Poucas horas faltarão para crer o incrível. Sei do
quanto conversávamos sobre a morte. Acompanhá-lo-emos, desde o necrotério - “já lá vão quatro dias”
(Jo, 11,17) – até ao átrio do optado holocausto da cremação, enquanto vou soletrando
esta fraterna homenagem para o Ângelo e, se possível, perene bálsamo para a Ana.
Mais
doze pancadas
No
mostrador daquela porta
A
que chamam câmara morta
E
sairão mudas geladas
Canções
poemas gargalhadas
Da
véspera
Das
vésperas de outrora
Agora
Outra
porta te reclama
Onde
o gelo se faz chama
E
sairão
Aladas
crepitantes
Cinzas
que dão
Fumo
branco
Volutas
diamantes
A
quem fica nesta margem
Estranha
fotossíntese da última viagem:
Contigo
vão o moinho a lenha e as ossadas
Connosco
deixas
O
canto livre das estradas
O
voo astral da tua Ideia
A
manhã clara das tuas gargalhadas
Que
a nossa mão semeará
Até
que chegue aquela badalada
De
levarmos no saco da bagagem
As
cinzas que nos vestem
De
novo o mesmo fumo branco sairá
Na
derradeira torre de menagem
Hoje
tua – amanhã nossa
Oh
portentosa
Estranha
fotossíntese da última viagem
15.Mar.16
Martins Júnior
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