Ninguém, nem nenhum acontecimento, por mais sobredourado que
se apresente --- seja a baixa do preço do petróleo, seja o triunfo de Ronaldo,
seja mesmo a corajosa visita de
Francisco Papa ao continente asiático --- nada conseguirá anestesiar o
estremeção do “11-Setembro francês”, em 7 de Janeiro, a que o Le Monde, na sua edição de hoje, encimou com esta manchete: “Cétait Le
11-Janvier” (era, seria no 11 de Janeiro) , fatídico numerário que tem
amortalhado a humanidade em vários países. Impossível ficar sossegado em cima
deste vulcão de múltiplas crateras.
Mais do que vociferações contra a “guerra santa”, mais do que
dentes afiados prontos a devorar, mais do que milhões de manifestantes, o
momento é de reflexiva descoberta de todo o tipo de minas e granadas
subtilmente armadilhadas --- e tantas vezes consentidas, provocadas por aqueles
que as fabricam nos paiós das próprias nações que dirigem --- e que desfilaram
garbosamente em Paris, numa prova de emoção gregária, ao ponto de um jornalista
da casa ter gritado: ”Eu vos vomito a
vós que empunhais “Je suis Charlie”!
O CASO É SÉRIO DEMAIS!
Recuso-me à ingénua interpretação que o ataque ao “Hebdo”
tenha sido apenas um puro acto de
fanático desagravo à religião muçulmana.
Confesso que a minha cabeça tem-se tornado, nestes dias, um traumático
caldeirão de ideias, conceitos e preconceitos, que me levam a sorver tudo
quanto os analistas locais, nacionais e estrangeiros vertem sobre tamanha
tragédia, não só pelo número das
vítimas, mas sobretudo pelo síndroma que encerra esta operação tremendamente
cirúrgica.
Cada um de nós, por acção, omissão ou indiferença, está
metido num dos lados da barricada. É o que procurarei desvendar proximamente e
a que o esclarecedor debate ontem realizado no programa televisivo “Prós & Contras” lançou algumas pistas. Ou me
engano, ou começa a desenhar-se sobre os escombros o parto de um outro mundo, onde, entre
décadas ou séculos até, se descubra a nova terra construída na educação
e no respeito universais.
13.Jan.2015
Martins Júnior
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