De
sábado para domingo, são tantas as propostas de evasão e entretenimento abertas
por aí fora, que nem há folga para ementas pesadas na nossa mesa de leitura. E
hoje não fugirei ao protocolo vadio, porque descontraído, de fim-de-semana.
“Surfando” (está na moda) ao de leve e ao sabor das ondas superficiais,
distraio-me, hoje - distrair-se pode significar concentrar-se - nos buracos
e buraquinhos, quase sempre atribulações e trambolhões, que não nos
deixam prosseguir o viajar normal dos planos traçados. “Guerras do alecrim e da
manjerona”, diria António José Silva, “O Judeu”, ou a comédia
“Quem tem farelos”, do fundador do teatro português, Gil Vicente. Levem,
pois, à conta de uma conversa sobre
tragédias da treta o que trago hoje à colação.
Quanto
mais alto é o cargo e mais determinante o estatuto de quem dirige a locomotiva,
mais lhe caem na frente estes escolhos imprevisíveis que se atravessam como
pica-miolos irritantes, desestabilizadores. Falo, por exemplo, da política e da
religião. Tento pôr-me na pele dos timoneiros de um país, de um continente, do
mundo todo, quiçá, e avaliar a sobretaxa de paciência que devem carregar aos
ombros para engolir ad nauseam sapos, trapos, cacos que, na expressão do
nosso comediante Raul Solnado, “não matam, mas desmoralizam”.
Planeia
um Primeiro Ministro a viagem, faz-se ao largo e logo na primeira ilhota, há um
oficial que promete uns “tabefes” a um qualquer marinheiro de canoa e lá está o
comandante à pega, até ver-se obrigado a mandar o colega borda-fora.
Mais adiante, um tripulante de confiança apanha boleia para ir ver o
europeu de futebol e – pronto! – querem que o rapaz vá p’rás Selvagens. Adeus
plano de viagem, adeus rumo, adeus bússola… Eis senão quando aparece um moço de
bordo com um canudo falso de novas e velhas universidades e, a seguir, mais
outro. O comandante tem de arribar e atirar à praia mais dois náufragos por não
saberem nadar. Lá se foi o diário de viagem. O homem nem tempo tem de se coçar.
Só faltava esta: o caixeiro-viajante
mete os pés ao casco – arre burro! – e teima em não apresentar o vale da
mercearia com os trocos que ganha. O melhor que faz o arrais do barco é “fugir
para ilha”… de Cuba! Ou mandá-lo às almas do Tribunal Constitucional. E o
projecto , outra vez ao ar! Os que exigem a demissão do ministro não pediram, a
tempo, a cabeça nem do Primeiro nem do
Segundo jardineiro DrDrDrDr… da relva!
Se
a barcaça for o planeta, então o caso
muda de tamanho e brado. Vejo o Papa, “vindo do fim do mundo” para erguer o
princípio de um outro mundo novo e logo de entrada acha um velho cardeal,
travestido de raça Rottweiler, que lhe vai às canelas para fazer tombar o septuagenário
argentino. Depois, há um “pastorzinho alemão”, bispo caloiro em folha, e constrói para
si uma mansão salomónica de 30 milhões de euros. E o pobre Francisco, que se
recusou a viver sumptuosamente no
Palácio do Vaticano, tem de aturar um “badameco” desses, candidato em nome de
Cristo a príncipe germânico… Dá, mais adiante, com o nariz num cardeal
americano, num bispo irlandês, num padre impecável de gola e batina, muitos e
muitos, metidos em crimes de pedofilia…
e o Papa Santo entra em parafuso e já não acha o missal onde tinha desenhado o
divino plano para um mundo novo, um mundo melhor. Mais ridículo, ainda, é
quando lhe trazem um testamento para decidir se as cinzas ficam na terra, no
mar ou no ar. Muito tem de suportar para não mandar tudo às urtigas! Também só
faltava esta: o sr. Robert Sarah, cardeal-arcebispo africano da Guiné
Equatorial que quer à tripa-força a missa com o celebrante de costas para o
povo, como há 60, 100, 200 anos. E tem o desplante de afirmar que a igualdade
de género (homem-mulher) tem feito mais estrago no mundo que os ataques do Estado Islâmico!!!
Quem
pode seguir caminho com tanto buraco na estrada, tantos ratos-de-esgoto bem
vestidos, tantos pica-miolos de picareta em punho?!...
De minimis non curat praetor - dizia-me alguém, aquando da minha passagem à
frente do município de Machico. “O pretor (governante romano) não deve
ocupar-se de coisas mínimas”, acidentais, transitórias. Que não são propriamente
“mínimas” as questões eclesiásticas que
mencionei.
Mas não é fácil. Muita
força e persistência terão de ganhar os líderes, para não perder nem a bússola
nem o horizonte dos seus ideais.
Afinal,
comecei por distrair-me e acabei por concentrar-me. Assim fica.
29.Out.16
Martins Júnior
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