E
a festa continua…
Para
uns, a festa é o espaço que vai de um foguete a outro, é fato novinho em folha ou
estralejar de feira, circunscrito à
algazarra efémera da véspera e do dia. Para outros, a festa é tudo o que vem
antes dela. É o encontro de braços e vozes que se empenham dias, semanas,
talvez meses, em que é anfitriã a alegria de, em sã convivialidade, conceber, plasmar, corrigir e, por fim,
apresentar-se um Povo, olhos nos olhos, na força do seu viver e na originalidade da
sua obra, expressa em canto, verso e dança. “Nas festas que o povo organiza há
mais alegria e verdade” – é, desde há décadas, o refrão festivo desta
comunidade.
Connosco, dança e verso e canto não
rimam com alienação e droga, porque o Povo descobriu que a festa é sua e nela
devem reflectir-se as suas vivências, as ressonâncias do seu passado e o apelo dos amanhãs futuros.
Nesta semana preparatória da nossa
festa, 9 e 10 de Setembro, continuo a divulgar apontamentos breves de um
programa feito pelo Povo, com o Povo e para o Povo, ao mesmo tempo emissor e
destinatário, produtor e consumidor. Hoje, trago-vos a evocação dos anos
oitenta, com especial dedicatória para os “inauguradores”, tão ao gosto da
época, acolitados dos mesmos predadores de dinheiros públicos, lambe-botas,
glutões de circunstância. Nesta canção, alude-se a uma estrada, por mim
iniciada na Ribeira Seca em 1975 e, só treze anos depois, asfaltada e
inaugurada pelo “Tomás das pipas”, assim se disse na altura. Recordo-me de ter afirmado
na Assembleia Regional que “Vasco da Gama, para descobrir o caminho marítimo
para a Índia, levou menos tempo que o governo regional para asfaltar um caminho
em Machico”. O homem inaugurou pomposamente a estrada, com vinho e vaca à mistura,
mas logo a seguir, surpreendentemente… perdeu as eleições no concelho. O Povo demonstrou
ser juiz clarividente e censor implacável contra quem o espezinhou durante
treze longos anos!...
Aí vão, pois, as letras da canção, que
filhos e netos vão repetir em memória e gratidão para com pais e avós que muito
lutaram por um futuro melhor. Na folha do calendário que atravessamos, talvez
não fique desajeitado (muito pelo contrário) revisitar o ritual das
inaugurações:
Inaugurar
o quê?
Aquilo
que se paga
Quanto
mais se inaugura
Mais
dinheiro se estraga
O que o
povo precisa
Mas o
que o povo precisa
É de
ver a sua vida muito bem organizada
Inaugurar
o quê?
Uma
estrada de terra
O povo
deu o terreno
Há
treze anos espera
O que o
povo precisa
Mas o
que o povo precisa
É de
ver a sua estrada
Sem
demora alcatroada
Inaugurar
o quê?
A luz
que tanto tarda
Trabalhamos
para os outros
E ficámos
sem nada
O que o
povo precisa
Mas o
que o povo precisa
É de
ver a sua terra
Sem
demora iluminada
Inaugurar
o quê?
Pra vir
o corta fitas
Ontem
era o Tomás
Hoje é o Tomás das pipas
Hoje é o Tomás das pipas
O que o
povo precisa
Mas o
que o povo precisa
É de
saber a verdade
Sem
ligar ao troca -tintas
Refrão
As estradas são do povo
A luz é do povo
Ele é que é o patrão
O povo é quem paga tudo
Essa é a nossa condição
O povo é quem paga tudo
É nossa a inauguração
__________
05.Set.17
Martins Júnior
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