São
assim os grandes eventos: espectaculares
no enunciado publicitário, mas camuflados, quase sigilosos nos seus meandros,
nos bastidores da cena ou nos corredores dos palácios onde se realizam. É o
caso de “Davos”, que receberá amanhã a visita de mais de 3000 personalidades,
as mais poderosas e influentes na área da finança e na política, sob o signo do
“Forum Económico Mundial”. Durante três dias plenos, estarão sobre a mesa dos debates as grandes questões que
afectam a Humanidade, este ano direccionadas para a saúde, educação e ambiente.
No entanto, outros dilemas, desde os conflitos de soberania até aos de ordem empresarial
e comercial, desfilarão mais ou menos discretamente entre os magnatas do mundo.
Por exemplo, a presença de Donald Trump, contra o qual se preparam grandes
manifestações. Para nós, portugueses, paira a dúvida sobre o que se há-de
passar no encontro António Costa e João Lourenço, a propósito do processo Fizz,
com as perigosas consequências que
poderão advir para o relacionamento
Lisboa-Luanda.
Mas
o ponto alto deste areópago mundial consiste em algo de inédito e decisivamente
imponente: a magna reunião dos mais poderosos do mundo será dirigida por um
colégio de sete mulheres. O jornal madrileno El País, atendendo a esta circunstância singularíssima, titula: “A
Hora da Mulher no Forum de Davos”. O prestigiado septeto feminino que tem a seu
cargo a organização e direcção dos trabalhos reúne um leque auspicioso marcado pela matriz
universalista, quase ecuménica, desde, entre outras, Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega,
Chetna Sinha, presidente da Cooperativa de Crédito Mann Deshi, Índia, até
Chistine Lagarde, directora do FMI e Sharan Burrow, secretária-geral da
Confederação Internacional de Sindicatos.
Mas
a originalidade deste directório vai mais além: num forum de tamanha grandeza
(basta dizer que é o próprio Rei Felipe VI que chefia a representação espanhola
e usará da palavra) são as sete mulheres que dirigem os trabalhos, em total exclusividade,
isto é, sem a participação masculina. Dir-se-á que é uma prova “por excesso”,
em absoluta contradição com a praxis de Davos. Mas não é. Trata-se de uma luta
que vem de longe, dentro da própria organização. Actas de encontros anteriores relatam as insistentes
intervenções e atitudes das
participantes contestando a usurpação machista dos centros de decisão e
direcção do acontecimento. Pelo que, a maior revelação de Davos/2018 e aquela
que, eventualmente, passará desapercebida do grande público, é a afirmação da
Mulher, mercê da sua porfiada luta pela igualdade de género.
Em
conclusão e desabafo, permitam-me justificar a presente reflexão. É verdade que
Davos não representa o melhor da Humanidade, antes significando para alguns
críticos um ardiloso instrumento para altos negócios em detrimento da grande
massa trabalhadora. Mas, dando o benefício da dúvida, é forçoso reconhecer a
vitória do poder da Mulher na organização do mesmo. E aqui vai a nota final,
essencial: não me agrada mesmo nada nem
me convence quando vejo um homem a
defender os direitos da mulher. São elas, as mulheres, que têm de conquistar o
seu lugar ao sol. No campo ou na cidade, na fábrica ou em casa, na escola ou na
rua. Sem medo. Sem complexos. Com a coragem daquelas mulheres que se
manifestaram corajosamente no Chile, diante do Papa, contra os crimes de
pedofilia perpetrados por clérigos. Ou como “As Sete Mulheres do Minho”,
brilhantemente cantadas pelo ‘nosso’ Zeca Afonso. Ou até mesmo, como estas sete mulheres que, a
partir de amanhã, estarão no topo de Davos/2018.
23.Jan.18
Martins Júnior
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