Em
finais apoteóticos das festas religiosas madeirenses que funcionam como suaves
narcóticos de verão e, simultaneamente, no início das arruadas-cardadas que já
enchem becos, avenidas e casas próximas, parece despropositado trazer à nossa
mesa um tema recorrente: a guerra civil
na Igreja. Surda, abafada, acobertada dentro e fora das sotainas romanas – ela já
levanta cabeça, nalguns casos por omissão, mas noutros por acção militante,
notória. Andamos, os católicos, distraídos com festas e procissões, mas a
verdade é essa: os quartéis-generais do Vaticano preparam minas e armadilhas,
traçam mapas de assalto e cerram trincheiras. Contra quem?... Contra os
bárbaros, não. Contra os heréticos, comunistas e muçulmanos, também não. Contra quem? Coisa
que ninguém imaginaria…contra o Papa Francisco! Quem são os conspiradores? Os “Príncipes
da Igreja”, os Eminentíssimos Cardeais e seus acólitos!!!
Um caso recente veio acender o
rastilho, quando o Cardeal Gerhard Muller (que fora nomeado pelo Papa para a
Doutrina da Fé) decide organizar outros cardeais, entre eles o já conhecido
africano Robert Sarah, (também nomeado Prefeito da Cúria para o Culto Divino)
com o propósito de celebrar um solene ofício litúrgico em latim no Vaticano,
ostensivamente, sem dar qualquer conhecimento ao Papa Francisco. O gesto não
teria grandes conotações se não proviesse das tais figuras que ultimamente têm-se
perfilado contra o Pontífice da Igreja e a que se junta o americano Raymond Leo
Burke e outros bispos e padres fundamentalistas conservadores. Foi este último que até chegou
a propor a destituição de Francisco pelo crime de heresia. Onde isto já vai!
Tudo porque o argentino Bergoglio, ao
chegar ao Vaticano, tomou a decisão de refundar a Igreja a partir das raízes,
corrigindo com firmeza as anomalias internas da Cúria Romana dominada pelos
tais “Príncipes eclesiásticos”. Com a eleição de 2013, eles imaginavam que a simpatia que o Papa conquistou em todo o
planeta serviria tão-só para distribuir sorrisos paternalistas ou jogar água
benta ao ar como confetis no carnaval ou foguetes de artifício em arraiais de
festa. E eles, claro, sempre anafados e refastelados em suas poltronas de
escarlate …em nome de um Cristo pobre e assassinado. Enganaram-se redondamente.
Quando viram que o homem que “veio do fim do mundo” pôs o machado à raiz e começou
a desinstalar dos seus tronos (o primeiro exemplo foi o dele próprio) toda a
corrupção e vaidade do Vaticano, os “Príncipes” consideraram a sua eleição como
um tremendo “erro do Espírito Santo”. Nesta sua nobre e corajosa atitude olho o Papa Francisco e vejo nele a silhueta
daquele Cristo que pegou em azorragues e expulsou os “vendilhões do Templo de
Jerusalém”. Aí começou o maquiavélico processo que O levou à morte. No mesmo
paralelo de similitude, vejo nestes “Eminentíssimos Cardeais” as sinistras figuras dos Sumos
Sacerdotes Anás e Caifás que perpetraram clandestinamente o assassinato de
Jesus.
Os cristãos não sabem disto. Como não
sabem também que o dito cardeal africano teve até a ousadia de falar já num
novo “Cisma da Igreja”, idêntico ao que há mais de mil anos (1054) deu origem
ao corte e separação da Igreja do Ocidente (Roma) e da Igreja Ortodoxa do
Oriente (Constantinopla). “Cisma” em
linguagem canónica é o mesmo que guerra civil.
Onde quero eu chegar com esta notícia
que merecia um desenvolvimento mais alargado?... Simplesmente à constatação de
que o Papa Francisco está em perigo. Não por atentado de um qualquer AliAcka,
mas de dentro da própria casa, sediada no Vaticano. Não tenhamos ilusões: ainda
está por explicar a morte misteriosa do Papa João Paulo I, com o qual o actual tanto se parece. Para um observador atento,
há-de notar que as saídas que Francisco tem feito são quase todas para fora da
Europa, sobretudo América Latina, a última à Colômbia, como a foto documenta.
Pretenderá ele voltar-se para uma nova Igreja, genuína e limpa, tal como a quis
o seu Fundador, virando costas à velha Roma corrupta, anti-evangélica e
anti-crística?!...
E
quem poderá acudir ao Papa? Só os cristãos de base, os abnegados e puros de
olhar, os que não põem as mãos nos bancos-vaticanos espalhados e assolapados
nas dioceses e nas paróquias. Os que querem conhecer a verdadeira face de
Cristo. Os que amam a justiça de um mundo melhor. Sinal dos tempos: chegou a hora
de convocar e mobilizar os verdadeiros crentes para libertar e salvar o seu
Líder Humano-cristão! Porque precisamos dele. E também para denunciar e
desmascarar aqueles que ontem excomungavam ou suspendiam quem desobedecesse ao “Santíssimo Papa” e hoje
são os primeiros a desautorizá-lo e a condená-lo.
Vou
terminar a escrita, mas não o pensamento. Como é possível descansar sobre este
vulcão pré-cismático de ver um Papa vilipendiado, agredido, verbal e
ideologicamente, pelos seus mais directos colaboradores que não querem perder
abusivos privilégios e mordomias à sombra de uma hierárquica religião
contraditória, porque caduca e
pérfida?!... Andamos a dormir, inconscientes. Alheios, Em cada país, em cada região
e em cada lugar há sempre mini-cardeais desejosos de ver o Papa pelas costas. E
há também companheiros de luta e de fé, que cheiram a terra e a corpo mas
transcendem-se no espírito e querem ser “sentinelas da madrugada” do Papa
Francisco.
Acudir
ao Papa é saber discernir. E agir em conformidade.
17.Set.17
Martins Júnior
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