Não
tem mais que sete dias. E cada um com as
mesmas horas dos dias comuns. No entanto, chamam-lhe a “Semana Maior”. O ano
passado, chamei-lhe a semana do protesto. E do sobressalto. E, por isso, a “Semana Maior”. Porque ela não se limita à
narrativa que vai de Domingo a Domingo. Vem de longe, de muito longe. Mesmo na
época em que tudo se passou, o plano da
tragédia não se congeminou numa semana.
Tinha, no mínimo, três anos de fermentação. E talvez mais: trinta anos,
desde a noite em que os Magos do Oriente vaticinaram que aquela Criança nascera para ser rei de Judá. Por mais Largos
e Halleluias de Haendel , por mais Árias de Bach, por mais solene que seja a dramaturgia dos ritos
litúrgicos, não me sai do pensamento a
trama satânica que a hipocrisia do Templo e a cobardia do Tribunal do Império
urdiram, na clandestinidade do povo hebreu.
É por isso que, para mim, na Semana Maior, são tão escassas as palavras quanto profundo o abismo do protesto. O
protagonista mais poderoso da Ideia e da Acção não merecia tamanha derrota. E
nós, também não.
Oh quanto me destroem as majestosas
encenações dos templos, pinceladas fúteis do que foi o grande sarcasmo contra O
Mestre! E as não menos contraditórias peregrinações aos santuários
para “ver” a Semana Santa. “Ver”…o quê? Um
dos maiores, senão o maior, crime da História?!
Aquilo não é para se ver, sem se entrar
em sobressalto.
O Cristo histórico não suporta o teatro
dos homens. E o Cristo de hoje só espera os nossos braços, a nossa voz, o nosso
vigor para bradar contra os novos poderes, herdeiros dos de outrora. E agir!
Tenho para mim que Ele, “sempre em agonia até ao fim do mundo”, (Blaise Pascal) mais estima a nossa
visão vigilante - debruçada sobre as estações dolorosas que todos os dias
passam diante dos nossos olhos, por vezes, indiferentes – do que a contemplação
estática, improdutiva, das estações do Calvário.
Porque
é intemporal o pensamento do Padre Vieira, que citei no ano transacto, trago-o de novo,
como quem faz a síntese perfeita:
“As imagens de Jesus Crucificado
que estão nas igrejas são imagens falsas, porque não padecem nem sofrem.
Imagens verdadeiras de Jesus são os pobres, os doentes, (hoje diria ´’os
refugiados), esses sim é que padecem” .
É
assim a minha Semana Maior!
11.Abr.17
Martins
Júnior
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