Amar
e não ser amado. Falar e não ser ouvido. Servir e não ser servido – eis o Acto
Único da grande Comédia Humana. É neste cenário central que gravitam os
comediantes e figurantes de cujo elenco fazemos parte. O mais fulgurante
protagonista da História não se lhe escapou, tendo um dos seus mais próximos
biógrafos constatado numa lacónica expressão o drama existencial que é o de “viver
com os seus e nem pelos seus ser reconhecido”. (Jo.1,11).
Por mais estranho que pareça, é deste
paradoxo que hoje e amanhã se fala em todo o mundo. Sábado e Domingo trarão o
episódio em que o Mestre e Taumaturgo benemérito da Galileia, vencido pelos lobbys do poder, do dinheiro e da opinião
pública da sua cidade, reagiu com este amargo desabafo: “Ninguém é profeta na
sua terra”. (Mt.13, 57).
Crescer, subir, transpor – e tudo
quanto signifique alcançar o mastro alto de uma vida – são os anseios inatos do
ser humano desde que põe o pé em terra sua. E quando os braços crescem além da
manta que o cobre, quando as léguas de cada passada já não cabem no estreito
carreiro onde caminha, enfim, quando o terro é escasso e o sonho gigante, então
forçoso é “lançar o arco de uma nova ponte”, como disse e fez um ilhéu do
tamanho do mundo, Antero de Quental. Abrem-se clareiras, novos mundos “por
mares nunca dantes navegados”. E. a partir daí, os seus já o reconhecem, prestam-lhe
homenagens, erguem-lhe bronzes e mausoléus. Desses, mesmo vivos, dizem justamente
que são os tais “que da lei da morte se vão libertando” .
É numerosa a romagem dos laureados:
políticos rejeitados que desaparecem
para, mais tarde, voltarem como desejados; atletas, economistas, actores,
universitários, migrantes do saber e do ter, todos ganham troféus, tantas
quantas as milhas que os separam do cais que os viu partir. Fica mais pobre a
casa materna, desertas as planícies e os vales da sua infância e a soledade
cobre o rosto antigo do torrão natal –factura rota de clangorosas batalhas ganhas noutras
paragens. Honra ao mérito!
“Ninguém é profeta na sua terra”!
Mas eu recuso-me a aceitar tamanha injustiça
e canto em tom maior o solene panegírico
a todos os que ficaram no seu tugúrio humilde ou na sua oficina, no seu
laboratório, junto dos seus, nos consultórios, na enfermaria do hospital, na
eminente quanto padecente sala de aulas, em casa, na rua, no campo ou na
cidade, construindo a sua pátria, enobrecendo silenciosamente a
bandeira-espírito do seu povo!
Sem saber até onde chegará o eco do meu
pregão, convoco a sociedade residente – e resistente! – a não deixar que matem
os que semeiam a vida no seu próprio seio. Convoco as entidades públicas (as
políticas, muito concretamente) as imprensas e toda a comunicação social a que
não marginalizem os seus concidadãos, ainda que não consonantes com os seus
ditames, antes façam produzir sempre mais aqueles que, podendo ser maiores
noutro terreno, decidiram não abandonar os companheiros de jornada no grande
curso da vida
Em
cada um de nós um Profeta, um Pedagogo, um Construtor do seu país, da sua ilha,
da sua aldeia!
07.Jul.18
Martins Júnior
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