“Guerra
e Paz” – assim titulou Tolstoi o seu romance histórico. Hoje pego na capa para
alterar-lhe a sequência dos conceitos e
formular uma outra dinâmica, inspirada no método científico: PAZ-GUERRA-PAZ,
correspondente à clássica gradação: TESE-ANTÍTESE-SÍNTESE.
Embora
estranha, à primeira vista, vem esta
equação a propósito do actual momento que Portugal atravessa. Após sucessivos
anos de guerrilhas político-partidárias, quase sempre fratricidas, chegámos
àquela estação do percurso em que se abandonam as sistémicas trincheiras de
combate para retomar energias, de mãos dadas, face ao futuro. É uma nova
filosofia de estar e servir o interesse comum. E de tal maneira que este ambiente
de co-produtividade sócio-política incomoda coercivamente aqueles que detinham as rédeas
do poder e, na aparência, apresentavam-se como os promotores exclusivos da paz
social. Hoje invertem-se os papéis: e é vê-los, os tais, nos parlamentos, nos
congressos, ávidos de sangue (“temos de ser mais agressivos”, explodia esta
manhã um dos corifeus); de “bem- amantes”
passam-se a divorciados e rivais no “campo-pequeno”
do grande poder. Esta quase-alucinação
atira-se de olhos atravessados, soturnamente estrábicos, quando vêm Presidente
da República e Primeiro Ministro a remar para o mesmo porto do interesse da
Nação.
Talvez
que os mesmos que antes diabolizavam a CGTP e a UGT, quando juntas nas grandes manif´s, agora fervam de impaciência quando as
centrais sindicais parecem ter perdido (aos olhos deles) a vitalidade e o
domínio da rua em peso.
Mas
tudo não passa de um equívoco. Insanável, para quem assim se agita. Esquecem,
sempre os tais, o percurso bio-social do Homem-em-situação, ou seja, a tríplice
gradação existencial: PAZ-GUERRA-PAZ. Não se pode viver permanentemente em campo
de guerra. Esta só vale como ponte instrumental para a paz comunitária. Há tempo de resistir
ao sono em combate, mas também há tempo de respirar o ar puro e justo que a
grei conseguiu pela mão dos seus milícias representativas. Chamo aqui o
pensamento de Arendt: “A violência pode destruir o poder, mas da violência
nunca poderá nascer o poder”. Tomo esta
análise de filosofia política para, à sua luz, interpretar e medir o alcance de
todo o lugar da agressão, seja em que
plano for da actividade humana.
Questionar-me-ão
os meus “ímpares” amigos, acusando-me de fazer a apologia do contentamento
fugaz, da inércia, enfim do ultra-liberal laissez
faire, laissez passer. A quem o
dizem?! É preciso desconhecer todo um
passado (e um presente!) de luta em que
tenho navegado. O que me parece útil e necessário dizer é que um atávico e
irresistível “cheiro a pólvora” ( o
termo tem direitos de autor bem conhecido) não segura nem o atirador nem o alvo
nem o próprio campo de tiro. Quem assim pensa já está inscrito nas alas do
Daesh, como suicida e assassino.
O
importante e decisivo é a vigilância contínua. No esclarecimento, na força motriz do pensamento, na denúncia, na
voz, na escrita, nas redes sociais, em
casa e na rua, na escola e na igreja (assim faz o incansável Francisco Papa),
no olhar atento e critico sobre as cúpulas do poder. É a isto que chamo o Poder
Popular. Os governantes têm de temer (respeitar) os governados. Nunca ceder um palmo à cobardia, ao jogo sujo
de bastidores para salvar a pele. A pele somos todos nós.
Quando
a solução única for a “guerra campal”, a
rua ou o assalto, então é sinal que, no
silêncio do oportunismo e da inércia, deixámos que nos amarrassem de pés e
mãos. Não há outra estratégia eficaz que não seja a visibilidade coerente e
consequente da meta comum, mesmo que por caminhos diversos. Este é o sítio certo onde estamos e sempre
estaremos: a Paz que nos segura, a guerra que nos redime e, de novo, a Paz no
topo da montanha – para depois recomeçar
a mesma eterna jornada, repetida no rotativo
curso das gerações.
A
vigilância operante de hoje será amanhã a garantia da “Terra Prometida”. Que ninguém perca o caminho!
31.Mar.16
Martins
Júnior
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