Impensável
ficar alheio ao momento que passa, aqui e agora. Porque o “aqui e agora” toca-nos o ombro, remexe-nos o cérebro e o
coração. É connosco, com cada um de nós. Embora marcado pela transitoriedade, a
verdade é que o momento que passa obriga
a confrontarmo-nos com o passado, o presente e o futuro da terra que habitamos.
Sob pena de nos tornarmos desertores, parasitas e, no limite, cúmplices do acaso armadilhado com que outros
pretendem capturar o povo a que pertencemos. Esta é a nossa circunstância – a que
modela a nossa personalidade individual e colectiva.
É
por isso que nada me é indiferente nos roteiros desta campanha para as
autárquicas. Olho-a, por vezes entediado, Mas observo-a atentamente. Peso-a na
balança de um juízo que me parece criterioso, E, por fim, decido-me. Não
permitirei jamais ser joguete acéfalo de megafones feirantes, por mais
estrídulos que se apresentem.
Neste
entendimento, não posso deixar de reagir ao chocalhar de metais que certas
forças concorrentes agitam em palco, nas manif’s, nos gabinetes governamentais,
nas redes sociais. Nunca como agora se ouviu falar tanto em milhares e milhões a escorrer
da serra ao mar. Tantos milhões para a estrada varrida pela aluvião de há
quatro anos., Outros tantos para o cais há tanto tempo danificado. Mais uns
milhares para limpar as cinzas de incêndios passados. Outra vez milhões para a
escola que durante tantos anos rompia pelas costuras das salas e gemia sob os tectos de amianto. E
mais molhos para os bairros sociais. Até a própria cultura, as associações, ‘casas
de povo’, os livros escolares, os apoios aos estudantes – tudo vem canalizado
em manilhas de moedas sonantes, quase sempre dinheiro que nem sequer ainda
é nado, muito menos criado. Não sei como
é que o povo não se afoga no meio de tanto metal a saltar! Mais capciosa é a
estratégia de certas reivindicações – neste preciso momento! - que ostentam a bandeira de melhor servir o público,
mas que no fundo, como “gato escondido com o rabo de fora”, lá está a campainha
a puxar por mais ‘guita’…
Sem
dúvida que não há obra sem orçamento, mais a mais quando toca a dinheiros
públicos. Mas o que mais confrange e indigna é esta forma saloia de mandar assentar
o povo no chão da favela e atirar-lhe abadas de moeda a rodos, como se fôssemos
um rebanho de esfomeados à espera de barretes cheios de tostões. Normalmente
são estes os comportamentos das forças dominantes, os “bicheiros” do tesouro
público, tesoureiros dos impostos cobrados aos contribuintes.
Espera-se
que haja mais elevação na retórica de persuadir as populações. Que se não faça
da campanha uma roleta de casino. Que se não caia em frívolos compromissos
inexequíveis. Tenham vergonha de se apresentar como dadores de um bodo aos
pobres. Antes era a espetada, hoje é o porco assado na via pública, fazendo
lembrar cenas mendicantes de há quinhentos anos passados. Estamos no ´seculo
XXI. E os valores acumulados de uma educação cívica, cada vez mais progressiva, não suportam o linguajar barato
das feiras medievais, muito menos o chocalhar lá gasto de moedeiros falsos.
Os
concelhos e as freguesias merecem um olhar maior!
23.Set.17
Martins Júnior
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