Homenagem,
homenagem – é a designação genérica que se dá a estas manifestações. Mas o que
se passou no Piquinho, em Machico, foi muito mais do que homenagem. Foi uma
verdadeira agapé, na sua etimologia
original: uma ceia em família em redor da mesma mesa, a mesa da saudade. O
Padre Alexandre Mendonça reencontrou-se na Madeira e em Machico com os seus
paroquianos emigrados em Caracas. Com efeito, o templo de São José, no Piquinho
(onde radica em linha colateral o seu parentesco) encheu-se de amigos
luso-venezuelanos, aqueles mesmos com quem conviveu ou ainda convive em terras
de Simão Bolívar. Sintomática e eloquente a coincidência do grupo coral
repercutindo as canções entoadas na igreja de Nossa Senhora de Fátima e do
Coromoto, em Caracas.
Achei
dever meu, por imperativo de gratidão, associar-me, anónimo entre a multidão, a
esse preito de justiça para com o Padre Alexandre. Agradeci-lhe todas as provas
de gentileza e apreço que me dedicou, aquando da minha visita aos emigrados na
Venezuela, fornecendo-me preciosas informações, carro e motorista e, ainda, a
hipótese de visitar o “seu” Barrio de São
Bernardino.
Desde
então, passei a admirar a acção pedagógica do dedicado capelão das comunidades
aí residentes, tanto os autóctones como os portugueses, a preocupação com as
obras sociais, de que se destaca o ancianato
nas instalações do templo. No Padre Alexandre falava mais alto a acção do
que a pregação. Acudia-me sempre à memória o velho aforismo oriental que diz
assim: “Mais importante que amaldiçoar as trevas é acender uma candeia no meio
da escuridão”. Neste âmbito, sempre lhe admirei a forma como se referia à sua segunda pátria-mãe, a
Venezuela, mesmo em épocas controversas, justamente a transição entre os
regimes de Rafael Caldeira e a eleição de Hugo Chaves. Olhava os destinos do
‘seu’ país com esperança e optimismo. E, apesar das mesmas nuvens negras que
cobrem actualmente aquele país, não se esbateu de vez um lampejo de melhores
dias.
Em
nota de roda-pé, surpreenderam-me alguns imprevistos da cerimónia, entre os
quais ver o presidente do GR subir os degraus do altar, dirigir-se ao ambão da
liturgia didáctica e aí usar da palavra diante de toda a assembleia cristã.
Confesso que só uma vez presenciei tal cena na inauguração de uma igreja na
Madeira, na década de 90 do século passado.
O
mesmo pendor de aproveitamento político reflectiram-no as reportagens da
imprensa regional, em que 90% dos textos transcrevem o discurso político,
ficando na penumbra dos bastidores a mensagem sentida do Padre Alexandre, um
testemunho de humanismo e espiritualidade, magnificamente expresso no
simbolismo da estola que trazia aos ombros. Mais especioso, para não dizer
mórbido, foi aquele mísero apetite de encontrar quezílias e arrufos nas cadeiras
vazias entre ‘personalidades’ presentes. Não são apenas os jornalistas que
temos, são os jornais que a ilha fabrica…
Grande,
impoluto e limpo de ideais – assim ficará sempre o Padre Alexandre Mendonça,
tal como ontem no 30º aniversário da sua Ordenação Sacerdotal. GRACIAS!
17.Jul.18
Martins Júnior
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