domingo, 13 de março de 2016

DOMINGO CLARO-ESCURO EM MÊS DE PRIMAVERA - (fragmentos de um diário)



        Domingo, 13, Faltam oito dias para ouvir-se no calendário sonoro das horas o repique a primavera. Está chegando a manhã clara.
Mas antes, atravesso o túnel sombrio que leva à cama do hospital. Fui vê-la, aquela mulher que, mesmo doente, era a saúde e a luz do homem que a amava. Quanto ele a amava! Todos os dias subia à montanha para  alentar os pés doridos da resignada sofredora. E todas as noites esperava-a em casa, entre quatro paredes onde faltava o  sol e sobrava a esperança de vê-la a seu lado.
Breve foi a visita. Mais breves foram as palavras. Da sua boca, o desabafo apertado: ”Ainda não creio  que seja verdade… Como é que eu hei-de entrar naquela casa?”...
A verdade é que o seu homem já não estava naquela casa. Tinham-no levado, cadáver, para a morgue. O coração em vigília que sempre a esperava nas nocturnas paredes  do quarto desértico, afinal dera imprevistamente o sinal derradeiro. Acabara-se o tempo de espera.
E o domingo 13, claro prenúncio da primavera à porta, tornou-se escuro, como a noite da véspera que levou o companheiro da alegria e  da coragem… O escuro fez-se então negritude de um universal inverno ao ver, à luz de  relâmpago fugaz, que naquela cama de hospital estavam milhares e milhões de enxergas com gente dentro, esmagada pelo desgosto de não ter mais à sua espera  quem  sempre a esperara.
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No texto bíblico de domingo 13, uma estrela cadente descia diante dos meus olhos:
O Senhor abriu estradas através do mar
Veredas por entre as torrentes bravias…
Eis o que diz o Senhor:
Farei brotar água  no deserto
Rios na terra árida
Para matar a sede ao Meu Povo  ( Isaías, 43, 16-21)
Só penso numa coisa.
Olhar e lançar-me em frente
Continuar a correr até alcançar a meta (Paulo aos Filip, 3, 8-15)
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Foi então que a estrela cadente transfigurou-se em voo ascendente.
Olhei-a de novo, a face da mulher, como que sintonizada com o pensamento íntimo que me penetrara até aos ossos. Era ela a efígie serena de uma heroína vencedora no términus da batalha. Interiorizei bem fundo de mim a resposta afirmativa que imaginei ler-lhe nos olhos nimbados de um estranho brilho: “ O adeus final de quem amamos será o chão fértil  para alcançar a meta que sonhamos?”
E o Domingo 13,  de claro-escuro passou ao alto esplendor de um Dia Novo!

13.Mar.16
Martins Júnior

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