domingo, 7 de janeiro de 2018

“THE KING AND THE QUEEN TOGETHER IN THE GREAT JOURNEY OF NO RETURN”


Aconteceu em 5 e 6 de Janeiro e teve por cenário a evocação das embaixadas reais lá dos lados do Oriente.
         Fosse o Príncipe de Gales  e a diva Rainha  - e logo se lhes rendiam   os holofotes-satélites, as ondas gravitacionais e as rotativas da “Última Hora” para dar a grande notícia: “Enquanto a Rainha fazia a última viagem sem retorno, o Rei dava o último suspiro no seu leito da morte”.
         Mas não foram os monarcas da ‘Velha Albion’. Nem os protagonistas das emotivas construções romanescas de Roberto  Machim e Ana d'Arfet. Nem os arroubos clangorosos de “Tristão e Isolda”, imortalizados pelo génio de Richard Wagner. Não. O acontecimento resume-se em duas palavras, para nós ricas de interioridade, mas vulgares, talvez inúteis, para o vasto mundo: “Morreram marido e mulher. Ambos com 92 anos. Ela sepultou-se no dia 5, véspera dos “Reis” e ele no dia 6”.
         Devo dizer que, em 56 anos de exercício sacerdotal, nunca tal me acontecera. E enquanto soava a finados o carrilhão da torre sineira e a carrinha (de todos nós) deslizava rumo ao ‘Campo Santo’ final, ia eu rememorando o “Noivado do Sepulcro” de Soares de Passos…
         Fossem quais as causas e as circunstâncias, não é possível olhar com fria indiferença para este quadro dramático e, simultaneamente, galvanizador. Gente rural, corpos quase centenares, curvados sobre a terra para dela surgir o pão. Mãos calejadas, retalhadas e dentro delas segurando um coração sempre novo de amados e amantes, ao ponto de ‘marcarem partida’ na mesma semana, a Semana dos ‘Reis’.
Gente rural, Gente Real, que fabrica o pão e a vida, de que todos nós participamos e sem os quais fenece, inglória. a nossa própria história individual e colectiva. Gente Real, cujos filhos os mantiveram sempre na sua casa singela, o seu palácio ideal. Gente Real, ainda, porque ambos cumpriram ampla e generosamente, o seu mandato terreal e transportam consigo o ceptro da vitória!
Requeiro, neste momento, a permissão de quem me lê para partilhar a emoção que envolveu esta entrada triunfal dos dois nonagenários na misteriosa alameda do além-túmulo, munidos do passaporte que lhes dá direito a ocupar um trono real, esteja ele onde estiver. E ele está aqui. Connosco. Por isso posso proclamar na oitava dos ‘Reis’ e no mais alto monte o pregão monumental, aposto ao épico poema de Dante Alighieri:
“REI E RAINHA, LADO A LADO E DE MÃOS DADAS, NA GRANDE VIAGEM SEM RETORNO! HALLELUIAH”!

07.Ja.18

Martins Júnior

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