No Dia do Exército em
Machico
“CONTRA OS CANHÕES – MARCHAR”
Tocou-me muito de perto a comemoração do Dia do Exército, este ano
realizado em Machico, deixando-me
intensamente dividido em dois sentidos opostos: Primeiro, a inspiradora mensagem do concerto da Banda
Militar, em coordenação com elementos da Escola das Artes e o Grupo Coral de
Machico. O Segundo, como é da praxe, a amostra exibicionista das armas de
guerra no anfiteatro da baía de Tristão Vaz. Recordado da trágica vivência da
guerra colonial em Cabo Delgado, Moçambique, aqui deixo a expressão desta
emotiva contradição.
Frente a frente
Corpo a corpo
Criados no mesmo ventre
Vestidos da mesma pele:
Um,
Nado-morto
Monstro procriador de
monstros!
O outro,
Seiva-fogo intemporal
Orgasmo fecundante e ode
triunfal
No canteiro-partitura
Que abraça o perto e a
lonjura!
Lado a lado
A mão terna de acordes e
cantatas…
E as satânicas unhas
com que a ferro matas…
Metais de sol sonoro
Rasgando o meio dia…
E abutres
Abrindo covais na terra fria…
Contradição tamanha
Nos joelhos da baía
Regaço da mesma mãe!
Tirem daqui essa tralha
metralha
Porque mais bela e outra
É a nossa batalha
Enfardem esses tóxicos lixos
Não poluam esta terra
Levem-nos para os bunkers
Dos offshores corruptos
Façam lá a sua guerra
Que se auto-destruam
Palácios e redutos
Onde sádicos armazenais
Rios do sangue inocente
Com que vos embebedais
Fora com o deus dos exércitos
Mais o exército dos deuses
Que misturam missas e mísseis
Hóstias e munições
Bazucas e bentos guiões
Oh se pesásseis e vísseis
Aqui em qualquer país
Quantas bocas infantis
Ficam sem leite e sem pão
Para gerar um morteiro
E quantos quer um canhão
Quantos corpos quantas almas
Para portar-se canhão
Ainda trago
O cheiro e o travo
Nesta palma da mão
Que ajudou
A levantá-los do chão
Meus amigos do peito
Camaradas de caixão
Que a madrasta nação
Em terra alheia esquecidos
Enjeitou e sepultou
Não conheci outras
Senão
Armas assassinas
Contra gentes indefesas
Em suas pobres palhotas
Carentes de amor e pão
Por isso
Flautas trombones trompetes
Mais alto soai
Tambores, já, convocai
De norte a sul todo o povo
“Levantai hoje de novo”
O esplendor da Esperança
Sejam sempre as vossas armas
Partituras de Bizet
Allegros adágios crescendos
Alma e fé
Na baía de Tristão
Lutando sempre de pé!
(Fotos retiradas do Facebook oficial da Câmara Municipal de Machico)
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