VIA CRUCIS – VIA
DOLOROSA
CERTIDÃO DE NARRATIVA
SIMPLES
Chamo-lhe
assim, porque hoje é sexta-feira da primeira semana da Quaresma e, por tal, Dia
da Memória, exercício de reminiscência dos últimos passos da vida de J:Cristo,
a qual toma o clássico nome de Via-Sacra.
E
assim titulo este dia ímpar – 27 de Fevereiro --- também por tratar-se de uma
data singular para mim e para a Ribeira Seca. E para a história da Igreja
Católica Madeirense. Foi o início de um caminho doloroso para esta parcela do
nosso território.
A
narrativa é de teor simples, sem comentários. Esses ficam à vossa consideração.
Era
uma quarta-feira cinzenta e pingada de orvalhos matinais. Desci as escadas da
residência paroquial para celebrar a habitual eucaristia das 7 horas da manhã,
tal como continuo a fazer ainda hoje. Chegando ao último degrau, um grupo de
pessoas aproxima-se com uma expressão estranha e a senhora Maria (já faleceu há
alguns anos) chega-se mais perto e despeja, ansiosa : ” Sr. Vigário, o meu
filho começa a trabalhar às 3 da manhã lá na vila e telefonou-me: ”Mãe, tão
aqui em baixo 10 carrinhas carregadas de polícia e vão para a Ribeira Seca agarrar
o senhor padre na hora da missa. É o que tão a dizer”. Logo respondi à senhora:
“Ah, sim? Então cá os espero”. E entrei na igreja afim de paramentar-me para a
missa. Mas não me deixaram ficar. “Vá-se embora, fuja, que a gente toma conta
disto”. Insisto: ”Não se preocupem. Eu
quero esperar por eles aqui mesmo. Fugir, não fujo. Mais a mais, sou deputado e
não tenho crime para me prenderem”. Mas
foi tão forte a pressão – “a gente toma conta disto” --- que obedeci e fui para
a casa dos meus pais, no sítio da Banda d’Além. Ao que depois aconteceu não
posso dizer mais nada, porque não presenciei. Lembro-me também que, no meio
desta pequena conversa, muitas pessoas foram-se aglomerando em frente da porta
principal do templo.
Mais
tarde vim a saber que invadiram a igreja, rebentaram as portas da residência.
Levaram o que quiseram. Para recordação, ainda lá estão abertos os buracos das fechaduras que levaram consigo.
À igreja cerraram a barrotes pregados nas portas.
Já
na minha casa paterna é que me lembrei de uma frase ameaçadora pronunciada,
tempos antes na Assembleia Regional, pelo presidente do governo regional: “Se a
diocese solicitar o apoio do meu governo para ocupar aquele campanário, o
governo não hesitará”.
Permaneci
na Banda d’Além até à altura em que vi na estrada uma multidão que me levou à igreja da Ribeira Seca. Até hoje.
Tudo
o mais só poderá ser contado por quem viu os factos. No facebook da Ribeira
Seca, por estes dias.
27.Fev.2015
Martins Júnior
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