Ninguém se cansa de saber e repetir que “ Um Povo sem passado
é um Povo sem futuro”, ainda que ---e sobretudo por isso --- a memória venha carregada de cinzas e
escombros. Porque será daí que se aprenderá a dominar o futuro. “Quem quer/ Faz
a hora/ Não espera acontecer”, já nos avisara Sofhia de Melo Breyner pela voz
profética de Francisco Fanhais.
Estamos em pleno ribombar dos trovões que há cinco anos, por
estes dias da sigla “20 de Fevereiro”, fizeram
da Tabua, da Serra d’Água, da Ribeira
Brava, do Funchal, uma arena à solta, de
raiva selvagem contra pessoas e bens. Embora Machico tivesse sido poupado a
tamanha tragédia, sentimos aqui chegar o clamor das águas e o pranto aflitivo das vítimas. Nem a Imagem
Peregrina, que por aqui andava, pôde acudir
à sua capela nas Babosas nem aos
cristãos, amados filhos seus.
Organizámo-nos solidariamente, os que habitamos a comunidade
da Ribeira Seca e, tal como fizéramos aquando das cheias de Moçambique no ano
2000, recolhemos boas-vontades, dinheiro e sacrifícios e lá fomos ajudar a
desobstruir ribeiros e casas na Corujeira de Dentro, Monte, ao mesmo tempo que, directa e discretamente,
entregávamos às vítimas o produto da
nossa generosidade.
Aproveito este momento para partilhar convosco a mensagem que
retribuí aos que participaram numa sessão pública, como homenagem às vítimas. Aqui vai também um sacudido toque a rebate aos que têm a urgente obrigação
de minorar os efeitos das catástrofes, pela prevenção e planificação ordenada
dos solos e das linhas de água.
TRAGÉDIA RODAVANTE
Furor
Das águas bravas
Onde estavas
Ou dormias
Oh Velho Adamastor
Das ilhas mansas,
Sadias?!
Donde vieste
De qual cerro ou cume
Batume batume
Tumescente agreste
Desterrando o velho
Enterrando o menino?!
Oh belo horrível
Loucura e desatino
Oh caixa de Pandora!
Não chamem Deus
Nem a Senhora
Nem Júpiter nem Zeus
Que o mar e o trovão
Planetário em turbilhão
São amados filhos seus.
Velha matrona, ilha bendita
Tiveste a dita
De voltar à ilha virgem
Do seio furibundo
Da criação do mundo.
E … oh prole maldita
Estirpe mole e cobarde
Que chega sempre tarde
Ao tormentoso cabo da vida
Madeirense mareante
Que mesmo gemendo mão teme
Faz-te ao largo agarra o leme
Gente firme, Povo atlante,
Rodavante rodavante !
E Machico tem,
Machico sabe
Que o Cristo dos Milagres
Não quer que o mar adormeça
Nem quer que o fogo se acabe
Venha um Infante de Sagres
Renasça o velho Marquês
Pra levantar dos escombros
De Lisboa ou do Funchal
Um Povo que é português
A força que é Portugal !.
Martins Júnior
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