Dezembro, mês de ternuras, de
casamentos, de natais. Na geada fria que perpassa à nossa beira, passam também
os segredos da vida --- biológica, afectiva, social --- e, com eles, o
sortilégio e o encanto que sobredoiram a monotonia do comum dos dias.
Coube-me essa prenda de Natal quando,
no mesmo dia 12, fui chamado a associar-me a duas cerimónias de
casamento: tão diversas no ritual e tão iguais na sua essência.
Dois casamentos --- um civil e outro
religioso. O primeiro nos jardins da velha fortaleza que se ergue há mais de trezentos
anos, como sentinela vigilante, no coração da baía de Machico. O segundo, no
templo da Ribeira Seca, situado num território de história também tricentenária.
E começa, precisamente por aqui, a
similitude de identidades convergentes: o templo da Ribeira Seca tem origem na
primitiva capela que, em 1692, o capitão-secretário da Câmara de Machico,
Francisco Dias Franco, mandou construir
sob a égide de Nossa Senhora do Amparo. A fortaleza, construida em 1706,
dedicou-a o seu autor, o mesmo Francisco Dias Franco, à mesma Senhora, sob a
designação de Nossa Senhora do Amparo.
O
objectivo deste meu SENSO&CONSENSO não é mais que o de partilhar a emoção e
a descoberta de horizontes que a mentalidade tradicional nos apresentou tão
contraditórios e que, no seu íntimo, são tão unidos e congénitos como as linhas
do círculo quando se encontram--- casamento no civil e casamento na igreja.
Semelhanças e contrastes. Quem se lança à decifração do enigma?... Levar-nos-ia
longe esta incursão e decisivas seriam as conclusões. Limito-me a partilhar
aqui a síntese do discurso, em tudo
semelhante, que dirigi nos dois eventos festivos, sujeitando-me à contradita de
quem julga por critérios diversos dos meus.
1 – O casamento
é um contrato bilateral da inteira e única responsabilidade dos nubentes. Por
isso, o Código de Direito Canónico classifica-os, aos nubentes, de ministros do matrimónio. Assim sendo, o
padre não casa ninguém, o bispo não casa ninguém, o papa não casa ninguém.
Estes são apenas testemunhas qualificadas que aceitam o juramento daqueles.
Mesmo casando em Roma, com o Papa a presidir, 100 cardeais, 1000 bispos, 10 000
freiras, 1 000 000 de fiéis apinhados em S. Pedro --- se, na altura da
declaração de vontade, um dos nubentes dissesse que não --- podia o Papa desfazer-se
em bençãos rituais, mandar chover água benta, haveria um tsunami de orações e
cânticos --- haveria tudo…menos
casamento. Ai, se os casais descobrissem e interiorizassem a nobreza e
magnitude do seu compromisso, livre e responsável, então aguentariam firmes os
embates da vida. E a quem viesse
dizer-lhes que o casamento era uma prisão responderiam gloriosamente, como
Gilbert Cesbron num dos seus romances: “A minha prisão é um reino”!
2 – O elixir “
mágico” e o segredo da longevidade do amor conjugal residem dentro dos nubentes
e podem resumir-se neste breve axioma: Quem muito ama- muito dura. Quem ama
pouco–pouco avança. Quem ama totalmente-ama eternamente.
3 - Não foi por mero acaso que o primeiro milagre
que Jesus realizou aconteceu precisamente numa festa de casamento. Gente
trabalhadora, gente humilde, pois até faltou o vinho na festa. Milagre, o
primeiro, porquê?… Porque não há maior milagre do que unir duas vontades livres
e responsáveis num mesmo tronco existencial. Para mais, neste caso, no mesmo
afã de amar e construir o mundo novo que brotará daquela jura assumida,
consciente.
4 - Por isso, em cada casal que se entrelaça, aí
se encontram um Novo Adão e uma Nova Eva. Com eles, recomeça a trajectória do
planeta habitado pelos humanos, a partir do "jardim terreal" do espaço onde irão
viver.
Casamento civil –casamento religioso:
em qual dos dois estará Deus mais perto?... Só os noivos poderão responder.
Porque todo o cenário envolvente --- local, oficiante, coro e orquestra, padrinhos,
convidados --- não são mais que a moldura do quadro dentro do qual o segredo do
sucesso está na força do seu voto, ali subscrito
mais com a cor do seu sangue do que com a tinta do aparo dourado.
Para os dois casais amigos, o abraço da primeira hora!
A felicidade segue os vossos passos.
15.Dez.15
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário