Porque hoje é domingo, mas sem pretensão de pregar nem aos homens nem aos peixes, proponho aos meus amigos a partilha do texto evangélico que neste mesmo dia é lido aos seguidores cristãos ou não. Trata-se de uma procura intemerata e consequente do exacto perfil de J:Cristo e do seu programa, como tenho tentado fazer nos últimos domingos. Porque do Grande Mestre conhecemos pouco: as aparências, os actos de fé, o desnudo derrotado na cruz, o misericordioso, o protector, o milagreiro, e afins..
Hoje o cenário leva-nos mais longe e ajuda-nos a entrever a Sua vigorosa personalidade face aos poderes e às classes dominantes. E aqui o âmago da questão encontra-se mais no preâmbulo e nos bastidores do que na conclusão ou nas respostas finais. O caso bem poderia passar-se aqui e agora, quando o mesmo pretexto --- o fisco --- aperta o cidadão.
Tratava-se, então, de caçar J:Cristo, liquidá-lo, não abertamente (porque os maiores temiam outro mais alto poder, o Povo, que nutria uma apaixonada simpatia pelo seu Defensor) caçá-lo, sim, nalguma afirmação, mesmo que descontextualizada, contra o poder político, o Imperador de Roma. E juntaram-se em assembleia, fariseus, herodianos, os líderes das diferentes correntes político-religiosas de Israel, a que não eram estranhos os Sumos-Sacerdotes. Após várias propostas, congeminaram uma armadilha, em tudo semelhante à Pide fascista: “Vamos entalá-lo com uma pergunta rasteira, “estás de acordo com os impostos com que o Imperador está a massacrar a nossa gente?” Questão fatal, letal como o veneno, porque incitar ao não pagamento de impostos constituía matéria criminal agravada e duramente punida pelo poder judicial, o Sinédrio. Mas, por outro lado, se a resposta fosse afirmativa, logo o Advogado dos pobres teria contra si a multidão das massas esmagadas pelas repetidas alcavalas das Finanças Romanas. Para melhor compreensão do caso, falta citar Albert Nolan:”O Sumo-Sacerdote era nomeado pelos Romanos. Era-lhe permitido exercer autoridade e participar na administração do país. Até as suas funções religiosas eram controladas pelos Romanos que tinham as suas vestes sagradas à sua guarda. O Sumo-Sacerdote e associados estavam, portanto, profundamente envolvidos naquilo a que poderíamos chamar política ou assuntos de Estado, sendo totalmente dependentes dos Romanos”. Está assim desenhado o quadro de uma estratégia requintadamente pidesca, até pela tática felina, pastosa, de montar a cilada: “Mestre, todos sabemos quanto és sincero e frontal, seja qual for a categoria das pessoas…”
É nestes bastidores e neste preâmbulo que vejo o núcleo de todo o texto. Quanto ao mais, admira-se a super-inteligência do Interlocutor que os tratou, sem rodeios, de falsários, hipócritas, pois bem sabia que eram eles os primeiros a fugir aos impostos, eram eles os intermediários exploradores da pobreza alheia. Por isso que a resposta habilidosa de J:Cristo, “entregai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” foi o argumento mais simplista e certeiro à cegueira fanática, mas saloia, dos conspiradores.
Concluindo e guardando: Todos os que trazem na alma e nas mãos o sonho de J:Cristo ou de Luther King, entre outros --- a libertação do Ser Humano --- hão-de confrontar-se, umas vezes com o fogo cruzado, outras com o “fogo amigo”, essa peçonha rançosa dos detractores, dos modernos pides, albergados nas teias do poder ou embuçados nas sotainas das igrejas. Diga-o Francisco Papa e veja-se a matilha de que ele, como J:Cristo, tem sabido inteligentemente libertar-se!
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