Não há Dia do Homem, mas há-o da
Mulher. Porque o Homem é o tal, o maior, o auto-suficiente. A Mulher é a qual,
serva, subalterna e carente. Esta a mentalidade que se enroscou na raiz e no
tronco das sociedades, mesmo as ditas civilizadas. Talvez por isso, hoje,
invertem-se os termos: o Dia do Pai subalterniza-se face ao seguro e alçado Dia da Mãe. Apertado e
esmorecido é o Dia do Pai.
Mas
não deveria ser assim. Porque a paternidade não se confina aos convencionais
limites da procriação biológica. Vai muito mais além e abarca o início e o fim
do processo criativo de toda a produção humana ou de toda a transformação da
natura.. Inscrevo, pois, à cabeça desta incursão o dado adquirido de que se
todos os dias são-no da Mãe, pela mesma razão, todos são Dia do Pai. Seja maior
ou menor, homem ou mulher, seja planta, flor, animal ou mineral, a paternidade
cria patente, descoberta, semeadura.
É nesta grande angular, de amplitude cósmica,
que vejo o magno estatuto da paternidade.
Há que pedir contas ou, pela positiva, tecer palmas e hossanas nas aras onde se
cultua a patente paterna. Aos helénicos Pais da Filosofia, Platão e Aristóteles; ao
Pai do sobre-dotado Povo Hebreu, Abraão; ao Pai da Europa, S. Bento: ao Pai da
Nação Portuguesa, Afonso Henriques: ao Pai do Teatro em Portugal, Gil Vicente;
ao Pai precursor da navegação aérea, Bartolomeu de Gusmão; Ao Pai da
Relatividade, Albert Einstein; ao Pai do
Serviço Nacional de Saúde, António Arnaud. E num mesmo feixe, a todos os Homens
e Mulheres da Ciência, da Pedagogia, da Música, do Cinema, arautos de um ,mundo
novo, vai hoje todo o aplauso do Universo:
Mas
àqueles que “semearam sombras e quebrantos”, desde o genocídio mais primitivo
até à malvadez do nazismo, das ditaduras, do jihadismo, a esses há que pedir
contas severas, bem como aos satânicos mensageiros do obscurantismo religioso.
Pais cegos que fazem filhos cegos, monstros que procriam outros monstros, pais
assassinos que só trazem filhos no ventre para matá-los à nascença.. Quem os
leva à barra do Tribunal da Humanidade?... Quem os amarra às grades dos fornos
crematórios para contemplarem os antros da crueldade onde destruíram vidas
inocentes? … Quem os pendura nos muros da vergonha ou nas muralhas de arame
farpado para verem onde morrem, exangues, as vítimas das guerras, das fomes que
eles próprios armadilharam com as mãos peçonhentas?...
Eu
sei e peso a violência dos anátemas que acabo de escrever. Mas infinitamente
mais violentos foram e continuam a ser os traumas, as crateras, os abismos de
horrores que sadicamente abriram no coração da História e nos corações das
gentes. Para que, ao menos, os filhos e herdeiros arrepiem caminho e reparem
com equidade os danos que tais pais infligiram.
Dia,
hoje, em que é posta no livro das horas e no filme dos dias a nossa patente
criadora, a nossa paternidade interventiva. Cada palavra, cada gesto, cada
linha que se escreve, tudo o que é fruto do nosso respiro assume-se como um filho saído do mais íntimo
que temos e somos. Sejas mulher ou homem, sejas jovem ou ancião, estás
colocando no calendário da História a marca do Dia do Criador, o Dia do Pai.
Tal como o fizeram Pierre e Marie Curie, os Pais do novo elemento rádio, ganhando o Prémio Nobel da
Física, em 1903, pela excepcional descoberta
que abriu caminho para promissoras e decisivas conquistas da ciência em
prol da humanidade.
19.Mar.16
Martins Júnior
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