Chegando
às vésperas de Abril, as encostas da ilha rescendem a cravos mil, bordejando o
dorso das montanhas, descendo até ao azul da baía. Cheira a Abril, desde o vale
até ao sol em vértice aberto sobre a terra.
Aos 44 anos, a manhã de outrora toma a veste da ternura e do feitiço que
encanta e desencanta, para tornar-se
outra vez horizonte promissor na palma da nossa mão – na mão do Povo Português.
Sinto-o
desde sempre, mas neste ano de capicua celebrativa ele surge no verde ramo dos
campos com o canto álacre dos pássaros, da brisa corrente que paira no ar.
Sinto-o, ao tomar conhecimento de outras paisagens, vilas e aldeias onde está
anunciado o pregão de uma era nova. São diversas - e todas estimáveis – as iniciativas que
espontaneamente latejam aqui, acolá e mais além por essa Madeira toda até atingir as praias do Porto Santo. Foram
precisas quatro décadas para que muitas localidades madeirenses quebrassem os
traumas do negacionismo político e ganhassem a força capaz de erguer
o Cravo da Liberdade
A
par de outros eventos concomitantes, de ordem cultural e desportiva, vejo com
simpatia que as associações de base organizam-se para ‘levantar de novo o
esplendor’ de Abril. Sinais dos tempos! E também reacção espontânea contra a
alabarda que impuseram ao pescoço de toda uma população, proibindo qualquer
comemoração, a nível oficial, da gloriosa data
que emancipou a Madeira da menoridade a que fora submetida durante quase
meio século. Fenomenal o projecto de
juntar nesta ilha a “coluna do capitão Salgueiro”, de que fazem parte soldados
e graduados madeirenses! Monumento vivo da Revolução dos Cravos, enquanto
jornalista do “25 de Abril”, o grande Adelino Gomes, presente na Região. Recordo com emoção a sua conferência em Machico, há mais de duas
décadas, nesta mesma data. Vai ele agora, nesta nobre cruzada, levar o seu
testemunho às escolas do Funchal e à vila da Camacha. Viva!
Porque
se trata apenas da ribalta comemorativa, desde logo antevejo em Machico quatro
de várias iniciativas programadas: A sessão pública, a céu-aberto, na Praça do
Município, em 25 de Abril; na véspera, a
evocação de Zeca Afonso, na vetusta capela de São Roque com intérpretes e baladistas
do “Grupo Madeirense de Fados de Coimbra”; o concerto das “Canções de Abril”, em 25, pelo Grupo Coral. E, em 29, o lançamento do
livro do Dr. Bernardo Martins, “Machico no 25 de Abril”. A Corrida pela
Liberdade, também em 25, entre Machico e Santa Cruz ganha um impulso simbólico
ainda maior.
Outras
modalidades, mais modestas mas não menos incisivas, acontecem por estes dias,
entre os quais a transmissão de conhecimentos sobre “Os difíceis Caminhos da
Democracia”, hoje concretizada na Escola Secundária de Santa Cruz, para a qual fora solicitada a minha modesta prestação.
Apreciei a atenção dos alunos de duas turmas do 12º ano, bem como as questões –
muito sérias – que me foram colocadas, numa demonstração clara de que a
Juventude prepara-se para assumir a condução do seu futuro, até alcançar os
horizontes de um Abril mobilizador da
sociedade.
“Levantemo-nos
de manhã cedo para ir às vinhas, vejamos já florescem as vides, abre-se a flor,
já brotam as romeiras … As mandrágoras dão cheiro e à nossa porta há toda a espécie
de frutos, novos e velhos. Eu guardei-os para ti, ó minha amada”!
Este
excerto do poema “Cântico dos Cânticos” de Salomão, (7, 12-13), fui gostosamente pespontar para exprimir a atmosfera inebriante, mas
dinamizadora, que exalam os cravos de Abril. que, nesta hora, alcatifam o chão
das nossas casas.
Se
a maratona da vida se assemelha à grande corrida do MIUT, ora em curso, então
somos prontos a afiançar: Presente! Nós estamos lá! Na crista montanhosa do “25
de Abril”!
21.Abr.17
Martins Júnior
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