domingo, 17 de setembro de 2017

QUEM ACODE AO PAPA FRANCISCO ?...


       Em finais apoteóticos das festas religiosas madeirenses que funcionam como suaves narcóticos de verão e, simultaneamente, no início das arruadas-cardadas que já enchem becos, avenidas e casas próximas, parece despropositado trazer à nossa mesa um tema recorrente: a  guerra civil na Igreja. Surda, abafada, acobertada dentro e fora das sotainas romanas – ela já levanta cabeça, nalguns casos por omissão, mas noutros por acção militante, notória. Andamos, os católicos,  distraídos com festas e procissões, mas a verdade é essa: os quartéis-generais do Vaticano preparam minas e armadilhas, traçam mapas de assalto e cerram trincheiras. Contra quem?... Contra os bárbaros, não. Contra os heréticos, comunistas  e muçulmanos, também não. Contra quem? Coisa que ninguém imaginaria…contra o Papa Francisco! Quem são os conspiradores? Os “Príncipes da Igreja”, os Eminentíssimos Cardeais e seus acólitos!!!
         Um caso recente veio acender o rastilho, quando o Cardeal Gerhard Muller (que fora nomeado pelo Papa para a Doutrina da Fé) decide organizar outros cardeais, entre eles o já conhecido africano Robert Sarah, (também nomeado Prefeito da Cúria para o Culto Divino) com o propósito de celebrar um solene ofício litúrgico em latim no Vaticano, ostensivamente, sem dar qualquer conhecimento ao Papa Francisco. O gesto não teria grandes conotações se não proviesse das tais figuras que ultimamente têm-se perfilado contra o Pontífice da Igreja e a que se junta o americano Raymond Leo Burke e outros bispos e padres fundamentalistas  conservadores. Foi este último que até chegou a propor a destituição de Francisco pelo crime de heresia. Onde isto já vai!
         Tudo porque o argentino Bergoglio, ao chegar ao Vaticano, tomou a decisão de refundar a Igreja a partir das raízes, corrigindo com firmeza as anomalias internas da Cúria Romana dominada pelos tais “Príncipes eclesiásticos”. Com a eleição de 2013, eles imaginavam  que a simpatia que o Papa conquistou em todo o planeta serviria tão-só para distribuir sorrisos paternalistas ou jogar água benta ao ar como confetis no carnaval ou foguetes de artifício em arraiais de festa. E eles, claro, sempre anafados e refastelados em suas poltronas de escarlate …em nome de um Cristo pobre e assassinado. Enganaram-se redondamente. Quando viram que o homem que “veio do fim do mundo” pôs o machado à raiz e começou a desinstalar dos seus tronos (o primeiro exemplo foi o dele próprio) toda a corrupção e vaidade do Vaticano, os “Príncipes” consideraram a sua eleição como um tremendo “erro do Espírito Santo”. Nesta sua nobre e corajosa atitude  olho o Papa Francisco e vejo nele a silhueta daquele Cristo que pegou em azorragues e expulsou os “vendilhões do Templo de Jerusalém”. Aí começou o maquiavélico processo que O levou à morte. No mesmo paralelo de similitude, vejo nestes “Eminentíssimos  Cardeais” as sinistras figuras dos Sumos Sacerdotes Anás e Caifás que perpetraram clandestinamente o assassinato de Jesus.
         Os cristãos não sabem disto. Como não sabem também que o dito cardeal africano teve até a ousadia de falar já num novo “Cisma da Igreja”, idêntico ao que há mais de mil anos (1054) deu origem ao corte e separação da Igreja do Ocidente (Roma) e da Igreja Ortodoxa do Oriente (Constantinopla).  “Cisma” em linguagem canónica é o mesmo que guerra civil.
         Onde quero eu chegar com esta notícia que merecia um desenvolvimento mais alargado?... Simplesmente à constatação de que o Papa Francisco está em perigo. Não por atentado de um qualquer AliAcka, mas de dentro da própria casa, sediada no Vaticano. Não tenhamos ilusões: ainda está por explicar a morte misteriosa do Papa João Paulo I, com o qual o actual  tanto se parece. Para um observador atento, há-de notar que as saídas que Francisco tem feito são quase todas para fora da Europa, sobretudo América Latina, a última à Colômbia, como a foto documenta. Pretenderá ele voltar-se para uma nova Igreja, genuína e limpa, tal como a quis o seu Fundador, virando costas à velha Roma corrupta, anti-evangélica e anti-crística?!...
E quem poderá acudir ao Papa? Só os cristãos de base, os abnegados e puros de olhar, os que não põem as mãos nos bancos-vaticanos espalhados e assolapados nas dioceses e nas paróquias. Os que querem conhecer a verdadeira face de Cristo. Os que amam a justiça de um mundo melhor. Sinal dos tempos: chegou a hora de convocar e mobilizar os verdadeiros crentes para libertar e salvar o seu Líder Humano-cristão! Porque precisamos dele. E também para denunciar e desmascarar aqueles que ontem excomungavam ou suspendiam  quem desobedecesse ao “Santíssimo Papa” e hoje são os primeiros a desautorizá-lo e a condená-lo.
Vou terminar a escrita, mas não o pensamento. Como é possível descansar sobre este vulcão pré-cismático de ver um Papa vilipendiado, agredido, verbal e ideologicamente, pelos seus mais directos colaboradores que não querem perder abusivos privilégios e mordomias à sombra de uma hierárquica religião contraditória, porque  caduca e pérfida?!... Andamos a dormir, inconscientes. Alheios, Em cada país, em cada região e em cada lugar há sempre mini-cardeais desejosos de ver o Papa pelas costas. E há também companheiros de luta e de fé, que cheiram a terra e a corpo mas transcendem-se no espírito e querem ser “sentinelas da madrugada” do Papa Francisco.
Acudir ao Papa é saber discernir. E agir em conformidade.

17.Set.17

Martins Júnior

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