Passaram-se os três dias ímpares e, dentro deles, a ponte
que une um ao outro os meses do ano – de 29, 31 de maio a 1 de junho – e quem
encheu o palco das horas
ininterruptas?... A Criança, a Educação dela e a Comunidade!
Ao invés de ‘normalidade’ dos eventos que se esgotam na espuma do efémero, o
acontecimento que ocorreu no último fim-de-semana em Machico (com o modesto
título de ‘Seminário’ na forma, mas merecedor da genuína definição de ‘Simpósio’
em fundo) deixou um rasto luminoso que se projecta pelos meses e pelos anos
fora, por toda a vida, já porque a tríade ‘Criança-Educação-Comunidade’ é
indissociáveel do algoritmo existencial, já pela amplitude e proficiência com
que foram tratados os seus conteúdos.
Em breves linhas tentarei sintetizar a magnitude da
iniciativa que congregou uma mão-cheia
(uma prestimosa dezena) de docentes e promotores da Educação, a que se juntaram
os destinatários e protagonistas, as muitas
dezenas de discentes, desde a mais tenra idade que, or direito próprio,
ocuparam a ribalta privilegiada do palco, como que concretizando em música e
dança o esforço pedagógico dos seus educadores.
Nesta escala ascendente da descoberta evolutiva
da personalidade, o Pro. Doutor Mário Fortes, da Universidade da Madeira,
agitou o auditório com a ‘provocatória’ interrogação – ESTAMOS A MATAR TALENTOS? - em cuja intervenção pôs em causa a
didáctica expositiva do ensino tradicional, fechado nas quatro paredes da uma
sala e, por isso, redutora, senão mesmo castradora, dos talentos naturais e da criatividade
que toda a criança traz consigo desde o seio materno. Ao ouvir o Prof. Fortes, ocorreu-me
o código ‘vanguardista’ do nosso conterrâneo Prof. André Escórcio, no seu livro
“A ESCOLA É UMA SECA”, onde preconiza um outro, inovador e libertador, módulo
de ensino, precisamente orientado para promover o desenvolvimento das aptidões
inatas dos alunos. Neste entendimento, refere Mário Fortes, o professor deve
despir a veste de ‘Magister’ para assumir a modesta, mas nobre, missão de ‘Tutor’.
A actuação de várias turmas das Escolas
de Água de Pena, Machico e Sant’Ana e o desempenho do ‘Grupo Cordofones A Caçoar’,
de Santo António da Serra, confirmaram o espírito criativo, a graciosidade
rítmica, a leveza infantil que lhes dão ânimo e nos transmitem saúde, esperança
no futuro.
A prova real da autonomia dos
estabelecimentos escolares aliada à força afirmativa das populações ficou em
evidência plena no testemunho vivo do Pro. Doutor Bravo Nico, da Universidade
de Évora, que relatou ao ‘Seminário’ o
potencial de resiliência de um restrito aglomerado populacional alentejano –
São Miguel de Machede – desprovido, ambora, dos mais elementares equipamentos
sócio-culturais conseguiu ultrapassar barreiras, suplantar dificuldades insuperáveis
e catapultar-se até aos níveis do Ensino Superior, valorizando todos os
segmentos da actividade local, desde a literacia à informação, à economia e ao trabalho
- um programa totalizante que substitui o aleatório “eles” pelo personalizado “nós”,
ou seja, o apelo à dinâmica endémica do local em vez da mão estendida à
intervenção de terceiros alheios à comunidade.
Integrante à “Educação em Comunidade”
emerge a incontornável VIA PARA A
SUSTENTABILIDADE, focalizada neste concelho que o Mestree Marco Teless, da organização
municipal ‘Ecos Machico’, cujo objectivo consistiu em chamar a atenção das
camadas jovens para a preservação do património natural e arquitectónico do
município.
E porque, como dizia Louis Pasteur, “diante
de uma Criança sinto-me cheio de ternura por aquilo que ela é e cheio de
respeito pelo que poderá vir a ser mais tarde” – aqui ouso adicionar, cheio de espanto
e medo – o Seminário trouxe um horizonte, a um tempo, estranho e surpreendentemente inclusivo, titulado TRÉGUA: A RECLUSÃO DE OLHOS POSTOS NO FUTURO, a
cargo da Mestre Catarina Claro, da ‘instituição ‘Casa Invisível’, uma
entusiástica viagem pelos caminhos desviantes da Criança de ontem, hoje Recluso
de hoje, onde se num condenado às
prisões se descobrem talentos e anseios de uma vida nova na construção da Comunidade,
expressos naquele sentido mural, à saída da cadeia da Cancela, “Nós não somos
os nossos erros”..
No crescimento civilizacional das
nossas gentes, a Profª. Doutora Luísa Polinelli, da Universidade da Madeira, situou-se no patamar da CRIATIVIDADE E
LITERACIA MEDIÁTICA, um acurado manual de ‘Didáctica Militante’, para
escapar à pseudo-cultura da ‘informação em panados’ e ganhar a ‘capacidade de
não perder-se na navegação total, observando o ‘princípio da relevância, pelo
qual nos tornamos interacores críticos, conscientes’.. Na sua dissertação,
senti-me conduzido às fontes inspiradoras do “Prazer do Texto” ou “Pazae de Ler”,
na esteira de Roland Barthes.
Quase no vértice da evolução educativa,
os docentes participantes no evento foram brindados pela brilhante intervenção
do Prof. Doutor José António Moreira, da Universidade Aberta, que através da EDUCAÇÃO
DIGITAL PARA O EMPREENDEDORISMO provou a positividade da denominada
Inteligência Artificial, explicitou, contra os opositores publicamente declarados,
que a I.A. não má nem é boa, tudo ‘dependente do uso que dela se faz, bem como
das múltiplas redes comunicacionais hoje existentes’.
A culminar a iniciativa do Município,
a Profª Doutora Liliana Rodrigues, da Universidade da Madeira, abriu as
fronteiras da etapa maior da aprendizagem global, apresentando as linhas gerais
do Mestrado e Doutoramento que dirige na
cátdra da EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
REGIONAL, uma comunicação seguida com particular atenção pelo auditório e
digna de mais ampla apreciação neste blogue.
Ao Prof. Doutor Jacinto Jardim, da
Universidade Aberta, líder do projecto “Piratas dos Sonho” que tem dinamizado
desde o “I Seminário”, agradecem os docentes e a população de Machico o valioso
contributo que tem dado ao magno Plano de construção do Futuro, a começar pelo
berço da vida, as Crianças, “o melhor que o mundo tem”.
À Câmara Municipal os parabéns por ter
feito a opção mais alta e segura que todos os volumes de betão, qual seja a “EDUCAÇÃO
EM COMUNIDADE, POR UM NOVO COMPROMISSO EDUCATIVO”, o mais belo preâmbulo para as comemorações do
Dia Mundial da Criança na Madeira, razão pela qual decidi ocupar os três dias
ímpares na ponte pênsil que liga Maio a Junho.
29-31.Mai. 1.Jun. 23
Martins Júnior
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