Hoje saio à rua, prosaico e directo,
despido de abafos, mesmo com estes doze graus celsius, para constatar que quem vive adormecido, pior
se for “à sombra da bananeira”, só
acorda se lhe
tocar algum tsunami
distante. Refiro-me ao
concerto mundial de
protestos e imprecações
que provocou o ataque
assassino ao “Charlie Hebdo”, em Paris. E entre
mortos e feridos, toda a
gente entrou em
sobressalto com os
destroços daquilo que
enche os lençóis de jornais e
os meios audiovisuais: a Liberdade
de Imprensa. A Madeira do crude e das aluviões não foi
excepção: também acordou. E vai daí, iça
a bandeira e lá
vai, mar alto, discutir na “capital do Império” a liberdade de imprensa da e
na Madeira. É
uma coisa assim parecida como quem
perde uma agulha
num palheiro em Santana
e vai procurá-la num
hotel de Lisboa.
Achei
peregrina e missionária esta iluminação de
levar à diáspora madeirense o nosso
“estado da nação” e, ainda por
cima, quando concebida por
agentes responsáveis da informação na ilha. Isto
traz-me à memória a
intervenção que fiz em
1985 na Assembleia Regional
a propósito dos atentados
do governo regional contra uma
propriedade, pertença de uma
comunidade em Machico,
os quais foram largamente difundidos na
imprensa nacional e
praticamente silenciados na Madeira: “Será
que voltámos ao tempo
do salazarismo, em que
para sabermos notícias
de Portugal, tínhamos
de ler os jornais estrangeiros ?”.
E nós, por cá, tudo
bem !
Se
os directores e os
correspondentes entendem engalanar
as suas edições garrafais a
favor dos apaniguados
e esconder ou baralhar
propositadamente as iniciativas de quem
é “persona non
grata” ao decisor-censor, tudo bem! Quando, aereamente
sentado ao microfone, o
“radialista” madrugador anuncia
para esse mesmo dia
uma iniciativa que
já tinha ocorrido
três dias antes, tanto
melhor! E se um
jornalista de televisão faz a
reportagem, entrevista os
promotores, monta a
peça e, ao depois, o decisor-censor fecha-a
“a cadeado” na
gaveta do seu
amurado directório, então
óptimo!
Terão
certos e determinados moderadores
e doutos prelectores da ilha manifestado à “diáspora” em Lisboa estas poéticas liberdades de expressão --- vista, falada
ou escrita --- de que também
têm sido cúmplices,
embora vítimas do
medo hereditário do
regime insular? Não sei.
Só falo daquilo que vi, vejo e sei. “O que é
que quer que lhe diga?...
Isto é o
meu ganha-pão” --- foi com imensa mágoa
e não menos compreensão
que recebi a
justificação de um
profissional da informação
face a
uma legítima observação
crítica da minha parte. Há muitos
anos!
Já nem falo desse parto incestuoso
dos dois poderes, o eclesiástico e o político, e que eu classifico como o
“cardápio dos mortos”, onde o Paço Episcopal
(aqui tenho de fazer censura ao verbo mais adequado que me apetece
aplicar) se deixa mascarrar e manietar
pela Quinta Vigia. Ainda assim, reconheço-lhe o papel de idiota útil para
obrigar a que o “colega” rival lhe faça alguma diferença e não se contaminem os
dois com a tinta da mesma rotativa em que ambos são impressos.
Quantos e tantos madeirenses
gostariam de ver e participar no mesmo debate, mas aqui na ilha, como aquele
que supostamente foi levado ontem e hoje à “diáspora” madeirense sediada em
Lisboa!
Enquanto isso, foi-nos dada a tribuna
das redes sociais que, apesar e descontados os excessos sem cotação, nos
permitem alcançar uma parcela, ao menos, de um pensamento livre.
Ouvi dizer que, em breve, um punhado
de corajosos madeirenses (alguns deles, por serem os melhores e mais honestos
jornalistas, foram “aumentados” e despedidos) abrir-nos-ão em edição “on
line” o palco aberto onde se respire o
ar puro da Liberdade de Expressão!
Daqui lhes envio o abraço de feliz
sucesso na Ilha do Medo e da
Mordaça.
29.Jan.2015
Martins Júnior
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