Partiste
na Semana Maior
Foi a tua
paixão e morte …
Ressuscitar-te
É agora a
nossa parte
Deixar de
ver-te
E
ouvir-te
A voz
estóica e meiga
É o preço
de sentir-te
Em cada
pedra
Em cada
quarto
Em cada
manga do teu quintal
Cavaleiro
andante
Por mar e
ar e terra
Em ti se
cruzaram continentes,
Oceanos,
corações,
Pulsações
abissais, frementes:
Deu-te o
Lobito as capas negras a haver
Chamaram-te
os Meninos de Huambo
E tu
subiste ao Planalto
Aprender cantar e ensinar
Quanto
custa a Liberdade
Depois,
Falou
mais alto
O chão de
Malangatana
Onde
ambos sentimos
O apocalipse
das cores
Naquela
catedral feita cabana
Chamou-te
Caveirinha,
E tu
vieste, asinha,
No rasto
do velho tambor
Da
floresta
Por enquanto só tambor…
Irmão
João
Irmão
cósmico
Irmão de todos os nus
Como nos
disse o Zeca
A tua e a
minha mão
Dentro da
sua mão
No dia do
aleluia
E do hossana
À mulher
moçambicana
Levam-te
aos braços
As
mulheres que te amaram
A suprema
e nossa Maria Calaça
A sempre
tua Aldovanda
Toda a
mulher eterna:
Mãe negra
Mãe
branca
Mãe sol
Mãe Lua – Mãe Terra
Mãe África
Que tudo
te deu
E a quem
tudo deste
Com mais
gosto que custo
E mais
que o Código de Direito
Interpretaste
o Cânon maior
A Bíblia
de ser justo
“Lembras-te,
irmão Zeca,
Assim me
perguntavas,
Do que
dizia a nossa mãe:
Deixa o ter e ganha o ser
E o mal que te fizerem
Paga-o sempre com o bem
Mas não respondes
Nem te
escuto
Irmão
obreiro de infinitas pontes
Raiz
atlântica das ilhas
Flor e
fruto
Em terras
de Maputo
Quando
encontrares o cais
E se
houver cais
Espera
Conta
comigo
Já faltou
mais…
Daqui a
pouco
A tua
cinza
Poalha de
estrelas
Levará
nas ondas do Índico
O
universo do teu corpo…
Ressuscitar-te
Agora e sempre
Será a nossa
parte!
Dito por mim na Sala Nobre de Maputo perante
o esquife do meu querido irmão João, no ofício fúnebre que precedeu a cremação e o lançamento das
cinzas no cais de Maputo. Era o Domingo de Páscoa de 2012.
09.Dez.15
Martins
Júnior.
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