quarta-feira, 19 de abril de 2017

MENSAGEM PARA TODO O MUNDO ! – UMA ENTREVISTA DE ANSELMO BORGES


Não ouso levar as mãos ao computador sem pedir licença ao Prof. Doutor Anselmo Borges para deixar debruçar-me sobre a grande enciclopédia que nos abriu nas páginas do semanário ‘Expresso’ de sábado último. Falo assim porque em toda a sua entrevista mergulhamos num oceano de descobertas, tão vasto, tão intenso e tão ousado que só o alcança quem partilha a sabedoria e a coragem do autor.
Embora situada numa determinada época e lugar, trata-se de uma entrevista intemporal: ninguém, nem o tempo nem o espaço  apagarão as luminosas pegadas indelevelmente marcadas no seu texto. Lidas daqui a 50 ou 100 anos, ficarão como anúncio profético e proclamação de um presente que se projecta no futuro. Os temas abordados pela jornalista Cristiana Martins são da maior candência e actualidade, às quais o  entrevistado respondeu com assumida frontalidade, uma atitude tão diferente dos “funcionários do templo” que se enrodilham em meneios e evasivas, próprias  de quem tem medo da Verdade.. Mais impressiva e premente foi a abordagem do caso Fátima. Numa encruzilhada de sinais contrários ( de um lado, a obsessão mística, a roçar a superstição e o paganismo; do outro, os ataques mais soezes e justificados contra a exploração mercantil da Cova da Iria), Anselmo Borges define com a ciência e a transparência que lhe são peculiares  os conceitos de ‘visão e aparição’ para, serena e seguramente, concluir: “É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima”. Acompanho-o, lembrando-me da resposta de Cristo, quando interpelado por Caifás, sobre os conteúdos da sua doutrina: “Eu sempre falei abertamente em público, para todos os que me quiseram escutar. Pergunta-lhes, pois,  pelo que eu disse”. O nosso Mestre ( por maioria de razão, a Sua Mãe) quando aparece  é visto e ouvido  por todos os circunstantes. Outro fenómeno é o da ‘visão’ privada, da iniciativa particular.
Mas a mundividência e a transcendência do seu pensamento vai muito para além da casuística pontual, mesmo que se chame Fátima. Anselmo Borges abarca toda a amplitude do Homem em busca de Deus, a Instituição Igreja, o sacerdócio e a sexualidade, a ordenação das mulheres, enfim, o Papa Francisco e a guerra aberta contra ele dentro dos  muros do Vaticano. E fá-lo, civicamente,  mas com a firmeza e a verticalidade que o caracterizam. Aí, identifico-o com o Papa Francisco.
Ao ler e ouvir o Prof. Doutor Anselmo Borges, ocorre-me estoutro testemunho bíblico acerca de Cristo: “Quando Ele fala – fala como quem tem autoridade”. Não se configura esta minha afirmação com qualquer recurso estilístico denominado hipérbole. Não é exagero, não. Porque Anselmo fala com a experiência missionária em Moçambique, ensina com o saber adquirido em Roma e aperfeiçoado na Alemanha, através dos maiores teólogos mundiais, como Hans Kung, por todos.  As suas conferências, solicitadas dentro e fora do país, bem como os  seus livros são alicerçados nos grandes mestres do pensamento de ontem e de hoje, Aristóteles, Tomás de Aquino, Kant e a sua arquitectura filosófica,  Castillo,  Pagola,  Andrès Torres Queiruga, só para citar alguns. Os artigos que publica, às sextas, no ‘Diário de Notícias’ de Lisboa, representam o “pão partido aos pequeninos”, tal a clareza do seu pensamento, sem perder a sua profundidade.  A “auctoritas” de Anselmo Borges advém ainda do seu talento catalisador que consegue unir escritores, poetas, filósofos, teólogos, catedráticos e jovens, homens e mulheres por todo este país, em teatros, auditórios públicos, universidades, promovendo o diálogo inter-religioso, o debate de ideias e propostas para a construção de um mundo habitável, na perspectiva de conciliar a fé e a ciência. Isso mesmo acontecerá brevemente com o seu novo livro sobre o Papa Francisco. Tal como este, ele tem uma audiência maior entre os que, à margem da Igreja, têm fome e sede de Deus.
Não posso deixar de marcar com sinal mais dois momentos que evidenciam o saber e a coragem de Anselmo Borges: o debate no casino da Figueira da Foz sobre uma das suas obras – “Corpo e Transcendência” -  de que destaco o acurado estudo sobre Fernando Pessoa. O outro, aqui no Funchal, quando, a convite do “Festival Literário”, veio apresentar o livro de  Naomi Wolf , que tem por título a provocadora e sintética expressão: “Vagina”. Foi absolutamente deslumbrante e de inexcedível dignidade o seu discurso.
Por isto e por muito mais, acredito em Anselmo Borges. Não estarei errado se disser que em Portugal é ele que marca o rumo da investigação filosófico-teológica, fazendo jus à sua Cátedra na Universidade de Coimbra. Bem merece a antonomásia de “Pater et Magister” das actuais e futuras gerações. Com todo o mérito. Chamar-lhe-ei, porém, “Frater et Magister”  (Irmão e Mestre), tal a sua simplicidade  de trato com os mais humildes do povo de Deus, caso da Ribeira Seca, aonde por mais de uma vez  veio transmitir o Evangelho  autêntico,  “Evangelho da Alegria”, como a foto o documenta. Comovidamente agradecemos!
A quem me lê, deixo o mais importante: Procurai a entrevista de Anselmo Borges no último  “Expresso” , quer em papel, quer pela ‘net’. Vai valer a pena!

19.Abr.17
Martins Júnior


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