Andou todo o Portugal debruçado sobre as Primárias no PS e seus
reflexos imediatos. E aqui na Madeira,
poucos ter-se-ão lembrado, anteontem, ,do 1º aniversário sobre esse tsunami
exaltante que foi a conquista de sete municípios ao monopólio hereditário do
PSD/M. Nessa altura, escrevi a Saudação que agora transcrevo na íntegra, por
considerá-la tão actual como no ano transacto. Para que os então eleitos
nas Assembleias, Câmaras e Juntas não
esqueçam que os três anos que faltam
passarão mais fugazes que o primeiro e deles prestarão contas aos seus
eleitores.
Aproveitarei, de futuro, este espaço para comunicar com os meus amigos
e levar ao conhecimento público textos da minha autoria.
SAUDAÇÃO ÀS SETE AUTARQUIAS
E SEUS CORAJOSOS AUTARCAS
Escrevo para vós, que sois jovens, na idade e no ofício.
Escrevo agora que iniciastes um Dia Novo!
Na qualidade de cidadão e
veterano de lutas antigas, de vitórias e derrotas que são as pedras da
calçada de todo o lutador, quero fazer meu o abraço de toda a Madeira Jovem,
que vós incarnastes, toda vestida de
alvorada, livre na pele e no coração dos
farrapos desse estigma ---Madeira Velha,
Madeira Nova --- que, durante quase quatro décadas, intoxicou até à exaustão o corpo e a alma dos
madeirenses. Envolvo também neste abraço outras gerações que, antes e depois de
Abril, estiveram na vanguarda desse sonho, mas não tiveram a dita, como nós, de vê-lo e senti-lo.
Sois vós, Madeira Jovem, os promotores
e ao mesmo tempo os procuradores desse direito intergeracional que é o de
preparar o Arquipélago do Futuro onde quereis e tereis de viver.
A conquista, ora alcançada, dos postos
de comando e dos centros de decisão ultrapassa o 29 setembrista ou o quadriénio
do mandato que vos foi confiado. Vai muito além e atinge o horizonte de uma outra
vida, outra paisagem física, ambiental, humana. Numa palavra, o vosso mandato
aponta para uma Nova Ordem Regional.
Por isso, mais que a derrota do velho
regime, importa relevar e interiorizar a chama viva que o Povo vos confiou na
maratona olímpica que agora começa. É preciso apagar o rasto viscoso que outros
deixaram e, como diria Antero de Quental, “lançar o arco de uma nova ponte”.
Vede, pois, na cadeira do poder em que tomais assento,
não o porto de chegada mas o cais da partida.
O Setestrelo vitorioso do poder local
na Madeira e Porto Santo não poderá trair quem primeiro o acendeu: os vossos
constituintes, o Povo Eleitor. Como num grito do Ipiranga, fez-se a Primavera
Madeira. Não a deixeis resvalar para uma qualquer Primavera Árabe, seja nas candidaturas de
Partido, seja nas candidaturas de Coligação, sabendo sempre que o vosso sucesso
é o sucesso de toda a população, mesmo daquela que não votou na Mudança. E, da
mesma forma, o vosso falhanço sê-lo-á o de toda a população , será o retorno
aos muros da vergonha, da ditadura e do medo que acabais de derrubar.
Estais agora sob os holofotes de toda a
gente, milhares de olhares estão a contemplar-vos aqui, no Portugal Insular, no
Portugal Continental e até no estrangeiro entre a diáspora madeirense que
desejou e acompanhou ansiosamente esta vitória.
Termino a minha saudação
com dois apelos, nascidos de muitos anos de veterania solidária:
PRIMEIRO:
Se é altíssima a soberania nacional e
alta a autonomia regional, não menos alta e nobre é a autonomia do poder local.
Este deverá ser sempre o fio de prumo de
todas as vossas decisões. Consegui-lo-eis instaurando, mais que a democracia
representativa, uma outra maior, a democracia participativa, em que o Povo
ocupe a centralidade na mesa das vossas decisões e no chão do vosso território.
SEGUNDO:
No mesmo tom da canção de Sérgio
Godinho, que a toda a hora ouvia esta frase batida “hoje é o primeiro dia do
resto da tua vida”, assim também, desde o instante da tomada de posse, ressoe
no vosso sentir e no vosso agir este pregão: “Lembra-te que hoje é o primeiro
dia do resto do teu mandato”. Quatro anos passam-se mais depressa que a névoa
da tarde. E o que é preciso é que, ao
fim deles, renasça outra vez convosco a manhã da
Primavera Madeira!
Machico, 1 de Outubro de 2013
Boa
sorte e um abraço
Martins Júnior
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