre, Pedagogo e Líder responde-lhes com um argumento de antecipação; “É assim, porque tudo isto, poderes, competências, privilégios, eu vo-los dou de graça. E se recebestes de graça, dai de  graça também”.

E sintetizou tudo no enunciado da  sua Constituição Única, Sobre--humana: “Dizei às gentes que Este é o Meu Reino e ele está perto de vós”.

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Preferiria ficar por aqui, na contemplação de um mundo em que as relações humanas fossem pautadas pelo único normativo do bem-fazer – um autêntico  global wellfare – sem a exclusiva tele--hegemonia do lucro, da exploração do homem pelo homem. Mas somos confrontados com o monstro da macroeconomia e asfixiados com os répteis da microeconomia, o reino dos olhos--por-dentes e dentes-por-olhos, dou-te se me deres, etc.,etc..

Mais doloroso será compararmos o “Reino do Nazareno” com dezassete séculos de Igreja que em cima desse Reino os homens altearam, oparam, locupletaram-se.

Tratar Deus como o banqueiro-mór, Jesus de Nazaré como o chefe dos publicanos, agiota da feira, e pôr na sua boca o que nunca ousara dizer – dou-te se me deres, concedo-te as indulgências, faço-te os favores se me pagares…velas, missas, ouro, prata, prédios, colunatas de Bernini, cúpulas, capitólios,  e quejandos – é este o propagandeado e camuflado culto Àquele que preceituou sem ambiguidades: “Recebestes de graça, dai de graça”.  Paradoxo contra-natura: “O Ofertório de todas as missas do próximo domingo chama-se dinheiro de São Pedro e deverá ser entregue no Vaticano”.

                A partir do ano 313  ergueram-se duas Igrejas no mundo cristão: a Igreja da opulência, imperial, dogmática, aquela que de perseguida passou a perseguidora. A que nada tem a ver com o seu Fundador  e, oficialmente, constitui a maioria.  A outra, a Igreja das catacumbas romanas e das catacumbas de todo o planeta, doméstica, convicta, martirizada mas de fronte erguida. Construtora da verdade, da saúde, da fraternidade. É a legítima sucedânea do  Legado evangélico, embora seja sempre a minoria no ‘ranking’ oficial eclesiástico, tal como o seu Mestre  no tempo da ditadura judaica de Jerusalém.

            Desde o século IV até ao século XXI e até sempre será assim.

            Teremos até o megalómano, milionário palco-altar da JMJ,  ao qual  Jesus, o de Mateus, certamente não subirá.

Dois caminhos: cada qual escolhe o seu. Ocorre-me a mensagem daquela canção My Way. E a pesada voz de José Régio: “Sei que não vou por aí”!

 

            17-18.Jun.23

            Martins Júnior

 

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