Agosto
ido, Setembro vindo, Outubro abrindo. Por outras palavras, a festa continua.
Outros traduzirão “a luta continua”, mas eu prefiro olhar o 1º de Outubro como
a Festa da Democracia. Porque aí, ganhe quem ganhar, é o “Povo Quem Mais Ordena”.
Disse
“ganhe quem ganhar” e não disse “perca quem perder”, porque até aqueles que não conseguirem os seus
objectivos podem estar cientes de que não perderam. Pela simples e magna razão de terem contribuído para o processo
democrático. Sem eles, teríamos o império do partido único, a ditadura do UI (o
“Único Importante”, mesmo que desprovido de todo), cuja triste memória ainda
ensombra as gerações presentes.
Eis,
portanto, o valor acrescentado do processo eleitoral. Todos têm acesso aos
centros de decisão, todos “nascem iguais” perante a escada do poder. E isso é
festa. Demonstra-nos, a olho nu, o
arraial dos empolados estandartes com os candidatos rindo e sorrindo a-bandeiras-despregadas
e as candidatas esvoaçando ao vento as cabeleiras ruivas, negras, multicolores.
E as palavras de ordem que se soltam, simpáticas, sonoras, oferecendo-se atrevidamente ao viandante
desprevenido.
No
entanto, o mais determinativo é o
processo. Direi mesmo que só haverá festa democrática no 1º de Outubro se
democrático for o percurso - o processo - de lá chegar. Ou seja, de subir a
escada e fazer a escalada até ao topo da montanha. E aqui é que camba e descamba o ritmo da
democracia viva, assumida, autónoma. Embora todos partam, creio eu, animados e convictos de fazer o melhor para a
comunidade, nem sempre se apercebem que são marionetes suspensas dos dedos dos
seus patronos, os partidos. Quem, por
experiência visual acumulada, se põe a observar o recrutamento de populares ‘anónimos’, não deixa de ver que o
único móbil que faz correr muitos assalariados
partidários é “concorrer a todos os
concelhos e freguesias”, para apresentar aos “comités centrais ou regionais” um
recheado ‘palmarés’, ainda que levem na mão uma certidão de óbito eleitoral.
Daí, toca-se num amigo quieto, num primo, depois num eventual descontente
dissidente, talvez premiando-os com os dez dias de campanha e consequente folga ao trabalho, aliciando-os, para cúmulo, com
um assento que pode valer umas ‘coroas’. E lá vão, “cantando e rindo, levados
levados sim”, como cantava a extinta “Mocidade Portuguesa”. Com este
processo e com estas muletas (em que vale tudo) fica claudicada a subida,
porque o que sobra em quantidade nas listas escasseia na qualidade e na mística
de servir a comunidade.
Para
esclarecer quem duvide deste parágrafo, limito-me a descrever a atitude de
alguém que foi eleito para membro de uma assembleia de freguesia. Na hora de
tomar posse, perguntou: “Quanto é que isso dá?”. Perante a resposta legal – “ganhas o
correspondente a uma senha de presença por cada sessão” – resolveu liminarmente
o assunto: ”Isso não me dá para um par de solas nas botas. Renuncio já”… E saíu
porta fora. Hoje aparece num cartaz público como cabeça de lista de um outro partido
quase irreconhecível na Madeira!!!
Assim,
não há festa no 1º de Outubro, porque o processo enferma de um vício
estruturalmente anti-democrático. Porque o que se requer no percurso é a inteira
disponibilidade ética e psicológica para
construir uma Democracia convicta,
autónoma, desinteressada.
Já
foi dito que a quantidade prejudica a qualidade. Inter-partidos e
intra-partidos. Ao ponto de se descobrirem
grandes valores em formações pequenas. “Por
saber de experiência feito”, confirmo-o e atesto. No entanto, não obstante as raras excepções,
têm razão aqueles que, perante a prolixa proliferação de partidos concorrentes,
vêem uma inflação de mercado, uma democracia por excesso que é o mesmo que
democracia por defeito. Sobretudo quando certos peões do xadrez politico estão
encapotadamente, como mercenários, ao
serviço das torres hegemónicas e dos cavalos desenfreados que assaltam o poder,
a qualquer preço.
O
que aqui trago é uma opinião que necessariamente não é dogma. Outros terão pensamento divergente. Respeitável,
na mesma medida. Como cidadão que sou, tenho o dever, mais que o direito, de
afastar pedregulhos traiçoeiros de circunstância e preparar o caminho para que
no 1º de Outubro passe, como rainha
vitoriosa, a Democracia em cada Freguesia, em cada Concelho, em cada Região
deste país. E haja Festa, a “Festa do Povo/ Do Povo que trabalha/ E faz o mundo
novo”.
13.Set.17
Martins Júnior
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