Vinte
e dois de Outubro, sábado cheio de Machico à procura de si mesmo. Que disse
eu?... De Machico?... Mais, muito mais.. Foi um sábado pleno de cada homem e de cada mulher à descoberta do seu mundo.
Já
me referi na última conversa convosco à obra de arte, sonhada pelo Criador – o efémero
e frágil ser humano – em constante confronto dialéctico com o seu Autor, no
percurso atribulado da História. Foi a prodigiosa saga cénica da peça “OPUS”.
Antes disso, porém, passou-se todo o
dia a mergulhar nos fundos marinhos, sem termo, da psicologia humana, entre
dois polos: o da antiga Grécia, a do filósofo Sócrates (“Gnóti sè autón”- conhece-te a ti próprio) - , e a definição do homem-em-situação (“O homem é aquilo que é, mais a sua circunstância”). A
circunstância do lugar, da génese, do temperamento e do carácter, da relação
com o outro.
Este
longo e abissal roteiro aconteceu no “Seminário de Psicologia”, desde a manhã
até à tarde do último sábado, para os mais de cem participantes, professores,
alunos, educadores, que encheram o nosso
“Forum”. Dou a mão à palmatória pelo
cepticismo com que encarei a iniciativa. Nunca pensei que as jovens psicólogas
de Machico fossem capazes de tamanho feito. Está visto e comprovado que a
descentralização da cultura terá de ser sempre tarefa dos que habitam as
periferias da capital. Esta é a primeira
lição.
Quem
compulsar o Programa verá que se tratou de um manual enciclopédico que abarcou
matérias tão distintas, na área da Psicologia, destacando-se o melindroso
âmbito da “Psicologia Forense e as Perícias Psicológicas”, na esclarecedora exposição inicial, da
responsabilidade do Prof. Dr. Rui Abrunhosa Gonçalves. da Universidade do
Minho. Ao mesmo nível, o estudo da “Violência Doméstica, após 20 anos de investigação”,
da Prof. Dra. Marlene Matos, da mesma Universidade, desvendou-nos os meandros
labirínticos de um sub-mundo cada vez mais a descoberto nos nossos dias,
gerador de chagas sociais, tantas vezes
insanáveis e destruidoras de uma sociedade presente e futura, que se pretende
feliz e harmoniosa. “A Importância de uma Abordagem Muitidisciplinar em Saúde Mental, ou a
interdependência entre Psicologia e Psiquiatria”, uma dissertação de índole
académica, a cargo da Dra. Carla Spínola, médica psiquiatra do Centro Hospitalar
de Lisboa Ocidental, abriu-nos as muitas variáveis por que se pautam os nossos
comportamentos, confirmando o velho axioma de que “não há doenças, há doentes”.
Duas classes profissionais estiveram em
foco, com o tal “saber de experiência feito” – a do Subcomissário Adelino
Camacho, sobre a “Importância da figura do Psicólogo na PSP” e a da Dra. Filipa
Oliveira, da UMa, trazendo à colação
o síndroma “Bournot” nos profissionais da Educação, ou seja, o depauperamento
psíquica do docente, devido à intensividade do espinhoso cargo de ensinar, um
drama tão ignorado quanto menosprezado por utentes e responsáveis públicos.
Testemunhos
experienciais, ao vivo, completaram um dia inteiro que passou tão rápido, como
se de uma hora se tratasse. Neste “item”, atrevi-me a observar que, na grande
constelação dos educadores, deveriam figurar os animadores sócio-culturais e
religiosos das diversas comunidades locais (ninguém apareceu) visto que, por
inerência indissociável da sua acção pastoral, deveriam ali estar, para ouvir,
mais que para falar, pois o saudável crescimento
psicossomático do ser humano - “alma sã
em corpo são“ - deve alicerçar-se em
conhecimentos científicos e não em mitos
e mèzinhas devocionais.
Bravo,
jovens psicólogas que, com o apoio da PSICAF
( Serviço de Psicologia e Avaliação Forense) e da Câmara Municipal de
Machico, levastes a cabo tão prestimosa iniciativa, reveladora de um autêntico
serviço público!
Queria
eu terminar com esta saudação positiva e reconfortante.
Mas
não posso. Por dois motivos.
Primeiro,
ao abrir ontem a imprensa diária deparo-me com uma machadada no grande feito de
sábado passado: a Secretaria Regional da Educação retira os psicólogos de quatro escolas, deixando dois
mil alunos sem apoio. Comentários, para quê? Tome-se nota: os tripulantes remam para a frente, os
comandantes puxam para trás! Segunda
decepção: estranhei a ausência de um representante do governo num acontecimento
que primariamente lhe impende. Afinal, mais tarde soube-se particularmente que foi
convidado, mas recusou porque do Programa não constava a sua intervenção.
Arranjem-lhe um pedopsiquiatra, depressa!
Aos
organizadores, entusiasticamente recomendo e aguardo a cereja em cima do bolo: o
II Seminário de Psicologia em 2017.
25.Out.16
Martins Júnior
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