Passo por entre os tornados que hoje
varrem as rotativas da imprensa, noticiários televisivos, ecrãs domésticos, com
as cimeiras de Bruxelas-Grécia, Ucrânia-Rússia em Minsky e, mais cá dentro, o
corte de relações entre os dois clubes vizinhos da 2ª circular (o mundo vai
desabar por causa da guerra civil entre Benfica-Sporting, ah,ah!?) e vou
deslocar-me até à China longínqua para
“filosofar” sobre uma notícia que fez parte também dos informes diários.
Trata-se de uma questão de ciência, do poder exaltante da inteligência humana.
E se é ciência é poesia. Nós é que pensamos que não. Já nos advertia Fernando
Pessoa quando disse que ªo binómio de
Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente que dê por isso”.
Neste meu apontamento,
refiro-me à capacidade transformadora que anima cada ser, mais concretamente na
área da produção energética. Quem diria que as torrentes jogadas das altas
fráguas, quando educadas nas cilíndricas paredes de uma conduta, accionam as
turbinas da central hidroeléctrica para
iluminar um país inteiro? Quem diria que
os tenebrosos ventos que despem as florestas, aceites e digeridos pelas asas de
uma torre, abrem-se em luz na bonança do nosso quarto? E quem imaginaria que o
mesmo “milagre” acontecesse com o vaivém das marés? E os lixos, farrapos que
nos atrapalham na cozinha, quem os julgaria portadores de energia limpa que
reentra, prazenteira, pelo tecto das nossas casas fechadas? Na Madeira de 2014,
dizem os responsáveis da Meia-Serra, a produção aumentou em 25%. Nestes e
outros casos, razão tinha Lavoisier quando compôs aquele belo poema de um só verso:
“Na Natureza nada se perde e nada se cria, tudo se transforma”
Agora
fechem os olhos e tapem o nariz, perante esta notícia fresquinha de jornal: “E
das fezes humanas, o país mais populoso do mundo está a produzir energia… Cada
vez mais resíduos de esgotos na China estão a ser transformados em biogás e
adubos… Heinz Peter Mang, engenheiro alemão, de 57 anos, catedrático da área do
saneamento ecológico na Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim, afirma
que “este país está sentado em cima de uma mina de ouro” (Público, 10. Fev.2015).
É
o círculo vicioso transformado em círculo virtuoso.
Os prodígios, que antes
se atribuíam a uma entidade suprema que fazia o que chamávamos de “milagres”,
estão hoje na mão do homem. Foi Auguste Comte, le prêtre positiviste, que, desde há duzentos anos, abriu ao mundo o
livro dos três estádios: o teológico, o metafísico e o positivo, cabendo a este
último o poder e a obrigatoriedade de definir, ampliar, sublimar a frágil
condição humana e terrestre.
E porque “a ciência
cresce em espiral”, o que é preciso é ter coragem de alçar-se mais alto e
derrubar as torres de Babel que nos puseram diante dos olhos como sentinelas do
reino da ignorância e do obscurantismo. É nesta linha recta que se inscreve o
pensamento científico de Heinz Peter Mang: ”Graças à ausência de tabus sobre a
reutilização da matéria fecal na China, cabe à ciência garantir essa
reutilização segura e há aqui uma oportunidade sem precedentes”.
A ciência cheira bem,
venha ela de onde vier. Identifica-se com as mãos mitológicas do rei Midas que
transformavam em ouro tudo aquilo que tocassem.
Mas, diante dos
acontecimentos que evoquei ao princípio, chegamos à paradoxal constatação da
sua antítese. Lembra-me uma canção que por aí anda em voga, verrinosa na sua letra, quando acusa alguém que o (a) traiu “Tu tens as mãos e o dom de
Midas, mas ao contrário”.
É o que, com pessimismo e
repulsa, apetece dizer aos desumanos dominadores do capital e do poder. E nem
me atrevo sequer a pronunciar, porque,
isso sim, cheira à mais abjecta podridão!
Enfim, o círculo virtuoso virou
círculo vicioso.
11.Fev.2015
Martins Júnior
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