sábado, 13 de janeiro de 2018

PSICOLOGIA DAS ELEIÇÕES – DIZ-ME COMO VOTAS E DIR-TE-EI QUEM ÉS!

                                                     

Porque estão na ordem do dia as manifestações massivas da vontade popular, torna-se útil e até necessário olhar com a acutilância possível para as reais motivações que fazem levantar as multidões. É, sem dúvida, um precioso study case, terreno fértil para as áreas da psicologia social. E à qual, por isso, não podemos voltar as costas, sobretudo porque mexem e determinam a arquitectura da vida em sociedade.
         Nesta progressão analítica, verifica-se que é na vertente eleitoral que se desenha a mais fiel radiografia dos povos. Desde aqueles que investem o melhor de si mesmos na descoberta limpa de um modelo de sociedade para todos, até àqueles que, vítimas  da desinformação, sucumbem às mãos de  demagogos de circunstância, sôfregos de interesses pessoais, os quais logo de seguida são contestados, odiados pelos próprios votantes, como aconteceu mais recentemente com as Honduras e com o americano Trump e, de mais longe, com o ditador Hitler e o ‘nosso’ Salazar. Quando o povo descobre o logro em que caiu, desata (tarde demais) em ondas de revolta incontrolável.
         Em termos classistas, os votantes distribuem-se neste tríptico eleitoral: os cidadãos conscientes, bem intencionados, sérios e coerentes na acção. Estes nem sempre são os mais vistosos, nem de riso escancarado e de verbo fácil. A seguir vêm os desinformados, normalmente as populações rurais, que não chegam a inteirar-se do que está em causa na eleição, devido à recusa dos concorrentes (ou de uma das partes) em debater publicamente os programas e as suas reais intenções. Por fim, vêm os calculistas, mais precisamente os parasitas, que não dão um passo sem ver o lucro que obtêm. São os tais que fogem ao esclarecimento, isto é, aos debates, usando como arma de caça os boatos, os cabazes, os cheques e as promessas.
         São assim as eleições, momento extraordinário para conhecer a psicologia das multidões. E se isto acontece nos actos eleitorais gerais, muito mais se verifica nos actos eleitorais internos, dentro do próprio partido, na escolha das respectivas lideranças. É tão saudável e prestigiante ver uma eleição em que os candidatos expõem publicamente as suas ideias, sobre as quais vão pronunciar-se os eleitores. E no final aceitam respeitosamente a vontade esclarecida dos votantes, porque estes foram devidamente informados. Acabámos de ver isso mesmo na eleição de Rui Rio sobre Santana Lopes. Exemplar!
         Ao contrário, quando os responsáveis se furtam ao esclarecimento dos militantes, quando actuam sempre na sombra, quando vão buscar reforços, ou seja, elementos que num passado recente puseram tudo na fossa, até o próprio partido, e fugiram – então é caso para dizer que a derrota é o caminho infalível para todos, uns e outros. Sobretudo, a derrota para o Povo, constituinte da soberania e dos eleitos. Porque é neste ambiente de nítida corrupção que a mediocridade impera. Um Povo dirigido por medíocres, portanto oportunistas, será sempre um Povo sem estatura e sem personalidade civicamente condigna.
             Por hoje, fico-me assim, numa profunda reflexão, porque nesta área estamos todos envolvidos. Para bem ou para mal. Por isso, termino com esta máxima, colhida numa experiência de décadas: “Diz-me como votas e dir-te-ei quem és”. Para evitar equívocos, notem bem: Eu não disse ‘em quem votas’ mas ‘como votas’. Ou ‘porque votas’.

13.Jan.17
Martins Júnior


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