Foi
a apoteose de Abril em Machico!
Com
toda a propriedade, dela se pode dizer o adágio latino Finis coronnat opus – o fim é a coroa de toda a obra. O variegado
quadro das comemorações do 43º aniversário da Revolução dos Cravos em Machico
encontrou o seu último traço de mestre na apresentação do livro do Dr. Bernardo
Martins – O 25 DE ABRIL EM MACHICO – lançado no salão nobre da Câmara Municipal,
presidida por Ricardo Franco, que patrocinou a publicação.
A
obra é a narrativa isenta, mas apaixonante, do período áureo da liberdade
democrática e da verdadeira autonomia de uma “pátria” - como chamou à sua terra
Francisco Álvares de Nóbrega - numa porfiada luta feita pelo Povo, com o Povo e
para o Povo de Machico. É um testemunho ao vivo e na hora que, mais cedo ou
mais tarde, teria de ser fixado para memória futura. Foi o cântico genesíaco, a
idade da inocência revolucionária, esse dealbar de uma era nova, suspirada e
nunca conseguida, na história de cinco séculos da capitania de Tristão Vaz: uma
população de operários, pescadores e colonos, servos da gleba, escravizada pelos senhores das terras e pelos
detentores do poder, “tomou um fôlego” e soltou este refrão de vitória – O
Povo Unido jamais será vencido/ Em cada rua, no campo ou na cidade/ O Povo
canta a canção da Liberdade.
No
entanto, o livro do Dr. Bernardo Martins (a tese constitutiva do seu Mestrado na
Uma, sob orientação do Prof.Dr. Nelson Viríssimo) evidencia um trabalho rigoroso, diria frio, com
uma metodologia científica a toda a prova, pois que apresenta as múltiplas
versões dos intervenientes de então, alguns já falecidos, enfim a tese e a
antítese, os “prós e os contras”, cabendo ao leitor extrair a síntese conclusiva. Tarefa delicada a do Autor, visto
que teve de ultrapassar a natural pendência de narrador homodiegético (esteve
dentro dos acontecimentos) e colocar-se de fora, como narrador heterodiegético, portanto imparcial
e austero. De todo o modo, a obra histórica é um processo sempre inacabado.
Muitos dramas, muitos espinhos cravados nos cravos de Machico pelos herdeiros
do regime deposto, muitos hiatos eloquentes guardados na retina e no coração de
quantos sofreram para construir o monumento erguido pelo Povo, a peso de ombro
e à força pacífica do seu braço – enfim, muito ainda está por contar. Por isso, considero
este trabalho como o Tomo I ou Volume I de um percurso em que todos e cada um
somos desafiados a escrever.
Nunca
será demais – e isso está largamente espelhado nas 269 páginas do livro – relevar que a afirmação de Abril em
Machico foi obra do Povo, na vanguarda das suas conquistas. Tal como em 1383
com o Mestre de Avis, tal como em 1974 com Salgueiro Maia e os valorosos militares no
Largo do Carmo em Lisboa, assim também em Machico o Povo é que foi o
protagonista e bandeirante da Vitória. Os líderes de então mais não fizeram do que
seguir atrás do Povo, decidido na sua marcha sem termo. Por essa razão, Machico
nunca conheceu o sabor amargo da derrota, sabendo que “só é derrotado quem
desiste de lutar”. É esse o grande mérito que o livro condensa e todos
reconhecemos.
O
salão nobre do Município, repleto de gente de Machico, Funchal e outras zonas
da Madeira, de diferentes estratos sociais, culturais e políticos, e com a assertiva
presença da edilidade, Assembleia Municipal, Câmara e Junta de Freguesia, todos
demonstraram o seu apreço pelo trabalho apresentado e, com a actuação dos mais
jovens nos cordofones (eles, os continuadores de Abril) encheram o ambiente e levantaram os ânimos com
a canção ex-libris de Machico:
FESTA
FESTA DO POVO
O POVO É QUEM TRABALHA
E FAZ O MUNDO NOVO
“O
vinte e cinco de Abril
Foi
um dia de alegria
Portugal
entrou de novo
No
clarão de um novo dia
Queremos
um Povo unido
Cada
vez mais a valer
O
direito está no Povo
Não
se vai deixar perder
Viva
o Povo que trabalha
E
dá toda a produção
Ele
um dia há-de vencer
E
mandar toda a nação”
29.Abr.17
Martins Júnior
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