Para se chegar à Festa/ Festa
da nossa alegria/ Anda tudo baldeado/ Como o mar em levadia/ Ninguém pára nem
descansa/ Quer de noite quer de dia
Cantigas do povo, como
esta, traduzem a azáfama e o bulício que põem tudo a mexer: crianças e adultos,
estradas e veredas, geleiras e igrejas. Não há tempo porque o tempo urge. Muito
menos para ler. E não serei eu a meter areia no maquinário das tarefas
radiantes mas efémeras desta semana melhor. Apraz-me assim designar estes dias.
Se na Páscoa há a Semana Maior, no Natal sobressai a Semana Melhor. Por isso,
limitar-me-ei a respigar notas soltas do sumário de ideias que temos saboreado no novenário da Missas do
Parto, como primeiro manjar das seis horas de cada manhã.
É a imanência do Parto,
mais a sua transcendência que nos trazem
presa a atenção e a emoção, principalmente no tocante à terra, à ecologia, à
vida. Hoje esquecemos decididamente os atentados ao ambiente, deixámos de fora
a poluição dos campos e dos mares, para só nos extasiarmos diante de uma flor,
de uma tangerineira, das majestosas montanhas, do azul infinito que une os
extremos do céu aos oceanos. Numa palavra, hoje é dia de ser poeta do verso de
todas as cores do arco-íris. “O poeta em tudo se demora” --- assim ecoa dentro
de nós a “linda, longa melodia imensa” de Sebastião da
Gama. E o “Guardador de Rebanhos estira-se ao longo do manto da verde relva e
vê saúde, respiração, felicidade.
Habitar o campo,
conversar com o vetusto tronco da nogueira, ver crescer como um filho os “pés
de semilha”, tão mimosos como as rosadas buganvílias, enfim, beber a água das
nascentes e inebriar-se do cheiro da terra, do milagre da vida que se oferece
gratuitamente aos nossos olhos e nós nem damos por ele. Que pena calcar aos pés
da indiferença mortiça as violetas roxas de paixão que são pisadas e nunca se
queixam…
“Olhai os lírios do campo”,
repete Eric Veríssimo o lirismo bucólico do Cristo histórico. Ele, o “Maior dos
filhos dos homens” também era poeta, também se demorava como a abelha obreira
sobre o mel a haver das flores silvestres. O povo da ruralidade tem um
privilégio que não têm os inquilinos das cidades.
Acompanhámos o LAUDATO
SI em cujas páginas o quase-octogenário
Francisco jovem do século XXI evoca o Francisco romântico do século XIII que a
todas as terras, a todos os sóis, a todos seres chamava “Meu Irmão e Minha Irmã”.
“Demore-se” um pouco…pela
sua saúde --- física e mental. E ao olhar o presépio ame o Planeta e o que ele
contém. Mais ganha em “demorar-se” do que em ir à farmácia… É o que de mais
doce traz este Natal!
“Olhai os lírios do campo”…
e deliciai-vos com o “Cântico dos Cânticos” --- o bíblico e o vosso do dia-a-dia.
21.Dez.15
Martins Júnior
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