sexta-feira, 13 de julho de 2018

A REDE, A CANA E O PEIXE…


                                                     

Neste fecho de uma semana de tarefas curriculares – as que  dividem o tempo e nos dividem a nós próprios -  a Madeira conheceu um outro olhar sobre problemas locais, uma tentativa de visão holística da realidade social, mais abrangente e unívoca. Por outras palavras, fomos convocados para a interpretação estrutural, não apenas casuística e conjuntural, do fenómeno da pobreza. É o que mais falta faz: pegar os casos pela raiz, fazer-lhes o diagnóstico global e, daí, partir para a erradicação das causas nucleares.
Foi isto precisamente o que o presidente da “Rede Europeia Anti-Pobreza”, Padre Agostinho Jardim Moreira, veio trazer à Madeira. Habituados que estamos a fornecer ou a receber mezinhas para cancros virais das sociedades, contentamo-nos com políticas assistenciais de paliativos continuados. Esquecemo-nos da tal visão estrutural do nosso tempo e até chegamos ao cúmulo de diabolizar quem propõe linhas seguras para detectar e debelar o mal pela raiz. Assim aconteceu ao presidente da “Rede Europeia” que só agora conseguiu que a Europa entrasse na ilha, não obstante as armadilhadas falésias que a rodeiam e que o rodearam.
Para além de eventuais créditos que passa alcançar, o maior êxito da iniciativa consiste na identificação da mentalidade madeirense com o pensamento de Jacques Delors, desde 1991. Não basta dar aos pobres um bodo circunstancial e efémero que os amarra à vitalícia condição de pedintes. A “Rede Europeia” investiga as causas e os efeitos da pobreza e, em vez de matar a fome do dia, fornece as ferramentas e os ingredientes de uma autonomia sustentável e digna. Sempre o mesmo inapelável veredicto: a maior glória do criador é a autonomia da criatura a quem deu o ser!
Não serei injusto se disser que muitas instituições, ditas sociais, não passam de máquinas de fabricar pedintes, hoje os pais, amanhã os filhos e os netos, em proporções galopantes. Parece que reina por aí fora uma  atávica vocação para o masoquismo geracional, sem nunca ver-se o clarão libertador ao fim do túnel.
Ao saudar a iniciativa da “Rede Europeia”, antevejo-lhe um trabalho árduo e persistente, face aos poderes governativos, pois que investigar as causas da pobreza significa entrar no secreto labirinto das políticas vigentes. Por outro lado, não serão precisas lentes astronómicas para descobrir as enguias do poder político, cioso e calculista, em infiltrar-se na rede, mordendo-lhe o isco e recolhendo os despojos. À custa da pobreza alheia!...
Com as minhas congratulações ao presidente e colaboradores da “Rede Europeia”, espero dias melhores no combate às assimetrias sociais que ainda grassam na ilha!

13.Jul.18
Martins Júnior
     

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