Esta
é mais uma das três igrejas incendiadas durante a visita do Papa Francisco ao
Chile. Aproveito o registo fotográfico para continuar a reflexão do último escrito e a que dei o
título “Quando o protestar significa apoiar”. Junto, pois, este macabro
episódio ao veemente protesto dos cristãos daquele país contra o silêncio conivente
das hierarquias eclesiásticas face aos crimes de pedofilia na Igreja,
perpetrados por bispos e padres. Aí afirmei que o protesto da multidão, tendo embora
como pano de fundo a passagem do Papa,
não tinha por alvo a sua pessoa, mas a instituição que dirige, tendo em conta
que ele, mais que ninguém, tem condenado até à exaustação tais crimes. Na
veemência desse protesto o Papa viu um incentivo à sua luta contra os “corvos
negros” que povoam o Vaticano.
O
mesmo se passa com as igrejas incendiadas naquela região, outrora catequizada
por missionários oriundos de Espanha – a Espanha dos “Reis Católicos, Fernando
e Isabel”. Os bárbaros atentados contra três templos católicos ultrapassam a
mera provocação circunstancial a Jorge Bergoglio, cuja personalidade moral e
humanista é altamente reconhecida por todos os credos. O cerne da questão
pretende atingir, denunciar e condenar uma Igreja que, aliada aos processos de
colonização dos indígenas de África, Ásia e América, criou antros de exploração
desses povos, sugando-lhes riquezas do solo e subsolo e cravando-lhes na pele o
ferrete da mais desumana escravatura. E, ainda por cima, toda essa caterva de criminosos sobas bafejada
com a bênção aguada da Santa Madre Igreja Romana!
Trago
hoje esta reflexão como toque de alerta para todos os que têm responsabilidade
(e temo-la todos nós, parcialmente) sobre o tecido social ou cultural a que
pertencemos. “Tudo se paga” – dizia a protagonista, a “Velha Senhora”, da peça
de Francis Durrematt. As guerras anti-coloniais, os ódios raciais, as trágicas
pègadas de tempos imemoriais aí estão para demonstrá-lo! Não é impunemente que
se agride um povo ou se lhe causa algum dano. Cedo ou tarde – filhos, netos,
bisnetos – pagarão a factura do dano. Ainda que os ‘pagantes’ sejam inocentes.
Como este Papa que carrega, sem culpa, o
ónus de uma instituição que vem de longe. Daí, a sua dor e a sua indignação, as
quais se traduzem para nós num forte estímulo de honra e auto-vigilância no posto que
ocupamos, seja ele um templo, uma cátedra ou um simples agregado familiar.
A
História não esquece e a Natureza não perdoa!
19.Jan.18
Martins Júnior
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