Domingo, 13, Faltam oito dias para ouvir-se no calendário sonoro das horas o repique a primavera. Está chegando a manhã clara.
Mas antes, atravesso o
túnel sombrio que leva à cama do hospital. Fui vê-la, aquela mulher que, mesmo
doente, era a saúde e a luz do homem que a amava. Quanto ele a amava! Todos os
dias subia à montanha para alentar os
pés doridos da resignada sofredora. E todas as noites esperava-a em casa, entre
quatro paredes onde faltava o sol e
sobrava a esperança de vê-la a seu lado.
Breve foi a visita. Mais
breves foram as palavras. Da sua boca, o desabafo apertado: ”Ainda não creio que seja verdade… Como é que eu hei-de entrar
naquela casa?”...
A verdade é que o seu
homem já não estava naquela casa. Tinham-no levado, cadáver, para a morgue. O
coração em vigília que sempre a esperava nas nocturnas paredes do quarto desértico, afinal dera
imprevistamente o sinal derradeiro. Acabara-se o tempo de espera.
E o domingo 13, claro
prenúncio da primavera à porta, tornou-se escuro, como a noite da véspera que
levou o companheiro da alegria e da coragem…
O escuro fez-se então negritude de um universal inverno ao ver, à luz de relâmpago fugaz, que naquela cama de hospital
estavam milhares e milhões de enxergas com gente dentro, esmagada pelo desgosto
de não ter mais à sua espera quem sempre a esperara.
…............................................
No texto bíblico de
domingo 13, uma estrela cadente descia diante dos meus olhos:
O
Senhor abriu estradas através do mar
Veredas
por entre as torrentes bravias…
Eis
o que diz o Senhor:
Farei
brotar água no deserto
Rios
na terra árida
Para
matar a sede ao Meu Povo ( Isaías, 43, 16-21)
Só
penso numa coisa.
Olhar
e lançar-me em frente
Continuar
a correr até alcançar a meta (Paulo
aos Filip, 3, 8-15)
………................................
Foi então que a estrela
cadente transfigurou-se em voo ascendente.
Olhei-a de novo, a face
da mulher, como que sintonizada com o pensamento íntimo que me penetrara até
aos ossos. Era ela a efígie serena de uma heroína vencedora no términus da batalha.
Interiorizei bem fundo de mim a resposta afirmativa que imaginei ler-lhe nos
olhos nimbados de um estranho brilho: “ O adeus final de quem amamos será o
chão fértil para alcançar a meta que
sonhamos?”
E o Domingo 13, de claro-escuro passou ao alto esplendor de um
Dia Novo!
13.Mar.16
Martins Júnior
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