Imperdoável
seria deixar bater as vinte e quatro badaladas deste 13 de Outubro sem convidar
para o coração da nossa cidade o aclamado hoje, em Nova Iork, Secretário Geral
das Nações Unidas, António Guterres. Não pelo patrioteiro rótulo de ser
português, mas pelo clarão de esperança que ele traz ao mundo. Antes de chegar
à magna Assembleia da ONU, já ele passara por cá, como a foto documenta.
Mais
que palmas e panegíricos, apraz-me reter desta aclamação as ilações que dela
derivam.
Primeiro,
a oportunidade de ouro, sabiamente aproveitada pelos países eleitores para
prestigiar a Sociedade das Nações, numa altura periclitante em que ia resvalando na mais repugnante promiscuidade de
interesses, quando a Srª Merkel atirou para a cena a candidata Kristalina Georgieva.
Felizmente a transparência e a honestidade impuseram-se aos oportunismos
nacionalistas.
Já
foram internacionalmente elencados os altos predicados de António Guterres que
o tornaram o supremo candidato ao majestoso trono para que foi eleito.
Eloquentes foram as duas palavras com que subiu à tribuna: “Humildade e gratidão”.
Relevo, porém, a primeira. Se este deve ser o estado de alma de quem é
designado para o mais modesto pódio de
uma autarquia, junta, câmara, governo regional ou nacional, quanto mais para
quem lhe cai aos ombros toda a estrutura do planeta. Não é apenas de finanças
que lhe impende a responsabilidade, nem da fome, nem da saúde, nem das
alterações climáticas, nem da crise identitária, nem da religião, nem dos
conflitos rácicos, nem das multinacionais. É de tudo isso, ao mesmo tempo que será amassado o seu pão-de-cada-dia. Podem
cognominá-lo de “Senhor dos Anéis”, Dono do Mundo, Juiz das Nações. Mas nada
disso o conforta ou acende sequer um lampejo de dominadora ambição. O conteúdo
funcional e final de cinco anos de mandato é o de um Arcanjo Pacificador, quase
que um Extra-terrestre, que irrompe entre as hostes do ódio e da
guerra e aí serena ventos e furacões, cala as armas e transforma-as em
altifalantes da Paz.
O quanto de labor insano, dias e noites
aos pés de guerrilheiros e refugiados, o quanto de paciência expectante e, aí,
frustradas expectativas, enfim, uma odisseia imparável que nem uma vida inteira
seria capaz de levar a bom porto! A diplomacia, com toda a habilidade que lhe é
reconhecida, não vai chegar. Virão os
meridianos inultrapassáveis em que será inadiável fazer opções, decidir. E é neste
nó crítico – a hora de decidir - que, dizem os analistas, Guterres não brilha. Abandonou
o poder, quando Primeiro-Ministro, antes que Portugal se tornasse num “pântano”, disse
então. Mas o que ele vai encontrar não é
um pântano, mas um bravio vulcão incandescente. E não queremos vê-lo no papel
intransitivo de um Ban Ki-moon ou nas diplomáticas indefinições de um Kofi Annan. Segundo a visão dos especialistas
internacionais, assumir-se como Secretário
Das Nações Unidas é, hoje, muito mais problemático e penoso que nos tempos da
Guerra-Fria, em que o mundo estava identificado no confronto de dois blocos:
URSS e EUA. Não assim, agora, porque os focos de rebelião deixaram de ser entre
duas potências, para se tornarem em guerras regionais, conflitos dispersos no
terreno, reacendendo-se em locais antes imprevisíveis.
Restam-nos as auspiciosas qualificações
que vêm de longe, desde os tempos de estudante universitário em que ocupava as
férias no apoio aos bairros da periferia lisboeta. Conforta-nos a simpatia do
Papa Francisco com esta eleição. Tenho
para mim que António Guterres será o braço civil do Papa Francisco, o seu estratega operativo no mundo actual. Será ele, António Guterres, no final do
mandato, o mais convincente Prémio Nobel da Paz.
Quando chegar esse dia, Machico poderá
aclamar e proclamar: ELE ESTEVE AQUI, no coração da nossa cidade!
13.Out.16
Martins
Júnior
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