À
saída do porto de Curaçau, os nervos cortam-se no olhar furtivo dos 23 elementos
da Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, embarcados juntamente com os
612 passageiros, quase todos americanos, e 350 tripulantes. O cérebro da
arrojada operação, um distinto oficial do exército português, 66 anos de idade,
Henrique Galvão, comanda em absoluta clandestinidade os movimentos, Dentro do
navio “Santa Maria” o coração batia-lhe mais forte. Longa esta noite de 21 para
22 de Janeiro! Na casa das máquinas, Camilo Mortágua, dá o primeiro alarme. É
então que estala a notícia: o navio, um dos maiores da Companhia Colonial de
Navegação, passa a chamar-se “Santa Liberdade” e o seu destino é Luanda, onde teria início a grande marcha
para derrubar o regime de Oliveira
Salazar, sediado em Lisboa.
Alevantado
e nobre era o sonho, o de libertar o Povo Português das garras opressoras do
fascismo vigente! Mas circunstâncias adversas fizeram abortar o plano. E o
caminho dos corajosos autores voltou a repetir-se: o exílio.
Porque
a memória dos homens é escassa, trago hoje a reminiscência dos 57 anos, entretanto transcorridos -
amaldiçoados pelo regime, alcandorados pelos verdadeiros patriotas e esquecidos
por muitos. É verdade que o brilhante capitão Henrique Galvão não conseguiu ver
o sol da manhã que tanto almejara. Ele e os seus companheiros de luta. Mas foi
então que começou a tremer o império da ditadura até cair de vez em 1974. O
plano daquela noite de 1961 continuou
clandestinamente nos trágicos efeitos da guerra colonial, nos quartéis,
nas universidade, nas fábricas.
Nunca
é vã a utopia, desde que ponhamos nela o melhor do nosso afã!
21.Jan.18
Martins Júnior
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