(aspecto parcial da trupe do CCCS-RS)
Desde sábado até terça-feira
ficam de fora os argumentos, as elucubrações
sofo-teológica e vamos é reinar, dar tolerância de ponto ao pensamento
planificado. Vamos à rua, ver, saltar, batucar sem rodeios nem receios. É
carnaval e nada se leva a mal.
Muito de rapina vou
passar por entre as trupes que animaram
a baixa da cidade de Machico. De todas as freguesias do concelho vieram representações
numerosas, umas mais originais que outras . Vou referir-me à do CCCS-RS (Centro
Cívico-Social e Cultural da Ribeira
Seca), que brindou a imensa multidão com uma homenagem a Cristiano Ronaldo,
misturando Sua Alteza Real com uma pimentinha típica da cozinha “machiqueira”.
Desde que o locutor de
rádio anunciou o “grande derby” dos
cinco Ronaldos, em que foram protagonistas cinco miúdos trajados a preceito,
Andorinha, Nacional, Sporting de Portugal, Manchester United, Real Madrid, um
frenesi levantou toda a trupe, em uníssono:
Ronaldo, Ronaldinho, Ronaldão
Campeão, capitão da nação
Ronaldo, Ronaldinho, Ronaldão,
Não quero a tua bola, dá-me a tua
camisola
E também o teu calção.
Você é nosso, oh-oh
Você é nosso, oh-oh
Porque você é de Machico
É do Caniçal
É da Madeira ,
De Portugal
Cristiano Ronaldo
Fenomenal
De todo o mundo você
Você é o maioral
Após esta saudação
monumental, lá vem a sátira, com todas as mulheres doidamente fãs pelo craque, a Irina que pedia o shampoo, a
Gina que pedia a lingerie da marca CR7, a Regina que arrancava a camisola, a Pirina
que só queria o dinheiro (os Ronaldinhos faziam voar notas de 100 euros da defunta
marca Banco Espírito Santo) um
verdadeiro teatro de rua, que fez a mãe do campeão perder a cabeça e enxotar à
paulada e em linguagem vernácula de calão, “larguem o mê filhe da mão” e outros
mimos
que costumamos substituir pelos habituais pi…pi…pi…
Castiça era a estátua de
Ronaldo, de 3 metros de altura, cuja cabeça tinha a configuração de uma bola de
futebol. Os espectadores mais familiarizados com o género satírico, comentavam:
”Está mais bem feita que a do Funchal”.
Enfim, um comentário leve
e ligeiro: reparei que a trupe constituía uma efusiva assembleia de família,
pois víamos pais e filhos embalados na mesma onda contagiante. Depois, a música
e a letra originais, como sempre acontece com a trupe do CCCS-RS, em contraste
com a quase totalidade das outras trupes que ensurdeciam os ouvidos com a mesma
movimentada, mas já enfadonha, música
brasileira.
As entidades
organizadoras deviam incentivar a criatividade musical, promovendo, com ou sem
troféus, as produções oriundas de compositores da terra e da ilha, para que o
Carnaval contribuísse também para o florescimento de valores culturais
autóctones e não apenas as emplumadas transposições dos grandes sambódromos
cariocas. E não só em Machico, no Funchal também. Pena que a nossa TV/M não
desse o esperado relevo a um tema de inspiração estritamente regional…
Mas o que importa é
folgar e fazer uns diazinhos de tréguas
na guerra civil do calendário quotidiano. Porque tudo é bem e nada é mal… no Carnaval.
Martins Júnior
15.02.15
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