Içaram
as velas as jóias da Coroa
De Sagres ou de Lisboa
Das sete partilhas do mundo
As águias marinhas
Mais altas que os promontórios
São agora argonautas-rainhas
Mais que Ulisses, Neptuno e Marte
Brasonados do Império
Ninfas altivas cobiçadas
Saídas das telas de arte
Perfilam-se na amurada
Tangem trombetas de metálico alarde
E a Real Armada
Ribomba e troa
O canhão da proa
“Por El-Rei – é hora da largada”!
Troncos tisnados, braços de Atlantes
Agarram-se ao cordame
E do cais saltam olhos mareantes
Agitam a baía e o velame
Arraial arraial
Que vão partir as naus do estaleiro real
Mas nem um sopro nem um ai
Nem um lenço branco nem um mastro alto
Das naus reais nenhuma sai
Entrou o cais em sobressalto
Granadas explodem nos canhões
Retiram-se os barões
Toca a rebate a assembleia
Decreta-se a morte ou a cadeia
Ao vento que fez greve
E ao mar que não se alteia
Abrem-se os cofres despejam-se milhares
Mas não comovem os ventos nem os mares
A multidão na ribalta da amurada
Torcendo os braços da varanda
Grita e enfurece
“A maré está cheia e o barco não anda”.
Murcham as velas nos mastros
Os atlantes estão de rastros
E as águias reais já não sonham com os
astros
Por que o vento não se decreta
A alma não se compra
Não se vende o amor-motor
E não tem preço o sopro criador
Escrita nas ondas uma voz discreta
Sussurra como um grito em linha recta:
Tendes cascos de ouro velas de
filigrana
Escotas e lemes de prata
Tendes o aquático trono da fama
Tendes o corpo milionário do magnata
Tendes tudo
Menos o que é gratuito e forte
A alma inteira e o vento norte
´´´´´´´´´
Lá longe, fora da barra
Afrontando o mar bravo e o perigo
Um frágil batel que se desgarra
Corre veloz por sobre um sonho antigo
A alma o leva
E o vento o alevanta
Ironia sem limite
Solitário proletário
Fez da vela a sua manta
E é maior
Que as esquadras estagnadas
No fundo orgulho rotundo
Porque é o vento e é o amor
Quem leva a “casca de noz”
Às ilhas do outro mundo
25.Set.16
Martins
Júnior
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