Sem surpresa, ouço muita gente a
interpelar-me: ”Mas que salada russa é
essa de misturar no mesmo prato a Imagem
Peregrina com Maomé e a religião muçulmana?... É o que tentarei resumir em
poucas palavras.
Se muita gente pergunta é sinal que
pouca gente conhece que FÁTIMA é o nome
que o fundador do Islão deu à filha, fruto da união com Cadija, uma das suas nove mulheres. Esta Fátima casou mais tarde com Ali, tendo então iniciado a grande
dinastia dos Fatimidas, o único ramo que,
após sucessivas denominações (duodecímanos, septimanos) são considerados pelos xiitas como o único e legítimo califado descendente de Maomé. Consultando os manuais da especialidade
( Maomé, a Palavra de Alá, de
Anne-Marie Delcambre, O Islamismo, de
John Alden Williams, Grande Enciclopédia,
entre outros) lê-se que “Aquando da Reconquista Cristã aos árabes ocupantes
do território, uma princesa moura, de nome Fátima, fora aprisionada pelo exército
cristão e dada depois em
casamento ao Conde de Ourém”, permanecendo a designação original dada àquelas terras, em homenagem aos antepassados da
princesa homónima.
Com esta breve incursão pela história
que até nós chegou, ficarão muitos devotos irremediavelmente desiludidos ao
saber que Fátima ( cuja devoção começou há cem anos) não é nome nem sobrenome de Maria, Mãe de
Jesus, mas tão-só o nome de uma terra dedicada ou consagrada, desde há séculos,
à filha de Maomé, fundador da religião
muçulmana. Por isso que é lícito concluir que antes de nós, os cristãos, já os muros ou muçulmanos teriam
entoado loas e cânticos à sua “Santa Fátima”, a mãe dos primeiros fundadores do
Império Fatimida, seus sherifes e
scígidas.
As
voltas que o mundo dá! Tal como com a
colina do Vaticano onde Nero mandou queimar, vivos, os cristãos – e hoje é o
mesmo Vaticano a magnificente e soberana
sede do Cristianismo católico! Tal como as dioceses cristãs do Norte de África, Cartago,
Antioquia, Hipona, Damasco, outrora
florescentes e hoje entregues à religião e ao terror islâmicos!
De
onde se conclui que são os homens que fazem as religiões, isto é, a forma como
interpretam a crença, o invisível, numa palavra, o sagrado. São as pessoas que
sacralizam - ou demonizam! - os ambientes, a uns tornando-os santuários e a
outros transformando-os em infernos. L’enfer
sont les autres, acode-me à mente Jean Paul Sartre. E acrescento eu: L’enfer sommes nous.
De
onde também se impõe o corolário lógico: se as treze imagens, feitas por José
Tedim, o autor da Peregrina, são mais valiosas que as outras, mais modestas, que temos nos nossos templos ou nas nossas
casas, então caímos na mais perniciosa idolatria! E não podemos parar no raciocínio:
se a Senhora faz mais graças e milagres a quem vai à Cova da Iria e não os faz
a um pobre ou doente que não tem hipótese de lá ir, então está a dizer-se que
Ela não é Boa Mãe nem Boa Mulher. É essencial purificar a nossa crença. Se a
levamos ao fio ardente da insensata emotividade, cuidado, porque há outras liturgias ou outras
seitas que sabem explorar muito melhor o filão do sensacionalismo incontrolado.
E aí arrastam muito mais! É o que se tem visto: o crescimento de certos estilos
marginais, não reconhecidos pela Igreja, mesmo à nossa beira, mesmo nas barbas
do palácio da diocese!
Aos
que se aproveitam dos momentos de alucinação colectiva na mira de uma imagem
supostamente milagrosa, seria preciso bradar à sua consciência a imprecação do
nosso J.Cristo aos fariseus e aos sumos-sacerdotes que o desafiavam na arena do
sensacionalismo: “Que geração é esta,
má e adúltera, que me pede um sinal, um
milagre! (Mt. 12, 39; Lc. 11, 29-30). E,
mais veemente, em Mc8, 12.: “Por que me pede esta geração um sinal dos
céus? Então sou eu que vos asseguro, para vós não haverá sinal nenhum”!
Levem a Imagem, mas deixem a Senhora.
Mesmo
que não me faça nenhum milagre, gosto muito dela!
03.Mar.16
Martins Júnior
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