sábado, 29 de abril de 2017

UM LIVRO HISTÓRICO NOS ANAIS DESTE CONCELHO


Foi a apoteose de Abril em Machico!  
Com toda a propriedade, dela se pode dizer o adágio latino Finis coronnat opus – o fim é a coroa de toda a obra. O variegado quadro das comemorações do 43º aniversário da Revolução dos Cravos em Machico encontrou o seu último traço de mestre na apresentação do livro do Dr. Bernardo Martins – O 25 DE ABRIL EM MACHICO – lançado no salão nobre da Câmara Municipal, presidida por Ricardo Franco, que patrocinou a publicação.
A obra é a narrativa isenta, mas apaixonante, do período áureo da liberdade democrática e da verdadeira autonomia de uma “pátria” - como chamou à sua terra Francisco Álvares de Nóbrega - numa porfiada luta feita pelo Povo, com o Povo e para o Povo de Machico. É um testemunho ao vivo e na hora que, mais cedo ou mais tarde, teria de ser fixado para memória futura. Foi o cântico genesíaco, a idade da inocência revolucionária, esse dealbar de uma era nova, suspirada e nunca conseguida, na história de cinco séculos da capitania de Tristão Vaz: uma população de operários, pescadores e colonos, servos da gleba,  escravizada pelos senhores das terras e pelos detentores do poder, “tomou um fôlego” e soltou este refrão de vitória –  O Povo Unido jamais será vencido/ Em cada rua, no campo ou na cidade/ O Povo canta a canção da Liberdade.
No entanto, o livro do Dr. Bernardo Martins (a tese constitutiva do seu Mestrado na Uma, sob orientação do Prof.Dr. Nelson Viríssimo)  evidencia um trabalho rigoroso, diria frio, com uma metodologia científica a toda a prova, pois que apresenta as múltiplas versões dos intervenientes de então, alguns já falecidos, enfim a tese e a antítese, os “prós e os contras”, cabendo ao leitor extrair a síntese  conclusiva. Tarefa delicada a do Autor, visto que teve de ultrapassar a natural pendência de narrador homodiegético (esteve dentro dos acontecimentos) e colocar-se de fora,  como narrador heterodiegético, portanto imparcial e austero. De todo o modo, a obra histórica é um processo sempre inacabado. Muitos dramas, muitos espinhos cravados nos cravos de Machico pelos herdeiros do regime deposto, muitos hiatos eloquentes guardados na retina e no coração de quantos sofreram para construir o monumento erguido pelo Povo, a peso de ombro e à força pacífica do seu braço – enfim, muito  ainda está por contar. Por isso, considero este trabalho como o Tomo I ou Volume I de um percurso em que todos e cada um somos desafiados a escrever.  
Nunca será demais – e isso está largamente espelhado nas 269 páginas  do livro – relevar que a afirmação de Abril em Machico foi obra do Povo, na vanguarda das suas conquistas. Tal como em 1383 com o Mestre de Avis, tal como em 1974 com  Salgueiro Maia e os valorosos militares no Largo do Carmo em Lisboa, assim também em Machico o Povo é que foi o protagonista e bandeirante da Vitória. Os líderes de então mais não fizeram do que seguir atrás do Povo, decidido na sua marcha sem termo. Por essa razão, Machico nunca conheceu o sabor amargo da derrota, sabendo que “só é derrotado quem desiste de lutar”. É esse o grande mérito que o livro condensa e todos reconhecemos.


O salão nobre do Município, repleto de gente de Machico, Funchal e outras zonas da Madeira, de diferentes estratos sociais, culturais e políticos, e com a assertiva presença da edilidade, Assembleia Municipal, Câmara e Junta de Freguesia, todos demonstraram o seu apreço pelo trabalho apresentado e, com a actuação dos mais jovens nos cordofones (eles, os continuadores de Abril)  encheram o ambiente e levantaram os ânimos com a canção ex-libris de Machico:
FESTA
FESTA DO POVO
O POVO É QUEM TRABALHA
E FAZ O MUNDO NOVO

“O vinte e cinco de Abril
Foi um dia de alegria
Portugal entrou de novo
No clarão de um novo dia

Queremos um Povo unido
Cada vez mais a valer
O direito está no Povo
Não se vai deixar perder

Viva o Povo que trabalha
E dá toda a produção
Ele um dia há-de vencer
E mandar toda a nação”

29.Abr.17

Martins Júnior

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