sexta-feira, 2 de junho de 2023

TRÊS DIAS, TODOS OS MESES, TODA A VIDA COM A CRIANÇA PROTAGONISTA

                                                                            


    Passaram-se  os três dias ímpares e, dentro deles, a ponte que une um ao outro os meses do ano – de 29, 31 de maio a 1 de junho – e quem encheu o palco  das horas ininterruptas?... A Criança, a Educação dela e a Comunidade!

          Ao invés de ‘normalidade’ dos eventos  que se esgotam na espuma do efémero, o acontecimento que ocorreu no último fim-de-semana em Machico (com o modesto título de ‘Seminário’ na forma, mas merecedor da genuína definição de ‘Simpósio’ em fundo) deixou um rasto luminoso que se projecta pelos meses e pelos anos fora, por toda a vida, já porque a tríade ‘Criança-Educação-Comunidade’ é indissociáveel do algoritmo existencial, já pela amplitude e proficiência com que foram tratados os seus conteúdos.

          Em breves linhas tentarei sintetizar a magnitude da iniciativa que congregou  uma mão-cheia (uma prestimosa dezena) de docentes e promotores da Educação, a que se juntaram  os destinatários e protagonistas, as muitas dezenas de discentes, desde a mais tenra idade que, or direito próprio, ocuparam a ribalta privilegiada do palco, como que concretizando em música e dança o esforço pedagógico dos seus educadores.

          Nesta escala ascendente da descoberta evolutiva da personalidade, o Pro. Doutor Mário Fortes, da Universidade da Madeira, agitou o auditório com a ‘provocatória’ interrogação  ESTAMOS A MATAR TALENTOS? -  em cuja intervenção pôs em causa a didáctica expositiva do ensino tradicional, fechado nas quatro paredes da uma sala e, por isso, redutora, senão mesmo castradora, dos talentos naturais e da criatividade que toda a criança traz consigo desde o seio materno. Ao ouvir o Prof. Fortes, ocorreu-me o código ‘vanguardista’ do nosso conterrâneo Prof. André Escórcio, no seu livro “A ESCOLA É UMA SECA”, onde preconiza um outro, inovador e libertador, módulo de ensino, precisamente orientado para promover o desenvolvimento das aptidões inatas dos alunos. Neste entendimento, refere Mário Fortes, o professor deve despir a veste de ‘Magister’ para assumir a modesta, mas nobre, missão de ‘Tutor’.

          A actuação de várias turmas das Escolas de Água de Pena, Machico e Sant’Ana e o desempenho do ‘Grupo Cordofones A Caçoar’, de Santo António da Serra, confirmaram o espírito criativo, a graciosidade rítmica, a leveza infantil que lhes dão ânimo e nos transmitem saúde, esperança no futuro.

          A prova real da autonomia dos estabelecimentos escolares aliada à força afirmativa das populações ficou em evidência plena no testemunho vivo do Pro. Doutor Bravo Nico, da Universidade de Évora, que relatou ao ‘Seminário’  o potencial de resiliência de um restrito aglomerado populacional alentejano – São Miguel de Machede – desprovido, ambora, dos mais elementares equipamentos sócio-culturais conseguiu ultrapassar barreiras, suplantar dificuldades insuperáveis e catapultar-se até aos níveis do Ensino Superior, valorizando todos os segmentos da actividade local, desde a literacia à informação, à economia e ao trabalho - um programa totalizante que substitui o aleatório “eles” pelo personalizado “nós”, ou seja, o apelo à dinâmica endémica do local em vez da mão estendida à intervenção de terceiros alheios à comunidade.

          Integrante à “Educação em Comunidade” emerge  a incontornável VIA PARA A SUSTENTABILIDADE, focalizada neste concelho que o Mestree Marco Teless, da organização municipal ‘Ecos Machico’, cujo objectivo consistiu em chamar a atenção das camadas jovens para a preservação do património natural e arquitectónico do município.

          E porque, como dizia Louis Pasteur, “diante de uma Criança sinto-me cheio de ternura por aquilo que ela é e cheio de respeito pelo que poderá vir a ser mais tarde” – aqui ouso adicionar, cheio de espanto e medo – o Seminário trouxe um horizonte, a um tempo, estranho e  surpreendentemente inclusivo, titulado TRÉGUA:  A RECLUSÃO DE OLHOS POSTOS NO FUTURO, a cargo da Mestre Catarina Claro, da ‘instituição ‘Casa Invisível’, uma entusiástica viagem pelos caminhos desviantes da Criança de ontem, hoje Recluso de hoje, onde se  num condenado às prisões se descobrem talentos e anseios de uma vida nova na construção da Comunidade, expressos naquele sentido mural, à saída da cadeia da Cancela, “Nós não somos os nossos erros”..

          No crescimento civilizacional das nossas gentes, a Profª. Doutora Luísa Polinelli, da Universidade da Madeira,  situou-se no patamar da CRIATIVIDADE E LITERACIA MEDIÁTICA, um acurado manual de ‘Didáctica Militante’, para escapar à pseudo-cultura da ‘informação em panados’ e ganhar a ‘capacidade de não perder-se na navegação total, observando o ‘princípio da relevância, pelo qual nos tornamos interacores críticos, conscientes’.. Na sua dissertação, senti-me conduzido às fontes inspiradoras do “Prazer do Texto” ou “Pazae de Ler”, na esteira de Roland Barthes.

          Quase no vértice da evolução educativa, os docentes participantes no evento foram brindados pela brilhante intervenção do Prof. Doutor José António Moreira, da Universidade Aberta, que através da EDUCAÇÃO DIGITAL PARA O EMPREENDEDORISMO provou a positividade da denominada Inteligência Artificial, explicitou, contra os opositores publicamente declarados, que a I.A. não má nem é boa, tudo ‘dependente do uso que dela se faz, bem como das múltiplas redes comunicacionais hoje existentes’.

          A culminar a iniciativa do Município, a Profª Doutora Liliana Rodrigues, da Universidade da Madeira, abriu as fronteiras da etapa maior da aprendizagem global, apresentando as linhas gerais do Mestrado e Doutoramento que dirige  na cátdra da  EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL, uma comunicação seguida com particular atenção pelo auditório e digna de mais ampla apreciação neste blogue.

          Ao Prof. Doutor Jacinto Jardim, da Universidade Aberta, líder do projecto “Piratas dos Sonho” que tem dinamizado desde o “I Seminário”, agradecem os docentes e a população de Machico o valioso contributo que tem dado ao magno Plano de construção do Futuro, a começar pelo berço da vida, as Crianças, “o melhor que o mundo tem”.

          À Câmara Municipal os parabéns por ter feito a opção mais alta e segura que todos os volumes de betão, qual seja a “EDUCAÇÃO EM COMUNIDADE, POR UM NOVO COMPROMISSO EDUCATIVO”,  o mais belo preâmbulo para as comemorações do Dia Mundial da Criança na Madeira, razão pela qual decidi ocupar os três dias ímpares na ponte pênsil que liga Maio a Junho.

         

          29-31.Mai. 1.Jun. 23

          Martins Júnior

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