Porque
estão na ordem do dia as manifestações massivas da vontade popular, torna-se
útil e até necessário olhar com a acutilância possível para as reais motivações
que fazem levantar as multidões. É, sem dúvida, um precioso study case, terreno fértil para as áreas
da psicologia social. E à qual, por isso, não podemos voltar as costas,
sobretudo porque mexem e determinam a arquitectura da vida em sociedade.
Nesta progressão analítica, verifica-se
que é na vertente eleitoral que se desenha a mais fiel radiografia dos povos.
Desde aqueles que investem o melhor de si mesmos na descoberta limpa de um modelo
de sociedade para todos, até àqueles que, vítimas da desinformação, sucumbem às mãos de demagogos de circunstância, sôfregos de
interesses pessoais, os quais logo de seguida são contestados, odiados pelos
próprios votantes, como aconteceu mais recentemente com as Honduras e com o
americano Trump e, de mais longe, com o ditador Hitler e o ‘nosso’ Salazar.
Quando o povo descobre o logro em que caiu, desata (tarde demais) em ondas de
revolta incontrolável.
Em termos classistas, os votantes
distribuem-se neste tríptico eleitoral: os
cidadãos conscientes, bem intencionados, sérios e coerentes na acção. Estes
nem sempre são os mais vistosos, nem de riso escancarado e de verbo fácil. A
seguir vêm os desinformados,
normalmente as populações rurais, que não chegam a inteirar-se do que está em
causa na eleição, devido à recusa dos concorrentes (ou de uma das partes) em
debater publicamente os programas e as suas reais intenções. Por fim, vêm os calculistas, mais precisamente os
parasitas, que não dão um passo sem ver o lucro que obtêm. São os tais que fogem
ao esclarecimento, isto é, aos debates, usando como arma de caça os boatos, os
cabazes, os cheques e as promessas.
São assim as eleições, momento
extraordinário para conhecer a psicologia das multidões. E se isto acontece nos
actos eleitorais gerais, muito mais se verifica nos actos eleitorais internos,
dentro do próprio partido, na escolha das respectivas lideranças. É tão
saudável e prestigiante ver uma eleição em que os candidatos expõem
publicamente as suas ideias, sobre as quais vão pronunciar-se os eleitores. E
no final aceitam respeitosamente a vontade esclarecida dos votantes, porque estes
foram devidamente informados. Acabámos de ver isso mesmo na eleição de Rui Rio
sobre Santana Lopes. Exemplar!
Ao contrário, quando os responsáveis se
furtam ao esclarecimento dos militantes, quando actuam sempre na sombra, quando
vão buscar reforços, ou seja, elementos que num passado recente puseram tudo na
fossa, até o próprio partido, e fugiram – então é caso para dizer que a derrota
é o caminho infalível para todos, uns e outros. Sobretudo, a derrota para o
Povo, constituinte da soberania e dos eleitos. Porque é neste ambiente de nítida
corrupção que a mediocridade impera. Um Povo dirigido por medíocres, portanto
oportunistas, será sempre um Povo sem estatura e sem personalidade civicamente
condigna.
Por hoje, fico-me assim, numa profunda reflexão,
porque nesta área estamos todos envolvidos. Para bem ou para mal. Por isso,
termino com esta máxima, colhida numa experiência de décadas: “Diz-me como
votas e dir-te-ei quem és”. Para evitar equívocos, notem bem: Eu não disse ‘em
quem votas’ mas ‘como votas’. Ou ‘porque votas’.
13.Jan.17
Martins
Júnior
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