Não
ouso levar as mãos ao computador sem pedir licença ao Prof. Doutor Anselmo
Borges para deixar debruçar-me sobre a grande enciclopédia que nos abriu nas
páginas do semanário ‘Expresso’ de sábado último. Falo assim porque em toda a
sua entrevista mergulhamos num oceano de descobertas, tão vasto, tão intenso e
tão ousado que só o alcança quem partilha a sabedoria e a coragem do autor.
Embora
situada numa determinada época e lugar, trata-se de uma entrevista intemporal: ninguém, nem o tempo nem o espaço apagarão as luminosas pegadas indelevelmente
marcadas no seu texto. Lidas daqui a 50 ou 100 anos, ficarão como anúncio
profético e proclamação de um presente que se projecta no futuro. Os temas
abordados pela jornalista Cristiana Martins são da maior candência e actualidade,
às quais o entrevistado respondeu com assumida
frontalidade, uma atitude tão diferente dos “funcionários do templo” que se
enrodilham em meneios e evasivas, próprias de quem tem medo da Verdade.. Mais impressiva
e premente foi a abordagem do caso Fátima. Numa encruzilhada de sinais
contrários ( de um lado, a obsessão mística, a roçar a superstição e o
paganismo; do outro, os ataques mais soezes e justificados contra a exploração
mercantil da Cova da Iria), Anselmo Borges define com a ciência e a
transparência que lhe são peculiares os
conceitos de ‘visão e aparição’ para, serena e seguramente, concluir: “É
evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima”. Acompanho-o, lembrando-me
da resposta de Cristo, quando interpelado por Caifás, sobre os conteúdos da sua
doutrina: “Eu sempre falei abertamente em público, para todos os que me
quiseram escutar. Pergunta-lhes, pois, pelo que eu disse”. O nosso Mestre ( por
maioria de razão, a Sua Mãe) quando aparece é visto e ouvido por todos os circunstantes. Outro fenómeno é o
da ‘visão’ privada, da iniciativa particular.
Mas
a mundividência e a transcendência do seu pensamento vai muito para além da
casuística pontual, mesmo que se chame Fátima. Anselmo Borges abarca toda a
amplitude do Homem em busca de Deus, a Instituição Igreja, o sacerdócio e a
sexualidade, a ordenação das mulheres, enfim, o Papa Francisco e a guerra aberta
contra ele dentro dos muros do Vaticano.
E fá-lo, civicamente, mas com a firmeza e
a verticalidade que o caracterizam. Aí, identifico-o com o Papa Francisco.
Ao
ler e ouvir o Prof. Doutor Anselmo Borges, ocorre-me estoutro testemunho bíblico
acerca de Cristo: “Quando Ele fala – fala como quem tem autoridade”. Não se
configura esta minha afirmação com qualquer recurso estilístico denominado
hipérbole. Não é exagero, não. Porque Anselmo fala com a experiência
missionária em Moçambique, ensina com o saber adquirido em Roma e aperfeiçoado na Alemanha, através dos maiores teólogos mundiais, como Hans Kung, por todos. As suas conferências, solicitadas dentro e
fora do país, bem como os seus livros
são alicerçados nos grandes mestres do pensamento de ontem e de hoje,
Aristóteles, Tomás de Aquino, Kant e a sua arquitectura filosófica, Castillo, Pagola, Andrès Torres Queiruga, só para citar alguns.
Os artigos que publica, às sextas, no ‘Diário de Notícias’ de Lisboa,
representam o “pão partido aos pequeninos”, tal a clareza do seu pensamento,
sem perder a sua profundidade. A “auctoritas”
de Anselmo Borges advém ainda do seu talento catalisador que consegue unir
escritores, poetas, filósofos, teólogos, catedráticos e jovens, homens e mulheres
por todo este país, em teatros, auditórios públicos, universidades, promovendo
o diálogo inter-religioso, o debate de ideias e propostas para a construção de
um mundo habitável, na perspectiva de conciliar a fé e a ciência. Isso mesmo
acontecerá brevemente com o seu novo livro sobre o Papa Francisco. Tal como
este, ele tem uma audiência maior entre os que, à margem da Igreja, têm fome e
sede de Deus.
Não
posso deixar de marcar com sinal mais dois momentos que evidenciam o saber e a coragem
de Anselmo Borges: o debate no casino da Figueira da Foz sobre uma das suas
obras – “Corpo e Transcendência” - de
que destaco o acurado estudo sobre Fernando Pessoa. O outro, aqui no Funchal,
quando, a convite do “Festival Literário”, veio apresentar o livro de Naomi Wolf , que tem por título a provocadora
e sintética expressão: “Vagina”. Foi absolutamente deslumbrante e de
inexcedível dignidade o seu discurso.
Por
isto e por muito mais, acredito em Anselmo Borges. Não estarei errado se disser
que em Portugal é ele que marca o rumo da investigação filosófico-teológica,
fazendo jus à sua Cátedra na Universidade de Coimbra. Bem merece a antonomásia
de “Pater et Magister” das actuais e futuras gerações. Com todo o mérito.
Chamar-lhe-ei, porém, “Frater et Magister” (Irmão e Mestre), tal a sua simplicidade de trato com os mais humildes do povo de
Deus, caso da Ribeira Seca, aonde por mais de uma vez veio transmitir o Evangelho autêntico, “Evangelho da Alegria”, como a foto o
documenta. Comovidamente agradecemos!
A
quem me lê, deixo o mais importante: Procurai a entrevista de Anselmo Borges no
último “Expresso” , quer em papel, quer
pela ‘net’. Vai valer a pena!
19.Abr.17
Martins Júnior
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