Neste
fecho de uma semana de tarefas curriculares – as que dividem o tempo e nos dividem a nós próprios -
a Madeira conheceu um outro olhar sobre
problemas locais, uma tentativa de visão holística da realidade social, mais
abrangente e unívoca. Por outras palavras, fomos convocados para a
interpretação estrutural, não apenas casuística e conjuntural, do fenómeno da
pobreza. É o que mais falta faz: pegar os casos pela raiz, fazer-lhes o
diagnóstico global e, daí, partir para a erradicação das causas nucleares.
Foi
isto precisamente o que o presidente da “Rede Europeia Anti-Pobreza”, Padre
Agostinho Jardim Moreira, veio trazer à Madeira. Habituados que estamos a
fornecer ou a receber mezinhas para cancros virais das sociedades,
contentamo-nos com políticas assistenciais de paliativos continuados. Esquecemo-nos
da tal visão estrutural do nosso tempo e até chegamos ao cúmulo de diabolizar
quem propõe linhas seguras para detectar e debelar o mal pela raiz. Assim
aconteceu ao presidente da “Rede Europeia” que só agora conseguiu que a Europa
entrasse na ilha, não obstante as armadilhadas falésias que a rodeiam e que o
rodearam.
Para
além de eventuais créditos que passa alcançar, o maior êxito da iniciativa
consiste na identificação da mentalidade madeirense com o pensamento de Jacques
Delors, desde 1991. Não basta dar aos pobres um bodo circunstancial e efémero
que os amarra à vitalícia condição de pedintes. A “Rede Europeia” investiga as
causas e os efeitos da pobreza e, em vez de matar a fome do dia, fornece as
ferramentas e os ingredientes de uma autonomia sustentável e digna. Sempre o
mesmo inapelável veredicto: a maior glória do criador é a autonomia da criatura
a quem deu o ser!
Não
serei injusto se disser que muitas instituições, ditas sociais, não passam de
máquinas de fabricar pedintes, hoje os pais, amanhã os filhos e os netos, em
proporções galopantes. Parece que reina por aí fora uma atávica vocação para o masoquismo geracional,
sem nunca ver-se o clarão libertador ao fim do túnel.
Ao
saudar a iniciativa da “Rede Europeia”, antevejo-lhe um trabalho árduo e
persistente, face aos poderes governativos, pois que investigar as causas da
pobreza significa entrar no secreto labirinto das políticas vigentes. Por outro
lado, não serão precisas lentes astronómicas para descobrir as enguias do poder
político, cioso e calculista, em infiltrar-se na rede, mordendo-lhe o isco e
recolhendo os despojos. À custa da pobreza alheia!...
Com
as minhas congratulações ao presidente e colaboradores da “Rede Europeia”,
espero dias melhores no combate às assimetrias sociais que ainda grassam na
ilha!
13.Jul.18
Martins Júnior
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