quinta-feira, 3 de março de 2016

Na hora dos lenços brancos – FATIMA, MAOMÉ, ISLÃO E “ESTA GERAÇÃO”


 Imagino-me no meio da multidão, cujos lenços brancos assinalam à Imagem a hora de sair  -  não apenas esta multidão e esta Senhora mas às treze multidões que fazem o mesmo às treze iguaizinhas imagens que andam por essas terras além  - e, por um momento, dou comigo a pensar  que as imensas gerações de muçulmanos, desde o século VIII até ao presente, fizeram ou seriam capazes de fazer o mesmo, repetindo com lágrimas nos olhos “Oh Fátima, adeus”, mas pensando noutra Fátima, a que estará na origem da toponímia que deu título àquela sediada na Cova da Iria, concelho de Ourém.
         Sem surpresa, ouço muita gente a interpelar-me: ”Mas que salada russa é essa de misturar no mesmo prato  a Imagem Peregrina com Maomé e a religião muçulmana?... É o que tentarei resumir em poucas palavras.
         Se muita gente pergunta é sinal que pouca gente conhece que FÁTIMA é  o nome que o fundador do Islão deu à filha, fruto da união com  Cadija, uma das suas nove mulheres. Esta Fátima casou mais tarde com Ali, tendo então iniciado a grande dinastia dos Fatimidas, o único ramo que, após sucessivas denominações (duodecímanos, septimanos) são considerados pelos xiitas como  o único e legítimo califado  descendente de  Maomé. Consultando os manuais da especialidade ( Maomé, a Palavra de Alá, de Anne-Marie Delcambre, O Islamismo, de John Alden Williams, Grande Enciclopédia, entre outros)  lê-se que “Aquando da Reconquista Cristã aos árabes ocupantes do território, uma princesa moura, de nome Fátima, fora aprisionada  pelo exército  cristão  e dada depois em casamento ao Conde de Ourém”,  permanecendo a designação original dada  àquelas terras, em homenagem aos antepassados da princesa  homónima.
         Com esta breve incursão pela história que até nós chegou, ficarão muitos devotos irremediavelmente desiludidos ao saber que Fátima ( cuja devoção começou há cem anos)  não é nome nem sobrenome de Maria, Mãe de Jesus, mas tão-só o nome de uma terra dedicada ou consagrada, desde há séculos,  à filha de Maomé, fundador da religião muçulmana. Por isso que é lícito concluir que antes de nós, os  cristãos, já os muros ou muçulmanos teriam entoado loas e cânticos à sua “Santa Fátima”, a mãe dos primeiros fundadores do Império Fatimida, seus sherifes e scígidas.
As voltas que o mundo dá!  Tal como com a colina do Vaticano onde Nero mandou queimar, vivos, os cristãos – e hoje é o mesmo  Vaticano a magnificente e soberana sede do Cristianismo católico! Tal como as  dioceses cristãs do Norte de África, Cartago, Antioquia,  Hipona, Damasco, outrora florescentes e hoje entregues à religião e ao terror islâmicos!
De onde se conclui que são os homens que fazem as religiões, isto é, a forma como interpretam a crença, o invisível, numa palavra, o sagrado. São as pessoas que sacralizam - ou demonizam! - os ambientes, a uns tornando-os santuários e a outros transformando-os em infernos. L’enfer sont les autres, acode-me à mente Jean Paul Sartre. E acrescento eu: L’enfer sommes nous.
De onde também se impõe o corolário lógico: se as treze imagens, feitas por José Tedim, o autor da Peregrina, são mais valiosas que as outras, mais modestas,  que temos nos nossos templos ou nas nossas casas, então caímos  na mais perniciosa  idolatria! E não podemos parar no raciocínio: se a  Senhora faz mais graças e  milagres a quem vai à Cova da Iria e não os faz  a um pobre ou doente que não tem  hipótese de lá ir, então está a dizer-se que Ela não é Boa Mãe nem Boa Mulher. É essencial purificar a nossa crença. Se a levamos ao fio ardente da insensata emotividade,  cuidado, porque há outras liturgias ou outras seitas que sabem explorar muito melhor o filão do sensacionalismo incontrolado. E aí arrastam muito mais! É o que se tem visto: o crescimento de certos estilos marginais, não reconhecidos pela Igreja, mesmo à nossa beira, mesmo nas barbas do palácio da diocese!
Aos que se aproveitam dos momentos de alucinação colectiva na mira de uma imagem supostamente milagrosa, seria preciso bradar à sua consciência a imprecação do nosso J.Cristo aos fariseus e aos sumos-sacerdotes que o desafiavam na arena do sensacionalismo: “Que geração é esta, má e adúltera, que me pede um sinal, um milagre!  (Mt. 12, 39; Lc. 11, 29-30). E, mais veemente, em Mc8, 12.: “Por que me pede esta geração um sinal dos céus? Então sou eu que vos asseguro, para vós não haverá sinal nenhum”!
 Levem a Imagem, mas deixem a Senhora.
Mesmo que não me faça nenhum milagre, gosto muito dela!


03.Mar.16
Martins Júnior

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