sábado, 7 de julho de 2018

HERÓI ANÓNIMO DENTRO DA PRÓPRIA CASA!


                                                   
         
Amar e não ser amado. Falar e não ser ouvido. Servir e não ser servido – eis o Acto Único da grande Comédia Humana. É neste cenário central que gravitam os comediantes e figurantes de cujo elenco fazemos parte. O mais fulgurante protagonista da História não se lhe escapou, tendo um dos seus mais próximos biógrafos constatado numa lacónica expressão o drama existencial que é o de “viver com os seus e nem pelos seus ser reconhecido”. (Jo.1,11).
         Por mais estranho que pareça, é deste paradoxo que hoje e amanhã se fala em todo o mundo. Sábado e Domingo trarão o episódio em que o Mestre e Taumaturgo benemérito da Galileia, vencido pelos lobbys do poder, do dinheiro e da opinião pública da sua cidade, reagiu com este amargo desabafo: “Ninguém é profeta na sua terra”. (Mt.13, 57).
         Crescer, subir, transpor – e tudo quanto signifique alcançar o mastro alto de uma vida – são os anseios inatos do ser humano desde que põe o pé em terra sua. E quando os braços crescem além da manta que o cobre, quando as léguas de cada passada já não cabem no estreito carreiro onde caminha, enfim, quando o terro é escasso e o sonho gigante, então forçoso é “lançar o arco de uma nova ponte”, como disse e fez um ilhéu do tamanho do mundo, Antero de Quental. Abrem-se clareiras, novos mundos “por mares nunca dantes navegados”. E. a partir daí, os seus já o reconhecem, prestam-lhe homenagens, erguem-lhe bronzes e mausoléus. Desses, mesmo vivos, dizem justamente que são os tais “que da lei da morte se vão libertando” .
         É numerosa a romagem dos laureados: políticos rejeitados  que desaparecem para, mais tarde, voltarem como desejados; atletas, economistas, actores, universitários, migrantes do saber e do ter, todos ganham troféus, tantas quantas as milhas que os separam do cais que os viu partir. Fica mais pobre a casa materna, desertas as planícies e os vales da sua infância e a soledade cobre o rosto antigo do torrão natal –factura rota  de clangorosas batalhas ganhas noutras paragens. Honra ao mérito!
         “Ninguém é profeta na sua terra”!
         Mas eu recuso-me a aceitar tamanha injustiça e canto em tom maior o solene  panegírico a todos os que ficaram no seu tugúrio humilde ou na sua oficina, no seu laboratório, junto dos seus, nos consultórios, na enfermaria do hospital, na eminente quanto padecente sala de aulas, em casa, na rua, no campo ou na cidade, construindo a sua pátria, enobrecendo silenciosamente a bandeira-espírito do seu povo!
         Sem saber até onde chegará o eco do meu pregão, convoco a sociedade residente – e resistente! – a não deixar que matem os que semeiam a vida no seu próprio seio. Convoco as entidades públicas (as políticas, muito concretamente) as imprensas e toda a comunicação social a que não marginalizem os seus concidadãos, ainda que não consonantes com os seus ditames, antes façam produzir sempre mais aqueles que, podendo ser maiores noutro terreno, decidiram não abandonar os companheiros de jornada no grande curso da vida
Em cada um de nós um Profeta, um Pedagogo, um Construtor do seu país, da sua ilha, da sua aldeia!

07.Jul.18
Martins Júnior     

Sem comentários:

Enviar um comentário