Que força a deste Homem!
De manhã à noite, numa azáfama ininterrupta, mais do que permite a sua idade,
teve hoje entre os ‘audientes’ no Vaticano, a presença do Presidente do
Primeiro Órgão de Soberania Regional, assessorado pelo Cardeal da Santa Sé, nosso
conterrâneo.
É da mais elementar praxe diplomática a troca de galhardetes, algumas das quais talvez indesejáveis - e até incompatíveis, dada a endémica sacralidade do lugar - mas o Chefe de Estado do Vaticano não pode furtar-se ao princípio regimental expresso na fórmula francesa do Noblesse Oblige. Convém a todos os actores em cena este teatro de nobreza mundana, mais ainda na proximidade das JMJ, como se viu com o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa na sua visita Ad Limina, leia-se, ao Supremo Magistrado da Santa-Sé, por mais híbrida que seja esta designação. Se o Edil lisboeta teve direito a tão publicitada ‘ascensão’ sacro-romana, por que não teria o mesmo privilégio o Presidente da nossa Assembleia Legislativa Regional ?!...
Certamente, o próximo anfitrião da capital portuguesa não
levou ao Papa o GPS das esplanadas e vielas da sua cidade, não fosse o
octogenário viajante perder-se por aí. Pela mesma estimativa, o nosso
Presidente não terá ido prevenir Francisco dos perigos iminentes das nossas
levadas, caso incluísse no seu roteiro um desvio pela Madeira. Outros voos, porém,
de sofisticada projecção, terão dado asas aos pés de tão devotos peregrinos.
Quem sabe se, na manga, haverá um encoberto segredo da tal visita papal à Região?...
Seja o quê, o como e o porquê da viagem a Roma, o mais
original foi o encontro dos nossos dois conterrâneos – o político e o hierarca –
e sobretudo o discurso declarativo que ambos debitaram urbi et orbi: o
Cardeal fez dos governantes – os políticos e líderes – os destinatários da sua
exortação, convocando-os para o seu estatuto funcional de semeadores da
Esperança. Por sua vez, o Presidente parlamentar entendeu dirigir-se aos
católicos e ao exercício da fé dos crentes.
Esta, sim, a mais deliciosa troca de galhardetes temáticos,
uma transacção bizarra em que um optou por entrar na seara do outro, esperando
colher mais fartos nutrientes, fruto deste artificioso enxerto. Aliás, nada de
estranho aos madeirenses; antes, pelo contrário, até parece produto made in
Madeira. Se alguém não se lembra do caso, lembro-me eu de uma bem
propagandeada campanha eleitoral em que o candidato presidente mandava rezar e
o bispo diocesano mandava votar. Não é novela, são factos, com nomes, lugares e
datas.
Originalidades da nossa madeirensidade!
Mais espectacular e, talvez, de enorme alcance no mercado
do turismo religioso foi a oferta de um jogo de paramentos litúrgicos ao Santo
Padre, no belo estilo do bordado Madeira. Deste singular evento ocupar-me-ei em
próximos blogues.
29.Jun.23
Martins Júnior
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