Bendigam ao Senhor as nuvens supremas
que desceram aos telhados dos homens para mostrar quão distantes e estranhos
são os que vivem tão perto
Bendigam ao Senhor os regatos, regatinhos anónimos
das montanhas, cada qual cascalhando um ao outro: “Hoje, ninguém me cala,
Ninguém me cala”
Bendigam ao Senhor as águas
furibundas dos altos penhascos, gritando de socalco em socalco: “Afastem-se, Não
paramos, Não paramos”
Bendigam ao Senhor os ribeiros e
ribeiras que se vêem livres de destroços, cacos, dejectos, indesejados
inquilinos dos seus aquáticos alojamentos: “Adeus, mundo cruel”
Bendigam ao Senhor as cerejeiras
em flor (e sem flor) que foram poupadas às mãos dos predadores profissionais e deram
aos governos o o altar das misericórdias e o bodo aos pobres cerejíferos
Bendigam ao Senhor os “estatísticos
oficiais” que tiveram uma oportunidade soberana de demostrar o ‘boom’ turístico
com os hotéis cheios, o aeroporto cheio a abarrotar, as noites cheias, os milhares de amantes da ilha, ansiosos por sair
dela e nunca mais voltar
Bendigam ao Senhor os ‘altaneiros’
do Funchal que levaram aos calados e opados ‘baixistas’ da cidade a notícia que
há gente a viver insegura, esquecida lá por cima
Bendigam ao Senhor os radares,
câmaras, microfones, teclas de reportagem que ‘comemoraram’ o Dia do Ambiente
sentados em estúdio à espera dos engomadinhos entrevistados da capital e provaram
que a Madeira é o Funchal e o resto é paisagem.
Mas…
Maldigam ao Senhor as fozes das
ribeiras condenadas a entupir com as fezes do planeta ilhéu
Maldigam ao Senhor as vagas
marinhas que têm de engolir as carcaças da terra vizinha para depois vomitá-las
e devolvê-las à procedência…
Enfim, bendigam, maldigam ao Senhor
Eolo, ao Senhor Neptuno, ao Senhor Júpiter…
Em DIA MUNDIAL DO AMBIENTE!
05-06.Jun.23
Martins Júnior
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