Na
conjugação dos dias, como na constelação das cores, o contraste assenta bem e
ajuda à plena compreensão do todo. É na crista da onda contrastante que vou
atravessar a passagem de nível entre o último ímpar de Julho e primeiro ímpar
de Agosto.
Por
hoje, quem quiser acompanhar-me no salto inter-mensual debruçar-se-á sobre a multiforme paisagem estival, em que tudo é cor, é chama e é vida. Tudo é verde e rubro, tudo quente e amor que até “arde sem se
ver”. Todas as praias são douradas e todas as baías são azuis. O corpo queima -
mas a alma, essa solta-se de rompante, voa mais alto e nidifica lá onde a leva o sonho maior.
Quando a mãe-natura não consegue dar-lhe do seio original o leite inspirador,
há quem procure nas volutas inebriantes das fracções do ópio anónimo o GPS
delirante de nirvanas por achar. E tudo é festa, apoteose, triunfo total.
A
mesma tonalidade despregada e os mesmos acordes de arraial enchem os adros e os
templos: o ze-povo pica e salta para o ar, a alma reza ajoelhada e as mesmas
volutas de incenso oriental embalam os corações sensíveis, alguns talvez em
místicos espasmos. A Igreja portuguesa, essa então neste verão transcende o povo básico e
veste-se de gala, põe barrete escarlate na testa e anel no dedo. E lá vai ela,
airosa e principesca, rasgando bênçãos arrancadas
ao báculo de outo breve. É alegria, apoteose e festa, é o triunfo erguido aos
céus.
Pronto.
E aí temos a aguarela apolínea entre Julho e Agosto!
Mas
falta-lhe o contraste. Está naquela notícia seca do jornal Le
Monde: “No México, 24 padres assassinados ‘pela’ droga”.
O
quadro aí está pintado a duas ou quatro mãos. Entende-se o que é droga,
percebe-se a paranóia ‘bacana’ dos rasgos arraialescos, vê-se a opulência das
dignidades sacras e subentende-se o que significa ser assassinado. Falta saber
e interpretar as comas que ornamentam a preposição e artigo ‘pela’. Mas deixemos
para amanhã, que é também dia ímpar.
31-Jul.18
Martins Júnior
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