Nenhuma
tradição ditou tantas e tão singulares fontes
de inspiração artística como o Natal do ano I da nossa era. Embora se atribua a
Francisco de Assis a sua primitiva criação no século XIII, o facto é que miríades de
estrelas natais se abriram por tudo quanto é espaço terráqueo, cada qual com o
seu brilho e sua tonalidade. Quer no Oriente, quer no Ocidente, na paisagem
africana ou nos confins da Ásia, mãos de
artífices nativos deram forma e cor ao cenário quase mítico de um parto único
na história dos nascidos e dos nascituros: a gruta ou estábulo, o calor da vaca
e do burrinho (que o ex-Papa Bento XVI considera inverosímeis), os pastores, o
coro do “exército celeste” e até os (reis) Magos que inicialmente seriam doze,
reduzidos mais tarde ao máximo de três pelo Papa Leão no século V --- todo este
enquadramento pleno de ternura e romantismo avassalou a imaginação de criadores
ancestrais que ainda hoje se repercutem nos mais longínquas paragens e
civilizações.
Não obstante a persistente
representação folclórica do presépio, é lícito e desejável que se descubram na
esteira da estrela de Belém cintilações múltiplas e originais traduzindo as mil
mensagens que dimanam da aparição daquela criança no mundo. Pobre e redutor
seria olhar o acontecimento pela instantânea objectiva doe um eventual
fotógrafo primário. Há muita paisagem social e humana, há muitos revérberos de espiritualidade para
além da moldura bucólica que envolve o Menino “numas palhinhas deitado”.
Assim tem acontecido, todos os anos, no modesto
vale da Ribeira Seca, a nordeste do grande vale de Machico. No ano de 2015, templo, palco e mapa-jardim da Madeira juntaram-se
para cada qual relevar a tríplice dimensão do presépio. Fruto do trabalho braçal
de homens, mulheres e jovens, Ribeira Seca apresenta-se como a “BELÉM DOS TRÊS
PRESÉPIOS”.
Dentro da igreja, o figurino
tradicional resplandece nas cores da vida que enlaçam toda a dimensão do altar,
o vermelho do coração, o verde do sonho e da esperança, o abraço quente do
Menino de outrora envolvendo quantos o sentem, dentro ou fora do templo.
No
palco aberto e livre, a sugerência do Globo em madeira rústica, onde se desenha
a grande trajectória da espécie humana sobre a terra, desde os seus primórdios.
Figuras semelhando antigas civilizações convergem todas para o berço, feito com
vime dos nossos campos. Elas, caminhando na mesma direcção, sugerem também os refugiados
foragidos da guerra. Num outro plano vem aquele ansiado desiderato da Paz, com
os camuflados de guerra espalhados pelo chão e as armas quebradas junto ao presépio:
é a mensagem inacabada de Belém que aos homens compete concluir --- perante o berço do Menino e servindo-lhe de alcova , o material bélico transformado em
cravos e violetas.
No
mapa da ilha, desenhado no jardim, então prestamos homenagem aos nossos
antepassados, com a antiga “lapinha em escadinhas”, símbolo de uma história
vivida há seiscentos anos desde a Descoberta. Estamos, na trilogia dos
símbolos, irmanados com o passado, o
presente e o futuro.
Encimando todo este singelo anfiteatro,
ergue-se lá no alto, dentro do globo terrestre Jesus-Menino, todo iluminado,
prodigalizando o seu carinho, não apenas
à Ribeira Seca, mas “a todos os homens de boa vontade”.
A criança de Belém é tão ampla e
poderosa que não pode circunscrever-se ao “miminho” de uma gruta. Ela tem uma
dimensão cósmica, tocante e actual, que cabe a cada época descobri-la e
realizá-la.
BENVINDO SEJA QUEM VIER POR BEM
NATAL SEMPRE!
27.Dez.15
Martins Júnior
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