Hesitei
no titular este nosso – hoje, breve - convívio
epistolar. Entre dizer “O Poder está na
Rua” e “O País saiu de Casa”, optei pelo impacto visual que, a partir de agora
e durante dez dias ininterruptos, surgirá diante dos olhos e dos ouvidos de
toda a gente. É a campanha eleitoral. Dedico-lhe estas linhas com a frieza do
espectador distante e, ao mesmo tempo, com o empenho e o ardor de quem já viveu
até à exaustão o verve buliçoso desta inolvidável estação.
Bandeiras,
tambores, foguetes e balões vão clonar-se com hinos, decibéis, arruadas, cornetas
e palavras… sobretudo as palavras que, se não forem colocadas no lugar certo,
correm o risco de aturdir os ouvidos e ‘estrebuchar-se’ no chão como foguetes
suicidas. Nunca como agora, nesta novena-dezena pré-eleitoral, misturar-se-ão
na mesma rua amores e azedumes intestinos, simpatias e esgares, palmas e
palmadas, ‘vivas e morras’ emotivos, enfim, um brouhaha (passe o galicismo) ensurdecedor mas divertido, porque
multicolor e expansivo. Vejamos com humor e bom senso as viaturas que deslizam
como andorinhas fugazes, os risos-sorrisos deles e delas pinchados na folha
fluorescente dos capons-auto, acima de tudo ponderemos a Palavra e as palavras.
Sempre o peso e a autoridade soberana da
Palavra para, mais tarde, confrontá-la com os factos.
Faço
votos para que não haja batidas à-toa, ultrapassagens saloias, pregos nos pneus
de concorrente para concorrente e, mesmo nas curvas, haja o discernimento
suficiente de não atropelar os espectadores, seja nos palcos e comícios, seja
no áudio-visual, seja nas redes sociais, porque aí começa a derrapagem e lá se
vai abaixo o almejado pódio, porque o Grande Júri será o Povo, o tal espectador, silencioso e
atento na berma da estrada.
Aos
candidatos oradores deseja-se o Dom da Palavra.
E o dom não está no gesto ou no peso – que se não faça do microfone um
calhau para atirar sem jeito, porque “fala fora da boca é como pedra fora da
mão”. O dom também não está no grito, porque (relembro a tabuleta que vi
escrita numa rua de São Paulo, Brasil) “Se
grito fosse valentia porco seria herói”. O dom não está no olho estrábico que
falha a direcção e só vê o buraco da véspera, o saco de plástico ou o urinol
mal colocado. Já assisti a tudo isso. E é tudo isso que fede ar nauseabundo e
afasta o Juiz-espectador.
É
de saudar a presença feminina, saudável e libertadora, na rua e no palco. Que a
sua particular sensibilidade imprima elegância e verdade no discurso público.
Sobretudo, que se não volte à barbárie verbal e factual que durante quase
quarenta anos os madeirenses tiveram de suportar.
Finalmente,
nesta corrida não há grandes nem pequenos. Todos são grandes e todos são
pequenos. Se os houvesse, eu passaria aos pequenos a receita do grande Apeles,
príncipe da pintura grega: “Não suba o sapateiro acima da chinela”. E aos
grandes (ou que assim se julgam) prescreveria a máxima de Luís Vaz de Camões: “É
fraqueza entre ovelhas ser leão”. (I,68).
Boa
luta, melhor campanha. Para nós, ilhéus,
traduzo o título: “A Madeira anda na Rua. Nestes dez dias, o Poder está na Rua.
Porque a Soberania está no Povo”. (CRP)
Vê-lo-emos
no 1º de Outubro!
19.Set.17
Martins Júnior
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