Peguei-me
hoje com o cardápio dos prefixos. São eles (mais os seus gémeos irmãos, os
sufixos) que fertilizam a língua, criando infindáveis gerações de signos, quando enxertados na palavra-mãe. De entre
tantos e tão diversos, fixei-me naquele que este domingo particularmente sugere:
o prefixo “Re”.
Compulsando
o dicionário ou mesmo citando de cor e a esmo, o prefixo “Re” salta-nos diante dos olhos e, sobretudo, no terreiro das
emoções, como o clic mágico que nos
desperta e faz abrir manhã no meio da noite escura. Quem não se sentirá movido
ao som do timbre de uma renovação, de um repuxo de água viva, de um resplendor
ou de um regresso à juventude
existencial? Em subtítulo, dei acima uma trilogia representativa da energia que
percorre a dinâmica do nosso ser: Reagir, Reflorescer, Ressuscitar! Todos estes prefixos mexem
connosco, impelem-nos a subir a encosta e a sair da “fossa” depressiva em que um
dia cairmos.
Este
retomar do alento que revigora ideias, músculos e nervos fica todo reintegrado
intensamente no vocábulo que dá nome a este domingo: RESsurreição, o mesmo que ressurgir, renascer, reflorir. É um
prazer e, ao mesmo tempo, um árduo “fazer”, um programa de toda a hora, o “pão nosso de
cada dia”. Ninguém pode fazê-lo por nós.
Somos nós que fabricamos (ou destruímos) o prefixo que pode iluminar
muitas vidas: a nossa e a dos outros. Esse prefixo, filão invisível, tem
a sua nascente (quantas vezes!) na pedra dura do nosso pensar
e do nosso sentir, abrindo caminho para aquele Dia Novo que está connosco e,
paradoxalmente, tanto tarda.
É
a esta luz que vejo o Domingo de Páscoa. Reafirmando a vitória do nosso Cristo,
importa ponderar que de nada adiantaria a ressurreição de um cadáver se não
fosse maior a ressurreição da sua Ideia. “Serás jovem quanto a tua Ideia”. Não
fosse a chama incandescente do pensamento libertador do Crucificado e Ele
ficaria apenas como estátua de carne física arrumada na prateleira das
antiguidades. “A carne mata, o Espírito é que dá vida” - já o tinha proclamado anos antes. É por isso
que a Palavra de Ordem e o apelo à Vida estão consignados no retábulo natural
do templo da Ribeira Seca:
“QUEM TIRA JESUS DA
CRUZ?...
QUEM O RESSUSCITA?...
HOJE!”
Propositadamente, às duas interrogativas,
segue-se o reforço da exclamativa: HOJE! É aqui e agora que, com a Ideia,
ressuscitamo-nos globalmente, Corpo e
Espírito. Deste filão inesgotável sai a força quotidiana do prefixo: Reagir, Reflorescer, Ressuscitar! Em cada gesto,
em cada reabrir das nossas pálpebras pousadas no horizonte longe-e-perto que
nos chama! Tal como o som e o a alegria pascal das crianças que animaram o
nosso Domingo Ressuscitado.
Na
ementa deste domingo, ofereço um voto e um abraço: Comam e saboreiem o Prefixo
deste Dia!
27.Mar.16
Martins Júnior
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