Chegámos
ao topo alto desta pirâmide construída em nove dias, ao abrir da madrugada. E
no seu vértice erguemos a bandeira do Perdão. Este é o nosso parto sem o qual
não haverá festa. Ele é doloroso mas, no seu términus, brinda-nos com o gostoso
fruto da saúde física e mental. Com o bolo-rei da Paz!
Doloroso
porque nos põe em tribunal, onde não há testemunhas nem advogados. Somos nós
próprios réus, testemunhas e advogados nesta causa.
Hoje
é o dia de transformar o deficit em superavit: o deficit sombrio da
auto-acusação negativa (conflitos, maus humores, indiferenças e vinganças) em
superavit de conciliação, respiração sadia, sublimação de complexos depressivos
contra terceiros.
E
tudo isto é trabalho nosso. É o nosso parto necessário para alcançar o
firmamento sem nuvens do Dia de Natal. Daqui a pouco, na Festa-Eucaristia do
Perdão, confrontar-nos-emos com o drama
da condição humana de que já Públio Ovídio Nasão, na antiga Roma, inelutavelmente se penitenciava: Video meliora deteriora sequor --- “vejo
o que é o melhor, mas sigo o pior”.
Tarefa
exclusivamente nossa: nem de Deus, muito menos da Igreja, pior ainda da
confissão dita sacramental. Só um louco é que teria a ousadia de conseguir
ofender a Deus, quando nem tem força para atingir as nuvens com uma pedra.
Prejudicamos o outro. E ao outro que se deve pedir perdão. A ofensa e o perdão
são um contrato bilateral entre o agressor e o agredido. Mais ninguém. De muito
longe vem esta reflexão comunitária no lugar onde vivemos: nenhum perdão sai da
Igreja se, primeiro, não lá entrar. Dizia-me um amigo ancião, analfabeto para o
mundo, mas sábio da filosofia existencial: “ É como o pão amassado em casa. Só
vou achar perdão na Igreja, se já o levar amassado para a Igreja”.
Os
maiores criminosos, autores do grande pecado social, desde legisladores a
governantes, juízes e testemunhas,
cardeais e ateus, ladrões e especuladores, esses já perderam toda a
sensibilidade e a gangrena que lhes rói os ossos impede que sintam os atentados
ao outro, aos outros. Por isso que nunca terão Natal, por mais rica que seja a
baixela da sua mesa.
Às
seis da manhã de 24 de Dezembro, o parto
do Perdão será o Pacto da Aliança entre ofensor e ofendido, sem que um ganhe ou
outro perca. Não haverá vencedores nem vencidos. Todos ficaremos a ganhar.
Sem
esta Festa --- a do Perdão --- não haverá a outra Festa: o Natal.
Bom
Perdão --- o mesmo que dizer Boas Festas!
23.Dez.15
Martins Júnior
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