É um privilégio e grande sorte
alcançar a síntese de saberes, confrontá-los e unificá-los, enfim, realizar a
verdadeira “universitas” do conhecimento
que cria aquilo que se chama sabedoria. E tanto melhor quando nos é dado viver
a simultaneidade dos acontecimentos, cuja coincidência nos faz penetrar no
âmago das ideias e da história.
Serve esta brevíssima introdução para
vermos de cima a paisagem que presentemente nos comprime, a nível europeu e a
nível mundial: as trágicas atrocidades cometidas em Paris. E as que se
cometeram na noite de 24 de Agosto de 1572, mais conhecidas pela “matança de
São Bartolomeu”, com epicentro em Paris.
Quais as coincidências?
Primeira: A
Religião ou, mais precisamente, as religiões.
Segunda: O
oitavário para a Unidade das Igrejas Cristãs.
Terceira: As
religiões – reféns do poder e do capital.
Quarta: São as
religiões que atrapalham e estragam a Religião.
Quanto à primeira, abra-se qualquer compêndio da História da Igreja (da
minha parte vou circunscrever-me ao II volume que estudei no curso de Teologia,
já lá vão mais de 50 anos, Histoire de l’Église,
de Dom Ch. Poulet, Ed. Beauchesnes,
Paris, 1953) onde se narra a carnificina que a "catolicíssima" Catarina de
Médicis ordenou contra os protestantes, tendo sido massacradas 2.000 pessoas,
ateando-se depois esse fanatismo às cidades de Rouen, Meaux, Troyes, Lyon,
Orléans, Angers, Bourges, Poitiers, Bordeaux,
Toulouse. O Papa Gregório XIII mandou cantar um solene Te-Deum de Acção de Graças e até fez cunhar uma medalha
comemorativa, por tamanho feito. Acrescenta a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que “a carnificina foi festejada em Lisboa com uma procissão
geral, missa solene em S. Domingos, sermão gratulatório, pregado por Frei Luís
de Grananda, repiques e luminárias. Dom Sebastião mandou a Paris um embaixador extraordinário,
o Comendador-mór de Cristo, D. Afonso de Lencastre, incumbido de significar a
Carlos IX o seu contentamento por tamanha obra, executada com tanto zelo”.
Será caso para repetir a charada: “Qualquer
semelhança, entre os dois bárbaros atentados, é pura coincidência”. Com a diferença que foi a Igreja Católica,
portanto Cristã, a autora assassina
contra outra Igreja também Cristã!
A segunda coincidência deste meu escrito --- e
aqui me fico por hoje --- está no notável acontecimento que amanhã se inicia em
todo o mundo: o Oitavário pela Unidade das Igrejas que professam o Evangelho de
Cristo. Tremendo paradoxo: uma só Igreja e tantos divisionismos?! Esta campanha
estende-se entre o 18 e o 25 de Janeiro de cada ano.
Desde já, quero compartilhar com quem
me acompanha que será este o genérico que ocupará o nosso convívio nos dias
ímpares que se seguem.
Será um tempo de reflexão, o encontro
entre o ontem e o hoje, será a pesquisa da síntese de saberes para tentar interpretar
este fenómeno tão belo quanto perigoso chamado religiosidade.
Oxalá sirva para que haja mais “Senso&Consenso”
no mundo!
17.Jan.2015
Martins Júnior
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